Laudo revela que disparo entrou pela parte de trás da cabeça, entre a nuca e a orelha direita. Gabriel tentava proteger a esposa grávida de quase oito meses, após policial militar puxá-la pelos cabelos, em Piracicaba (SP)
O tiro que matou o jovem Gabriel Junior Oliveira Alves da Silva, morto aos 22 anos pela Polícia Militar paulista (PM-SP) em Piracicaba (SP) na terça passada (1º/4), foi dado por trás. O disparo entrou entre a nuca e a orelha direita e saiu um pouco mais acima, também por trás da cabeça. A informação consta em um laudo concluído nesta terça (8/4) e obtido em primeira mão pela Ponte.
Os dois policiais envolvidos no caso alegaram legítima defesa. Eles estão afastados do trabalho nas ruas pela PM-SP. A Polícia Civil não pediu a prisão preventiva deles.
Gabriel foi morto pelo policial militar Júnior César Rodrigues. Na ocasião [veja vídeo acima], a vítima e a esposa, que está grávida de quase oito meses, voltavam para casa após terem ido a um comércio comprar refrigerante.
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O jovem caminhava um pouco à frente na Rua Cosmorama, perto da esquina com a Rua Raul Ataíde, no bairro Vila Sônia, quando foi abordado por Júnior e outro policial, Leonardo Machado Prudêncio, que chegaram ao local em uma viatura — a mulher de Gabriel tentava alcançar o marido também a pé, após ter parado brevemente para comprar milho cozido com um ambulante na rua.
PMs mantiveram grávida em camburão
Além do jovem, os policiais abordaram um outro rapaz que passava pelo local, alheio ao casal. Os dois homens foram colocados de frente para um muro e revistados, sob a alegação de que teriam um “volume suspeito”. Não foi apreendida arma de fogo ou qualquer item ilícito com a vítima.
Em dado momento, Júnior passou a agredir Gabriel. A esposa da vítima, já mais perto da cena, repreendeu o policial e afirmou que aquilo não era necessário. Leonardo puxou ela então pelo cabelo e ordenou que ficasse quieta. Foi quando Gabriel se desvencilhou de Júnior para tentar protegê-la e, ao correr em direção a ela, acabou baleado — a cena foi filmada em parte por vizinhos.
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Os dois policiais alegam que Gabriel teria pego uma pedra para atacá-los e que o tiro teria sido dado em legítima defesa. A esposa da vítima nega que ele tivesse com qualquer coisa em mãos e afirma ainda que foi mantida dentro do camburão da viatura enquanto o marido agonizava sangrando no chão. Além da mulher grávida, o jovem deixa outros dois filhos pequenos do casal.
Moradores veem intimidação da PM
Desde a morte de Gabriel, viaturas da PM, incluindo da Força Tática e do Baep, tem circulado com maior frequência pela Vila Sônia, no que a vizinhança vê como uma tentativa de intimidação.
No último domigo (6/4), familiares e vizinhos do bairro fizeram um protesto em Piracicaba pedindo por justiça por Gabriel. Eles também penduraram faixas na esquina em que o jovem foi morto. Na ocasião, policiais foram filmados circulando com viaturas em meio ao ato.
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Os moradores relataram que os policiais teriam, inclusive, retirado parte das faixas colocadas no local. Teriam dito ainda que, se fosse recolocadas, voltariam para retirá-las mais uma vez. A vizinhança tem mantido, ainda assim, os cartazes com pedidos por justiça.
SSP-SP diz que afastou policiais
Na semana passada, a Secretaria da Segurança Pública (SSP-SP) divulgou ter afastado os dois policiais. O caso é investigado pela própria PM, por meio de um Inquérito Policial Militar (IPM), e pela Polícia Civil, em um inquérito policial conduzido pela 3ª Delegacia de Homicídios do Deic do Deinter 9.
A Ponte questionou a assessoria de imprensa da SSP-SP se as condutas de Júnior e Leonardo fugiram aos protocolos da PM-SP e se a Polícia Civil pretende pedir a prisão preventiva de ambos. Em nota, a pasta reforçou que o caso é investigado e que não compactua com “desvios de conduta ou excessos”.
Leia a íntegra do que diz a SSP-SP
A Polícia Militar não compactua com desvios de conduta ou excessos por parte de seus agentes, punindo com rigor todas as ocorrências dessa natureza. Dois policiais envolvidos na ação já foram afastados de suas funções, e todas as circunstâncias relacionadas aos fatos estão sendo apuradas por meio de um Inquérito Policial Militar (IPM). O caso também é investigado pela 3ª Delegacia de Homicídios da Deic, do Deinter 9.