Apesar das imagens de câmeras de segurança, PMs disseram ter atirado em rapaz preso ao sair de lixeira quando ele tentou pegar arma de militar; em outra morte, policiais afirmaram que jovem jogado de telhado atirou contra eles
O DHPP (Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa), da Polícia Civil, concluiu nesta segunda-feira (05/10) o inquérito policial sobre os homicídios de Paulo Henrique Porto de Oliveira, 18 anos, e Fernando Henrique da Silva, 23, mortos a tiros após terem sido presos por policiais militares, na tarde de 7 de setembro, no bairro do Butantã (zona oeste de São Paulo).
Na conclusão do inquérito, o DHPP pediu à Justiça a decretação da prisão preventiva (até o julgamento) de cinco dos 11 policiais militares envolvidos direta ou indiretamente nas mortes de Oliveira e de Silva e que estão presos temporariamente _por 30 dias_ desde a revelação de imagens das capturas e mortes dos dois homens.
Para os investigadores do DHPP, os PMs Tyson Oliveira Bastiane, 26 anos, e Silvano Clayton dos Reis, 31, devem permanecer presos até o julgamento porque ambos atiraram contra Oliveira quando ele estava rendido, desarmado e deitado no chão, sem oferecer resistência à prisão.
O terceiro PM com pedido de prisão preventiva é Silvio André Conceição. De acordo com a investigação, Conceição foi quem algemou Oliveira e depois o soltou, conforme imagens de câmeras de segurança da rua onde o crime aconteceu, para que Bastiane e Reis atirassem contra ele.
A soldado Mariani de Moraes Figueiredo, também flagrada pelas câmeras de segurança da rua onde Oliveira foi rendido ao dar apoio aos outros PMs para a detenção do rapaz, foi indiciada pelo homicídio, mas não teve a prisão preventiva pedida à Justiça pelo DHPP.
Mariani tem 25 anos de idade, é mãe de duas crianças (3 e 5 anos) e estava nas ruas havia apenas um mês e meio antes do caso em que seu companheiro de trabalho, o PM Silvio André Conceição, algemou e soltou Oliveira para que os militares Bastiane e Reis atirassem nele.
No entendimento dos investigadores do DHPP, a soldado não viu toda a cena da morte de Oliveira e não sabia o que seu parceiro de patrulhamento, o PM Conceição, fez. Era a primeira vez que os dois trabalhavam juntos nas ruas.
Na primeira vez que foram chamados para contar suas versões sobre a morte de Oliveira, os PMs Bastiane e Reis decidiram permanecer em silêncio. Disseram que só pretendiam falar em juízo sobre a morte.
Dias depois, a defesa dos dois PMs pediu para que eles fossem interrogados e Reis disse que atirou contra Oliveira porque o rapaz quis pegar a arma do PM Bastiane. Reis afirmou que Oliveira quis tomar a pistola de Bastiane quando ambos conversavam.
Ainda segundo Reis, Oliveira dizia que iria entregar onde seu amigo, Fernando Silva, estava escondido quando resolveu atacar o PM Bastiane. As imagens das câmeras de segurança não apontam nenhum indício de que Oliveira, cercado pelos dois PMs, tenha tentado reagir.
Em seu depoimento, o PM Conceição afirmou ter retirado as algemas de Oliveira para tentar descobrir se o rapaz tinha algum ferimento pelo corpo, já que ele estaria reclamando de dor. Para o DHPP, a versão do PM Conceição é fantasiosa e ele poderia ter feito qualquer pergunta ou olhado o corpo de Oliveira sem a necessidade de que as algemas fossem retiradas.
Sobre a arma que as câmeras de segurança também flagraram sendo colocada na mão de Oliveira pelo PM Reis, ele e Tyson disseram que se tratava de uma pistola que o rapaz e seu amigo haviam jogado na rodovia Raposo Tavares, quando tentavam escapar da perseguição policial.
Empurrado do telhado
Os PMs Flavio Lapiana de Lima e Fabio Gambale da Silva, ambos com 33 anos de idade e da 4ª Companhia do 16º Batalhão da PM, tiveram o pedido de prisão preventiva feito pelo DHPP à Justiça pela morte de Fernando Henrique da Silva. Os dois militares atiraram quatro vezes contra Silva depois de ele ter sido jogado do telhado de uma casa por Samuel Paes, PM da Rocam (Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas).
Assim como no caso da soldado Mariani, o PM Paes foi indiciado pela morte de Silva, mas não teve o pedido de prisão preventiva feito contra ele pelo DHPP.
Em seu interrogatório, o PM Paes disse que resolveu entregar Silva para os PMs que estavam no quintal da casa porque não tinha como descer com ele em segurança do telhado. O PM disse ter ficado com receio de que Silva tentasse o agarrar e ambos caíssem do telhado, que tinha 2,54 metros de altura, segundo o IC (Instituto de Criminalística), e não entre 8 e 10 metros, como divulgado anteriormente.
Os PMs Lapiana e Gambale disseram à Polícia Civil que Silva tentou atirar contra os dois, logo após ter sido jogado do telhado pelo PM Paes, e que revidaram acertando quatro tiros nele.
A investigação do DHPP também apontou que o corpo de Silva foi mexido enquanto a Polícia Técnico-Científica não havia chegado para a realização da perícia.
Uma médica do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) disse que encontrou Silva caído de bruços no quintal da casa onde tentava se esconder dos PMs. Já a perita Débora Barbosa Morf encontrou o corpo com as costas para o chão, rodeado de folhas de jornal.
Como o DHPP não pediu a decretação das prisões preventivas dos outros seis PMs investigados pelas mortes de Oliveira e Silva, deverão ser libertados nos próximos dias do Presídio Militar Romão Gomes os PMs tenente Ângelo Felipe Mancini, Paulo Eduardo de Almeida Hespanhol, motorista do carro do oficial Mancini, João Maria Bento Xavier, Jackson Silva Lima, Samuel Paes (que jogou Silva do telhado e foi indiciado) e Marini de Moraes Figueiredo.
Nos próximos dias, o Ministério Público irá se posicionar contra ou a favor do pedido do DHPP e o inquérito seguirá para o 5º Tribunal do Júri, que decidirá pela decretação das prisões preventivas ou não.