Centenas de pessoas passaram pelo ato diante da representação diplomática espanhola pedindo punição aos agressores do jogador
Um ato em apoio ao jogador brasileiro Vinícius Jr ocorreu em frente ao Consulado Geral da Espanha em São Paulo nesta terça-feira (23/5). Organizado por movimentos negros e com a participação de partidos políticos de esquerda, o protesto foi marcado por falas em repúdio a La Liga (organizadora do campeonato espanhol) e em defesa do atacante do Real Madrid. O grupo pediu punição aos agressores do atleta.
Sinalizadores foram usados em uma das performances dos organizadores. Uma nuvem rosa cobriu o portão do consulado, que também foi “enfeitado” com faixas dos movimentos negros.
Ainda na concentração do ato, seguranças da embaixada solicitaram a retirada da faixa da União de Negras e Negros pela Igualdade (Unegro) e do Partido Verde (PV) instaladas logo que os representantes de ambas organizações chegaram ao local. A Polícia Militar, que acompanhou o evento com pelo menos três viaturas, tentou intervir a favor das autoridades espanholas.
André Alexandre, presidente do Unegro, disse à Ponte que a solicitação partiu do consulado e que a Polícia Militar apenas orientou. Quando dezenas de manifestantes ocuparam a fachada e recolocavam as faixas, houve um novo momento de tensão.
A confusão não durou muito, mas foi suficiente para elevar a temperatura e após a negativa de retirada por parte dos manifestantes, não foi possível ver mais nenhum representante ou segurança do consulado. A ação acabou virando também uma resposta às autoridades espanholas que atuam no consulado.
Munidos de sinalizadores rosa, os manifestantes gritavam em coro “fogo nos racistas”. Frases como “Não é futebol, é racismo” e “La Liga racista” foram projetadas na fachada do consulado. Cartazes espalhados entre os manifestantes também repetiam os dizeres. As principais demandas dos manifestantes foram o posicionamento dos patrocinadores da La Liga, entre eles empresas que atuam no Brasil.
Segundo a Polícia Militar, 200 pessoas estiveram na manifestação, considerando a concentração e o momento da intervenção, quando houve um pico.
“Qual a cor do Vinicius Jr?”
O atacante do Real Madrid é alvo constante de racismo por parte de torcedores de clubes rivais. O caso mais recente, e que gerou repúdio mundial, ocorreu no domingo (21/5). A situação ocorreu em jogo do clube de Vini Jr contra o Valencia. Vídeos da partida mostram torcedores imitando macacos e entoando cânticos racistas.
Ao fim do jogo, Vini ainda foi expulso após se envolver em uma confusão. Durante a discussão ainda em campo, ele levou um mata-leão do atacante Hugo Duro.
“Eles costumam dizer que é fato isolado, mas não é fato isolado. A partir do momento que oprimem, ofendem o nosso povo deixa de ser isolado”, afirmou André Alexandre, presidente da Unegro estadual em entrevista à Ponte minutos antes do ato começar.
“Nós temos o Rei Pelé. Maior jogador do mundo, reverenciado no mundo inteiro. Qual é a cor do Rei Pelé? Qual a cor do Vinicius Jr? Só por aí mostra que há algum problema mental em boa parte dos torcedores espanhóis”, disse José Adão De Oliveira, co-fundador do Movimento Negro Unificado (MNU).
Adão criticou também as falas do presidente da La Liga Javier Tebas e defendeu que não há como separar o futebol do racismo. “Chegou o momento de dizer basta. As entendidas esportivas da Espanha, o governo espanhol de não ser coniventes com o racismo”, completa Adão.
Elaine Mineiro, co-vereadora do Quilombo Periférico (PSOL), corrobora com a análise de Adão. “O que pode acabar com atitudes racistas é ter punição. Responsabilizar aquelas pessoas que estão cometendo aquele tipo de atitude. Sem punição, sem que o Estado dê o exemplo para outras pessoas que agirem daquela maneira, nada disso vai mudar”, disse.
Outro lado
A Ponte procurou o consulado espanhol para perguntar sobre a tentativa de retirada das faixas dos manifestantes e não teve resposta até a publicação desta reportagem. Assim que houver manifestação, será publicada neste espaço.