Feministas organizam boicote a churrascaria que fez piada com feminicídio

    Restaurante de Presidente Prudente (SP) publicou piadas com as mortes de Eliza Samudio e Isabella Nardoni e com a fome na África. Além de boicote, organizações afirmam que vão acionar Ministério Público contra o estabelecimento

    Mensagens publicadas no Instagram da churrascaria | Foto: Reprodução

    Grupos feministas estão organizando um boicote ao restaurante Primata Parrilla, que fica em Presidente Prudente (SP), após a conta de Instagram do estabelecimento publicar imagens de uma lousa com mensagens que fazem alusão a racismo e violência contra a mulher. 

    Em diferentes publicações, são feitos comentários sobre o caso Eliza Samudio e o caso Isabella Nardoni, por exemplo, além de uma imagem satirizando a fome na África. Em uma das mensagens é dito “O cão é o melhor amigo do homem, [assinado] goleiro Bruno”, em outra, “Filho a gente não cria para nós. Cria para jogar no mundo, [assinado] Alexandre Nardoni”.

    As publicações geraram revolta nas redes sociais, com grupos feministas propondo um boicote ao restaurante. De acordo com a advogada Aline Escarelli, da Frente pela Vida das Mulheres de Presidente Prudente, o grupo está fazendo uma ação de conscientização e procurando clientes do estabelecimento que defenderam a atitude do local para dialogar e explicar os motivos pelos quais as “piadas” não eram brincadeira. “Isso ofende e tem relação com essa cultura de violência de gênero, com o feminicídio”, diz.

    O grupo também irá acionar o Ministério Público. “Aí vai ficar na mão deles a questão de ter uma punição. Individualmente, eu sei que teve uma ação de um cliente que entrou com danos morais e ganhou. Um estabelecimento comercial tem que cumprir o dever social da empresa. Quando eles agem incitando o ódio, isso não é feito”, afirma a advogada, também lembrando que ofender a memória de pessoas que já morreram pode acarretar em uma indenização às famílias que se sentirem ofendidas.

    De acordo com o gerente do restaurante, que se identificou como Daniel Arena Carion e afirmou cuidar do marketing da empresa, as frases escritas na lousa são apenas piadas e não têm a intenção de incitar o crime. “O que acontece é que a gente tem uma placa que a gente posta uma frase tirando sarro de tudo toda semana. No nosso Instagram, a gente brinca de tudo o tempo todo. Aí as feministas tão achando que isso é feminicídio. Só que a nossa posição é que uma piada é só uma piada. Eu tenho esposa, duas filhas e mãe e eu não sou um otário. Não é discriminação. É uma piada, uma brincadeira”, afirma.

    “É um falso moralismo, mas estamos em uma democracia para isso. Todo mundo tem o direito de falar. Quer cancelar? Ok. Eu não me sinto incomodado por causa disso. Eu cansei de discutir”, afirma, dizendo que ele mesmo é negro e judeu e que sempre ouve piadas todos os dias. “Eu vou me incomodar? Com a piada, ou você ri ou acha sem graça. Se me falar que achou a piada sem graça, eu respeito sua opinião. Mas dizer que eu estou incitando o crime por causa de uma brincadeira acho desnecessário”, diz.

    De acordo com a advogada, a orientação do grupo de feministas que está encabeçando o boicote é para que as pessoas que se sentiram revoltadas com o caso jamais tenham uma reação violenta. “Nossa reação tem que ser legalista, com base no que temos na nossa norma e sempre com o entendimento sobre direitos humanos. As pessoas devem buscar o Procon e fazer uma denúncia. As pessoas que se sentirem individualmente afetadas podem entrar com uma ação de indenização”, orienta.

    Sobre os argumentos usados pelo gerente para defender a atitude do estabelecimento, ela diz que, se ele nunca se sentiu constrangido e ofendido com piadas feitas a respeito de sua cor e religião, essa é uma questão individual, mas que o assunto aqui é algo coletivo. “O uso da liberdade de expressão não pode usurpar outros direitos. Existe um equilíbrio de direitos. A liberdade de expressão não é absoluta. Ele ultrapassa isso quando age com sarcasmo e ironiza o morto. Tem o direito das famílias”, explica.

    “Para aqueles que ainda estão com dúvida se isso é ou não ofensivo, havia um momento em que piadas maliciosas contra raça, por exemplo, eram socialmente aceitas, mas chegou um momento em que ficou evidente que esse Brasil alegre e pacífico não se mostra tão alegre e pacífico”, afirma, lembrando que muitas pessoas chegam a sofrer com doenças psicológicas por serem constantemente alvo de piadas no ambiente escolar ou de trabalho, por exemplo.

    Correções

    Grupos feministas estão organizando um boicote ao restaurante Primata Parrilla, que fica em Presidente Prudente, após a conta de Instagram do estabelecimento aparecer com imagens de uma lousa com mensagens que fazem alusão à violência contra a mulher. 

