Garoto autista é agredido por tenente em festa no interior de SP

    Agressor deu um soco no peito do rapaz por ciúmes. Mesmo sem ter identificado militar, delegado afirmou à família que o tenente é do Exército e não da PM

    Festa ocorria na noite do dia 30 de novembro de 2016 na praça Beira Rio, em Registro (SP), em comemoração ao aniversário da cidade - Foto: Divulgação/Prefeitura
    Festa ocorria na noite do dia 30 de novembro de 2016 na praça Beira Rio, em Registro (SP), em comemoração ao aniversário da cidade – Foto: Divulgação/Prefeitura

    Um rapaz autista de 18 anos foi agredido por um homem que se identificou como tenente durante um show numa praça pública da cidade de Registro, a 180 km da capital, São Paulo, no dia 30 de novembro deste ano. A agressão ocorreu porque o jovem, Victor Hugo de Freitas, teria “olhado” a esposa do militar.

    De acordo com a Polícia Civil, a família do jovem foi ao Distrito Policial de Registro registrar o Boletim de Ocorrência no dia seguinte. Victor Hugo estava dançando na praça Beira Rio com a mãe e a irmã pouco antes do cantor Lenine se apresentar, por volta das 21h30. Foi quando o homem que se identificou com tenente Nascimento passou de mãos dadas com a mulher, que se identificou apenas como advogada.

    Sem conversar, Nascimento golpeou Victor Hugo com um soco no peito. Ele afirmou que o fez porque o jovem estava “olhando” para sua mulher. À reportagem da Ponte Jornalismo, a irmã do jovem, Ingrid Laís de Freitas, de 20 anos, afirmou que, depois disso, várias pessoas que estavam ao redor tentaram afastar o militar do jovem, afirmando que o rapaz era “especial”.

    “Registro é uma cidade pequena. Todo mundo sabe que o Victor é especial”, disse. Assim que foram informados, o militar e a advogada se recusaram a pedir desculpas. “Eles afirmaram que ninguém é obrigado a saber que o menino é especial e falaram que ele devia usar uma camiseta de identificação, com a frase ‘pessoa autista’ no peito ou nas costas”, afirmou a irmã à Ponte.

    Victor Hugo faz tratamento na Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais). De acordo com a família, após a agressão, o estado de saúde do jovem piorou - Foto: Arquivo Pessoal
    Victor Hugo faz tratamento na Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais). De acordo com a família, após a agressão, o estado de saúde do jovem piorou – Foto: Arquivo Pessoal

    Após a agressão, todos acharam que Victor havia sido agredido por um policial. No entanto, Ingrid afirma que, no dia seguinte, quando foi à delegacia registrar o BO, foi informada pelo delegado Marcelo Ferreira da Cruz que o militar é do Exército. No boletim, ao qual a reportagem da Ponte teve acesso, o militar está identificado apenas como Nascimento.

    A reportagem ligou para o DP de Registro, mas não conseguiu conversar com o delegado para que ele pudesse esclarecer como sabe que o tenente é do Exército. A reportagem também questionou a SSP (Secretaria da Segurança Pública) sobre como o delegado poderia saber que o agressor é do Exército sem que ele tenha sido identificado. Até a publicação da reportagem, a pasta não se pronunciou.

    Na manhã desta terça-feira (6), a SSP afirmou que o delegado informou que não confirmou a identificação para a família. Em nota, a pasta diz que a “Delegacia de Defesa da Mulher de Registro instaurou inquérito policial para apurar o caso citado. Um tenente do exército da Junta Militar de Registro foi identificado como autor da agressão e prestará esclarecimento na delegacia, juntamente com sua mulher, ainda esta semana.”

    Victor Hugo faz tratamento na Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais). De acordo com a família, após a agressão, o estado de saúde do jovem piorou. “A gente até estranhou ele não ter reagido na hora, porque normalmente ele reagiria. Na hora, ele só quis ir para casa, por isso fomos à delegacia no dia seguinte”, diz a irmã.

    Nesta segunda-feira (5), a família se reuniu com defensores públicos para saber quais medidas podem tomar. “Por enquanto, afirmaram que vão recolher os depoimentos das testemunhas e encaminhar aos órgãos competentes”, disse Ingrid.

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