Em ato contra o Marco Temporal, policia atacou indígenas com bombas de gás; deputada federal Célia Xakriabá (PSOL/MG) foi atingida e manifestantes desmaiam após inalar gás
A marcha dos indígenas que estavam no Acampamento Terra Livre (ATL), nesta quinta-feira (10/4) em Brasília, foi marcada por violência. Ao chegarem ao Congresso Nacional, por volta das 19h, parte do grupo que se aproximava do prédio foi recebida com bombas de gás. À Ponte, testemunhas contaram que estavam cantando junto com a deputada Célia Xakriabá (PSOL/MG) quando foram surpreendidos pelo ataque. A ação envolveu o Departamento de Polícia Legislativa (DPOL) e a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF).
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“No meio do caminho, fomos atacados”, conta Lariza Gomes dos Santos, da etnia Xakriabá. “Não estávamos fazendo nada, apenas descendo e cantando”. De acordo com Lariza, a deputada Célia foi atingida pelo gás, mas conseguiu entrar no prédio do Congresso. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa da parlamentar.
Mais cedo, Célia esteve no Acampamento Terra Livre para participar de uma plenária sobre a COP 30. A parlamentar discursou ao lado da ministra dos Povos Indígenas Sonia Guajajara e de Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima.

Também da etnia Xakriabá, Elizania Gama de Oliveira, ainda relata que o ataque aconteceu quando uma repórter se aproximou da parlamentar e de seus parentes. “[A bomba] foi diretamente na deputada. Eu não sei como ela está, levaram ela para ser socorrida”. Elizania diz que nenhum manifestante estava ali para atacar, mas para reivindicar seus direitos ancestrais. “Eles vem e acham que a gente é qualquer coisa para eles poderem pisar. Querem roubar nossos direitos, querem fazer de nós um tapete, mesmo sabendo que tudo é nosso ”
Mais de dez pessoas precisaram de atendimento médico após desmaiarem. Mesmo durante o atendimento médico feito pelo Serviço Médico de Atendimento de Urgência (SAMU), pelo menos mais uma bomba foi atirada na direção dos manifestantes.
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Em nota, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) declarou repudio a ação policial. A marcha “A Resposta Somos Nós” faz parte da programação da 21ª do Acampamento Terra Livre. O grupo partiu a pé do acampamento, no Eixo Cultural Ibero-Americano, em direção à Esplanada dos Ministérios por volta das 17h.
A APIB nega que os manifestantes tenham agido com violência ou rompido qualquer barreira para chegar à Esplanada. “A APIB reforça o caráter pacífico e democrático da manifestação, que reuniu mais de 7 mil lideranças indígenas de diferentes povos de todo o país”, disse em nota.
O que dizem as autoridades
A Ponte procurou a Secretaria da Segurança Pública do Distrito Federal (SSP/DF) sobre o caso. Em nota, a pasta disse que ficou previsto antes do protesto o uso de gradis na esplanada dos ministérios. A reportagem também questionou o Congresso, mas não obteve retorno. Caso haja, o texto será atualizado.
Leia nota da APIB na íntegra
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) repudia de forma veemente os atos de violência do Congresso anti-indígena, cometidos pelo Departamento de Polícia Legislativa (DPOL) e pela Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) na tarde desta quinta-feira, 10, durante a marcha “A Resposta Somos Nós”, que faz parte da programação do Acampamento Terra Livre (ATL).
O Congresso, além de aprovar leis inconstitucionais, ataca os povos indígenas e seus próprios deputados. A deputada indígena Célia Xakriabá (PSOL) e várias pessoas ficaram feridas ao serem recebidas com bombas de gás de pimenta e efeito moral, no local que deveria ser a casa da democracia. Lamentamos o uso desnecessário de substâncias químicas contra os manifestantes, mulheres, idosos, crianças e lideranças tradicionais.
Temos evidências de que os atos fazem parte de um contexto de violência institucional disseminada contra os povos indígenas. Ontem, durante reunião convocada pela Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF), para tratar da organização da marcha do dia de hoje, um participante não-identificado proferiu manifestação de cunho racista e de incitação à violência: “deixa descer logo… deixa descer e mete o cacete se fizer bagunça”. Conforme registrado em gravação obtida por solicitação da APIB após a reunião, a fala foi proferida por um provável agente das forças de segurança.
Hoje, o acesso ao gramado do Congresso Nacional por parte dos manifestantes ocorreu de forma espontânea, sem qualquer ato de violência, depredação ou rompimento de barreira. A APIB reforça o caráter pacífico e democrático da manifestação, que reuniu mais de 7 mil lideranças indígenas de diferentes povos de todo o país.
A mobilização teve como objetivo a defesa de direitos constitucionais e o fortalecimento do diálogo com os Poderes da República. O Acampamento Terra Livre é realizado há mais de 20 anos na capital federal, sempre com forte organização, compromisso e respeito às instituições democráticas. Ao longo dessas mais de duas décadas, o movimento indígena sempre colaborou e continuará colaborando para garantir que o evento ocorra de forma tranquila e segura.