     

    Em diferentes publicações, são feitos comentários sobre o Caso Eliza Samudio e o Caso Isabella Nardoni, por exemplo. Além de satirizar a fome na África. Em uma das mensagens é dito "O cão é o melhor amigo do homem, [assinado] goleiro Bruno" ou "Filho a gente não cria para nós. Cria para jogar no mundo, [assinado] Alexandre Nardoni".

     

    As publicações geraram revolta de muitas pessoas. Então, feministas passaram a propor um boicote ao restaurante. Além disso, existem outros tipos de iniciativas sendo tomadas. De acordo com a advogada Aline Escarelli, da Frente pela Vida das Mulheres de Presidente Prudente, o grupo está fazendo uma ação de conscientização e procurando clientes do estabelecimento que defenderam a atitude do local para dialogar e explicar os motivos pelos quais as “piadas” não eram brincadeira. “Isso ofende e tem relação com essa cultura de violência de gênero, com o feminicídio”, diz.

     

    O grupo também irá acionar o Ministério Público. “Aí vai ficar na mão deles a questão de ter uma punição. Individualmente, eu sei que teve uma ação de um cliente que entrou com danos morais e ganhou. Um estabelecimento comercial tem que cumprir o dever social da empresa. Quando eles agem incitando o ódio, isso não é feito”, afirma a advogada também lembrando que ofender a memória de pessoas que já morreram pode acarretar em uma indenização às famílias que se sentirem ofendidas.

     

    De acordo com o gerente do restaurante, que se identificou como Daniel Arena Carion e afirmou cuidar do marketing da empresa, as frases escritas na lousa são apenas piadas e não têm a intenção de incitar o crime. “O que acontece é que a gente tem uma placa que a gente posta uma frase tirando sarro de tudo toda semana. No nosso Instagram, a gente brinca de tudo o tempo todo. Aí as feministas tão achando que isso é feminicídio. Só que a nossa posição é que uma piada é só uma piada. Eu tenho esposa, duas filhas e mãe e eu não sou um otário. Não é discriminação. É uma piada, uma brincadeira”, afirma.

     

    “É um falso moralismo, mas estamos em uma democracia para isso. Todo mundo tem o direito de falar. Quer cancelar? Ok. Eu não me sinto incomodado por causa disso. Eu cansei de discutir”, afirma dizendo que ele mesmo é negro e judeu e que sempre ouve piadas todos os dias. “Eu vou me incomodar? Com a piada, ou você ri ou acha sem graça. Se me falar que achou a piada sem graça, eu respeito sua opinião. Mas dizer que eu estou incitando o crime por causa de uma brincadeira acho desnecessário”, diz.

     

    O gerente também afirmou que a opinião sobre os casos de feminicídio no Brasil é que “morrem muitas mulheres e que deve ser feito justiça”. Dizendo que seu movimento aumentou em 30% após as polêmicas nas redes sociais, ele afirma que muitos dos críticos estão ameaçando colocar fogo no local e que ele já fez um boletim de ocorrência em relação às ameaças. “Se você se sentiu lesada, invadida por causa de uma palavra, sua reação é colocar fogo no restaurante? Essa não é minha opinião. É uma brincadeira. Se a pessoa não gosta, se ela se incomoda, não vá. Eu não estou aqui para agradar todo mundo”, explica.

     

    De acordo com a advogada, a orientação do grupo de feministas que está encabeçando o boicote é para que as pessoas que se sentiram revoltadas com o caso jamais tenham uma reação violenta. “Nossa reação tem que ser legalista, com base no que temos na nossa norma e sempre com o entendimento sobre direitos humanos. As pessoas devem buscar o Procon e fazer uma denúncia. As pessoas que se sentirem individualmente afetadas podem entrar com uma ação de indenização”, orienta.

     

    Sobre os argumentos usados pelo gerente para defender a atitude do estabelecimento, ela diz que, se ele nunca se sentiu constrangido e ofendido com piadas feitas a respeito de sua cor e religião, essa é uma questão individual, mas que o assunto aqui é algo coletivo. “O uso da liberdade de expressão não pode usurpar outros direitos. Existe um equilíbrio de direitos. A liberdade de expressão não é absoluta. Ele ultrapassa isso quando age com sarcasmo e ironiza o morto. Tem o direito das famílias”, explica.

     

    “Para aqueles que ainda estão com dúvida se isso é ou não ofensivo, havia um momento em que piadas maliciosas contra raça, por exemplo, eram socialmente aceitas, mas chegou um momento em que ficou evidente que esse Brasil alegre e pacífico não se mostra tão alegre e pacífico”, afirma dizendo que muitas pessoas chegam a sofrer com doenças psicológicas por serem constantemente alvo de piadas no ambiente escolar ou de trabalho, por exemplo.

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