Frente de Luta por Moradia diz que suposta milícia teria lançado granada de efeito moral dentro de ocupação recém-montada no centro. PM-SP precisou isolar área para fazer implosão do artefato, mas não confirma circunstâncias do conflito

Uma ocupação da Frente de Luta por Moradia (FLM) feita em um antigo hotel no centro de São Paulo foi alvo de um ataque na noite desta segunda-feira (26/5). Um tiro foi disparado e uma granada de efeito moral foi lançada dentro do imóvel. O artefato tem uso restrito e controlado pelo Exército. O movimento social atribuiu a investida a uma suposta milícia que estaria atuando na região. Não houve feridos.
Aparentemente, a granada seria do modelo GL-304 da marca Condor. Trata-se de um produto controlado pelo Exército, nos termos do decreto 10.030/2019, e de acesso exclusivo às forças oficiais de segurança, como polícias e guardas municipais — em geral, ele é usado na repressão de protestos. O item apreendido tinha marcações raspadas.
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À Ponte, a Secretaria da Segurança Pública paulista (SSP-SP) não confirmou as circunstâncias do conflito ou a ação da alegada milícia. A pasta afirmou que, por volta das 19h, a Polícia Militar paulista (PM-SP) foi acionada para uma ocorrência no local com disparo de arma de fogo, ocasião em que teria se deparado com o que tratou como invasão de um imóvel. “Durante a averiguação, os agentes localizaram uma granada de efeito moral, não deflagrada”, escreveu ainda a SSP-SP.
A pasta não especificou sob posse de quem estava o explosivo de uso não letal, nem se houve prisão em função disso. A SSP-SP também não esclareceu se pôde fazer o rastreio da bomba. A Ponte procurou o Exército brasileiro e a Condor e também não obteve retorno. A fabricante afirma, em materiais de divulgação, que cada granada tem um chip que permite sua rastreabilidade mesmo após o uso.
PM-SP isolou área para implodir granada
A área em frente à ocupação precisou ser isolada pela PM-SP, que contou com agentes do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) para fazer a implosão da granada no local. O artefato estava em uma calçada em frente à ocupação, e não dentro dela. De acordo com a FLM, foram os próprios moradores que retiraram o explosivo do imóvel ocupado e o colocaram do lado de fora.
“Mesmo com a presença da polícia militar, os homens xingavam as famílias sem-teto e incitavam o ódio e preconceito contra quem luta por moradia e direitos”, escreveu a FLM em nota pública. “A intenção dos milicianos era ferir e até matar trabalhadores e trabalhadoras sem-teto”, acrescenta o texto.
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O imóvel ocupado é um pequeno prédio de dois andares na Rua General Osório, no bairro dos Campos Elíseos. A FLM chegou ao lugar há uma semana. Estão lá cerca de 50 pessoas de diferentes perfis, de crianças a idosos, que estavam até então em uma outra ocupação na cidade, da qual tinham previsão de serem retiradas em poucos dias em meio a um processo de reintegração de posse.
Grupo atuaria em favor de comerciantes
No domingo (25/5), a FLM estendeu bandeiras na fachada do imóvel que anunciavam a ocupação. No dia seguinte, policiais militares foram ao local pela manhã e no começo da tarde para tentar negociar uma saída dos moradores, ocasião em que não houve conflito algum, segundo o movimento social.
Já no começo da noite de segunda, houve o ataque da suposta milícia. A FLM suspeita que o grupo pelo qual foi ameaçada atue em favor de comerciantes da vizinhança e de pessoas que, anteriormente, usaram do imóvel para locações de curto período para usuários de drogas — o prédio está a cerca de 650 metros da Rua dos Protestantes, onde costuma estar a concentração do fluxo da Cracolândia.
A prefeitura de São Paulo havia emitido uma ordem de interdição do imóvel no último dia 25 de março, ocasião em que só não lacrou o espaço em razão de estar ocupado àquela altura — não pela FLM. Há risco estrutural no prédio, ainda segundo a gestão Ricardo Nunes (MDB).
Leia a íntegra do que diz a SSP-SP
A Polícia Militar foi acionada por volta das 19h00 de segunda-feira (26) para atender uma ocorrência de disparo de arma de fogo pela Rua General Osório, no centro da capital. No local, os policiais encontraram diversas pessoas em frente a um prédio que havia sido invadido. Durante a averiguação, os agentes localizaram uma granada de efeito moral, não deflagrada. O GATE foi acionado e realizou a implosão. Ninguém ficou ferido. A ocorrência foi apresentada no 2º DP.
Leia a íntegra do que diz a prefeitura de São Paulo
A Subprefeitura Sé informa que vistoriou em 25 de março deste ano o imóvel mencionado e emitiu um auto de interdição que determinava a desocupação do imóvel devido ao risco estrutural. O prédio particular, entretanto, não foi lacrado porque estava ocupado, o que impede legalmente o procedimento. No dia 26 de maio, em uma ação de fiscalização, foi lavrado um auto e aplicação de multa por não atendimento das medidas necessárias para a correção das irregularidades apontadas.