Estudantes comemoram como vitória recuo de Bolsonaro em visitar universidade

    Presidente teria agenda no Mackenzie, em SP, mas cancelou ida ao espaço, palco de protestos pela sua presença, sem explicar motivo; ‘queríamos dar o nosso recado a ele’, diz manifestante

    Estudantes protestam dentro do Mackenzie contra a visita de Bolsonaro | Foto: Mateus Weber

    Um protesto de estudantes fez com que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) desistisse de visitar a universidade Mackenzie, no centro de São Paulo, nesta quarta-feira (27/3). Os manifestantes comemoraram a “vitória” com o recuo do capitão reformado do Exército, apontado por eles como intolerante aos movimentos estudantis.

    O grupo fez atos desde o início da manhã, por volta de 9h, e manteve as críticas no período da tarde – é esperado um terceiro movimento, às 18h. Ainda não há um posicionamento oficial do governo sobre o motivo de Bolsonaro suspender a agenda, mas a reitoria do Mackenzie confirmou às 10h23 o cancelamento.

    Às 16h10, porém, o presidente Jair Bolsonaro usou seu perfil pessoal no Twitter para confirmar reunião com pesquisadores do Mackenzie, mas no Comando Militar do Sudeste. O espaço fica localizado na região do Paraíso, próxima à Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) e ao Parque do Ibirapuera, e distante 4 km da Universidade Mackenzie.

     

    No início da manifestação, as críticas sobre a ida do presidente aconteceram dentro da universidade em frente ao prédio da faculdade de Direito. Esta ação foi feita apenas por alunos do Mackenzie. Já pela tarde, a movimentação era na Rua Maria Antônia, incluindo integrantes da UNE (União Nacional dos Estudantes) e UEE (União Estadual dos Estudantes) de São Paulo.

    O ato ocorreu em frente ao prédio da USP (Universidade de São Paulo), espaço de resistência contra a ditadura militar, que perdurou de 1964 a 1985. Eles entoavam gritos como “Bolsonaro, seu fascistinha, o Mackenzie vai botar você na linha” e ocuparam a rua com faixas e a realização de um jogral.

    Estudantes tomam prédio da USP na Rua Maria Antônia, local de resistência na época de ditadura militar | Foto: Mariana Ferrari/Ponte Jornalismo

    Do outro lado, na entrada da Rua da Consolação, um grupo de bolsonaristas se concentrou por volta de 13h. Eles vestiam camisetas com as cores verde e amarelo ou com o rosto do presidente. Houve um princípio de conflito, sem incidentes mais graves além de agressões verbais e um celular jogado no chão.

    “Vim para o ato das entidades e percebi que eles [bolsonaristas] não conseguem debater com ninguém, tudo que sabem fazer é usar da violência e do ódio. Jogaram meu celular no chão. Não intimida, como Marielle, vamos resistir”, afirma o estudante Gabriel Rodrigues dos Santos, 18 anos, que usava uma camiseta com a frase “A casa grande surta quando a senzala aprende a ler”. “Tudo para eles era o PT, foram homofóbicos, me agrediram umas cinco vezes… o Bolsonaro que pregava o uso da violência, sinal de arma. Me chamaram de macaco, Fora Dilma, tomar no cu. É o jeito escroto deles, mesmo”.

     

    Às 13:40 os estudantes que protestavam contra a visita de Bolsonaro dentro do campus saíram da universidade pela Rua Maria Antônia e ocuparam o prédio de mesmo nome, local onde aconteceu ataques dos militantes na época da ditadura que mataram um estudante ao lado da USP.

    A revolta do grupo estava direcionada aos posicionamentos do presidente quanto à educação. Em mais de uma vez, Bolsonaro sustentou que o país “gasta muito” com o setor e classificou anteriormente os movimentos estudantis como “ninhos de ratos”. “Queríamos que ele viesse, mesmo. Era para dar o nosso recado, mostrar nossas opiniões e é justamente por isso que ele não veio. Ele sabia que os estudantes estariam esperando para dizer o que a gente pensa do governo dele”, explica Nayara Souza, 23 anos, presidente da UEE (União Estadual dos Estudantes) de São Paulo.

    Nayara disse que estudantes queriam visita para ‘dar recado’ ao presidente | Foto: Mariana Ferrari/Ponte Jornalismo

    Para Nayara, a desistência é uma “vitória”. “Se ele tem medo de vir ouvir nossas opiniões, é porque estamos certos quando dizemos que ele não respeita a democracia e que ele, hoje, é o principal inimigo da educação”, emenda”.

    O mesmo sentimento é compartilhado por Fabrizzio Carvalho, 23 anos, presidente do DCE (Diretório Central dos Estudantes) do Mackenzie. “Soubemos da desistência no final do ato pela manhã e encaminhando para o horário do movimento de tarde. Recebemos pela reitoria e não podemos nem dizer que foi surpresa, estamos nos acostumando com um presidente que foge de debate, de um contato direto com quem não concorde com ele. Se você não concorda com o que ele fala, ele foge de você”, sustenta.

    Carvalho detalha que o movimento de reunir os alunos se baseou pelas redes sociais, mesma plataforma usada por Jair Bolsonaro ao informar a visita ao Mackenzie. “Foi interessante que todo muito meio que já sabia o que cada um ia fazer, até o Bolsonaro, por isso desistiu”, diz.

    Fabrizzio explicou que organização dos atos aconteceu nas redes sociais | Foto: Mariana Ferrari/Ponte Jornalismo

    Representantes da UNE detalharam as críticas ao presidente. “Ele, hoje, com o pacote de desmonte que tem apresentado para a educação do país, mostra que não tem responsabilidade nem interesse na universidade pública ou no próprio espaço da universidade que ajuda a desenvolver o país, a nação e, por várias vezes, ele colocar centros acadêmicos e uniões estudantis como “ninhos de ratos”, argumenta Keully Leal, 24 anos, diretora de Universidades Privadas da UNE.

    O DCE do Mackenzie publicou uma nota falando que “Bolsonaro arrega, mas a gente, não”. “Encaramos como uma vitória do movimento estudantil a desistência do Presidente que, por medo, cancelou o compromisso com a ciência e a tecnologia — um dos carros chefes de sua campanha — e o encontro com os estudantes”, se posicionou o grupo.

    Na nota, há um comunidade da reitoria da universidade dizendo que o reitor, Benedito Aguiar, oficializava o cancelamento da ida do presidente ao Mackenzie. No entanto, não explica o motivo.

    A Ponte solicitou à assessoria de imprensa da universidade posicionamento sobre a dia do presidente ao local e o motivo da desistência, mas não recebemos resposta até o momento. Também questionamos a assessoria de imprensa do Planalto sobre o motivo da desistência do encontro ocorrer na universidade, no entanto, nenhum posicionamento foi encaminhado.

    Keully Leal criticou falas de Bolsonaro ‘contra universidade pública’ e espaço de ensino como um todo | Foto: Mariana Ferrari/Ponte Jornalismo

    *Matéria atualizada às 16h15 para incluir a informação de que Bolsonaro fez um tweet sobre o encontro com pesquisadores do Mackenzie.

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