Gabriel Hoytil, morto com tiro no rosto enquanto comia, será enterrado neste sábado. “Não podemos deixar esse caso como está”, diz tia
O engraxate Gabriel Augusto Hoytil Araújo será enterrado no próximo sábado (23/10), no cemitério do Campo Grande, na zona sul da cidade de São Paulo. O jovem foi morto aos 19 anos no final da manhã desta quarta-feira (20/10) após ser atingido na cabeça por um tiro disparado por um policial civil, durante uma ação na comunidade Morro do Piolho. A família informa que até o momento ainda não teve acesso ao boletim de ocorrência e não foi procurada por nenhum órgão do Estado.
O caso está sendo investigado pela 1ª Delegacia do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). O clima entre os parentes de Gabriel é de muita tristeza e desolação da forma como tudo aconteceu com ele. “A minha irmã hoje está ciente de tudo que ocorreu, mas ainda está muito abalada. Toda vez que alguém comenta sobre o filho, ela cai no choro”, comenta a tia de Gabriel, Ana Lúcia Custódio da Silva. O sepultamento do jovem está previsto para este sábado (23/10), no Cemitério do Campo Grande, também zona sul de São Paulo.
Ela conta que a família chegou a tentar fazer um BO sobre o caso no 96º DP (Brooklin), mas foram informados por policiais da delegacia e por funcionários do Instituto Médico Legal de que não era necessário. Os parentes estão preocupados, pois até o momento não tiveram acesso a nenhum documento oficial, fora o certidão de óbito, que registre o que ocorreu com Gabriel.
“Quanto mais tempo passa, mais fácil fica para eles (Polícia Civil) que o caso caia no esquecimento. Ontem eu até tentei registrar uma ocorrência, mas a gente não sabia como proceder. Eu, particularmente, acho que não podemos deixar esse caso como está”, declarou Ana Lúcia.
A Rede de Apoio e Resistência Contra o Genocídio está dando suporte jurídico à familia e também acompanhando o caso junto à comunidade. A psicóloga e articuladora Marisa Feffermann esteve hoje conversando com moradores do local e afirmou que a brutalidade policial faz parte do dia a dia do local.
“Hoje mesmo tinha policiais circulando por aqui com arma fora do coldre”, conta Marisa. “Andando pela comunidade a gente percebe que esse não foi um caso isolado. O que aconteceu com o Gabriel explicita vários tipos de violações que ocorrem aqui. Estamos trabalhando junto aos moradores para mostrar que isso não é normal e que tem que ser mudado”, completa.
Amigos de Gabriel estão se organizando para fazer um ato lembrando a morte dele e em protesto contra a violência policial que ocorre há vários anos na região. A manifestação deve ocorrer na próxima semanacom participação da família do jovem assassinado.
O que diz a polícia
A Ponte procurou a Secretaria da Segurança Pública questionando a natureza da ação que resultou na morte de Gabriel e a identidade do policial que o matou, mas não teve resposta até a publicação desta reportagem.