Parentes, amigos e vizinhos se reuniram na zona sul da capital paulista para homenagear jovem que completaria 16 anos no último dia 31 de março; principais suspeitos da morte são sargento e ex-PM
Familiares, amigos e vizinhos de Guilherme da Silva Guedes se reuniram na tarde deste domingo (4/4) para prestar homenagem ao jovem que foi morto após ter desaparecido há dez meses. Os principais suspeitos de terem sequestrado e assassinado Guilherme são um sargento e um ex-soldado da PM, Adriano Fernandes de Campos e Gilberto Eric Rodrigues. O motivo do encontro, além de reforçar o pedido por justiça, foi uma maneira de lembrar o aniversário do garoto. Se estivesse vivo, Guilherme teria completado 16 anos no último dia 31 de março.
O encontro entre os parentes e amigos, que contou com apoio da Rede de Resistência e Proteção contra o Genocídio, ocorreu sob sol forte na Rua Rolando Curti, na Vila Clara, zona sul da capital paulista, em frente à casa da avó do menino, mesmo local em que ele foi sequestrado na madrugada de 14 de junho.
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De acordo com as investigações, ambos os homens, que atuavam na segurança de um galpão próximo à residência em que Guedes morava com sua avó, abordaram o adolescente no momento que caçavam pelas ruas os responsáveis por invadir minutos antes o imóvel da Sabesp cuja guarda era de responsabilidade da empresa do sargento, a Campos Forte Portarias Ltda. Tal local fica a poucos metros da residência da família. Após raptarem o menino, ele foi obrigado a entrar em um carro e levado até a Avenida Alda, no bairro Eldorado, também na zona sul, onde foi morto a tiros. Guedes não tinha envolvimento com a invasão ao galpão. A intenção da dupla era dar uma demonstração de poder no bairro, segundo a apuração feita pela polícia.
Preocupados e à procura do jovem durante todo domingo, seus familiares só souberam de sua morte na manhã da segunda-feira (15). Horas após, uma revolta acometeu a Vila Clara no que resultou em ônibus queimados e depredados, o que fez com que o caso chamasse atenção do poder público e a investigação sobre os culpados pelo assassinato tocada com rapidez. Câmaras de segurança e depoimentos levaram aos denunciados Campos e Rodrigues. Atualmente, Campos segue preso no Romão Gomes. O ex-PM Gilberto, considerado um matador, segue foragido.
Lembrança de aniversário
Enquanto colava cartazes com fotos do filho na parede da rua Rolando Curti, a cozinheira Joice da Silva Santos, 32, mãe de Guilherme, afirmou que o tempo só faz aumentar sua dor. “São os piores dez meses da minha vida. É como se fossem dez anos que estou sem ele”, disse. A mulher tem feito terapia junto à uma grupo de outras mães vítimas da violência policial, todas elas assistidas pela Rede de Proteção e Resistência contra o Genocídio.
Considerados por todos um garoto obediente e sorridente, a frase “menino de ouro” estava estampada em um banner, camisetas e nos cartazes confeccionados especialmente para a data.
Devido a grande circulação de motos de alta potência e os barulhos produzidos pelos escapamentos, além de carros que insistiam em passar em meio ao ato, os familiares decidiram bloquear a passagem de um trecho da Rua Rolando Curti, mas nada que atrapalhasse o trânsito da região, já que era possível acessar o local por outras travessas.
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“O Guilherme foi julgado, condenado e executado por uma coisa que ele não cometeu. Eu não posso mais mandar um neto meu ir num bar comprar coxinha, porque eu não sei se ele vai voltar”, disse o motoboy Edson Amorim, 57 anos, tio-avô do menino. Guilherme havia deixado sua casa para comprar um salgado.
Pouco antes das 17 horas, um grupo resolveu deixar o local e passar por ruas próximas segurando os cartazes. Além da Rolando Curti, se locomoveram pela Estrada Antiga do Mar e Álvares Fagundes. Mesmo diante da segunda onda da pandemia do coronavírus, que já matou mais de 300 mil pessoas no país, o uso de máscaras acabou por ser um artigo de luxo no protesto, com poucas pessoas fazendo seu uso corretamente.