Ação na gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB) repete roteiro contra pessoas em situação de rua nos governos de João Doria (PSDB) e Fernando Haddad (PT)
A GCM (Guarda Civil Metropolitana) retirou cobertores de pessoas em situação de rua e dependentes químicos na manhã de terça-feira (10/7) durante ação de zeladoria na Rua Hevéltia, região conhecida como Cracolândia, no centro de São Paulo. A denúncia foi feita por membros da Pastoral do Povo da Rua, que acompanharam a ação.
Com os termômetros batendo os 12 ºC, a apreensão dos pertences teria acontecido por volta das 9h, enquanto as pessoas eram retiradas para a limpeza do local feita pela prefeitura. Esta ação é rotineira e acontece três vezes por dia. “Essas ações estão acontecendo com frequência e os GCMs agem com truculência. É uma forma de fazer essas pessoas cansarem e saírem dali”, denuncia Padre Julio Lancelotti, que integra a Pastoral.
A retirada de pertences de moradores de rua é vedada pela portaria intersecretarial de maio de 2017, reeditada após críticas a um decreto de 21 de janeiro do ano passado pelo então prefeito João Doria, que abria brecha para que os guardas apreendessem esses bens. Porém, é feita desde a gestão Fernando Haddad (PT), conforme denunciado pela Ponte.
Em março deste ano, a TV Globo flagrou um morador de rua que estava na alameda Cleveland receber um forte jato d’água durante uma ação de zeladoria da prefeitura. As limpezas acontecem para coibir a construção de barracas que venham a ser montadas para o tráfico de drogas.
De acordo com Lancelotti, a atuação da GCM tem se tornado mais violenta após a entrega de conjuntos habitacionais na região. “Quando tentamos filmar ou fotografar alguma ação, eles não deixam, já tentam pegar o celular”, aponta o padre.
Às vésperas da inauguração do Complexo Júlio Prestes, em março, entidades que atuam na área denunciaram à Ponte que os guardas civis estavam utilizando bombas de gás e balas de borracha para dispersar o “fluxo” de dependentes químicos. No mesmo dia em que o complexo foi entregue, houve ação repressiva da GCM no local e, segundo o inspetor Marcos Ferreira ao jornal Estado de S. Paulo, houve confusão após a prisão de um traficante na alameda Cleveland, em frente à Estação Júlio Prestes.
A PPP (Parceria Público-Privada) do centro, iniciativa do governo do Estado que conta com doações de terrenos pela Prefeitura, pretende construir 3.683 moradias com o argumento de atender a população local e revitalizar o entorno. Fechada em 2014, a parceria não tem prazos para entregar as moradias.
A Ponte solicitou posicionamento da Secretaria de Segurança Urbana, que explicou em nota enviada às 15h16 desta quarta-feira (11/7) que os trabalhos de zeladoria são feitos apoiando os agentes da Prefeitura, mas que “não há retirada de pertences” nas ações da GCM. “Inclusive, a GCM participa da Operação de Contingência para Baixas Temperaturas realizando a distribuição de cobertores aos moradores em situação de rua em todas as regiões da cidade. Só na área central, a GCM distribuiu 1.350 cobertores neste ano”, sustenta a pasta.
Ainda na nota, informa que a guarda atua contra o comércio de drogas e, por isso, retira tendas”. “Com objetivo de coibir o tráfico, a GCM não permite a montagem de tendas no local, bem como atua em apreensões quando há flagrantes. Entre maio de 2017 e junho de 2018, a GCM apreendeu mais de 18Kg de crack, 15 Kg de cocaína e 8 Kg de maconha, além de encaminhar 255 pessoas por tráfico e roubo ao DP da região; e identificar 14 foragidos que foram capturados”, prossegue a nota da secretaria.