José Márcio Felício, o Geleião, estava internado no Centro Hospitalar do Sistema Penitenciário em SP desde 9 de abril; excluído do PCC após fazer delação premiada, a cabeça do último fundador vivo da facção era considerada um “troféu”
José Márcio Felício, o Geleião, único fundador vivo do PCC (Primeiro Comando da Capital), morreu nesta segunda-feira (10/5) após complicações em decorrência da Covid-19. De acordo com a SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) de São Paulo, Geleião morreu por volta das 6h30 no no Centro Hospitalar do Sistema Penitenciário, onde estava internado deste 9 de abril deste ano e antes estava alocado na Penitenciária de Iaras, no interior paulista.
Segundo a pasta, foi registrado boletim de ocorrência e os familiares já foram comunicados. O preso ia completar 42 anos no sistema prisional em julho deste ano. Geleião foi detido em 10 de maio de 1979, dois meses antes de ter a prisão preventiva decretada, quando ele e José Rubens Dias, o Binho, foram acusados de roubar e estuprar uma estudante no Jardim Tietê, zona leste da cidade de São Paulo. O crime, após recurso do Ministério Público Estadual, culminou em uma pena de 12 anos, 11 meses e 25 dias de prisão por roubo e estupro para ambos.
De acordo com o MP, Geleião conseguiu esconder o crime dentro do sistema prisional, e, junto com outros sete presos, criou o PCC em 31 de agosto de 1993, na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté. Na prisão, foi condenado por outros crimes, envolvendo homicídios e formação de quadrilha, cuja pena somava mais de 142 anos de reclusão em regime fechado.
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Desde 2002, no entanto, ele foi excluído da facção após delatar parceiros de crimes, não conseguiu nenhum benefício da Justiça, e acabou jurado de morte pelo PCC, cuja cabeça era considerada um “troféu” a quem o executasse. Como a reportagem de Josmar Jozino mostrou, em janeiro de 2019, Geleião fazia à Justiça recursos à caneta, com a própria mão, pedindo para ser colocado em liberdade, já que não tinha dinheiro para pagar advogado.
Apesar de ter feito delação premiada, Geleião não conseguiu nenhum benefício da Justiça. Promessas de benefícios a Geleião não faltaram. Além da deleção, ele também foi retirado da prisão, com ordem judicial, para fazer escutas telefônicas de desafetos do PCC em um quartel da PM em Dracena. Em meados dos anos 2000, o juiz Edmar de Oliveira Ciciliatti, já falecido, da Comarca de Tupã, autorizou Geleião a sair da Penitenciária de Osvaldo Cruz para passar uns dias na casa de sua ex-mulher, também no interior.
A autorização foi concedida por causa dos serviços prestados por Geleião, ao fazer as escutas telefônicas à Justiça no quartel da Polícia Militar. A saída de Geleião da prisão era para ser mantida em sigilo, mas veio à tona e o caso se tornou um escândalo. A imprensa teve até acesso a fotos de Geleião deitado em uma cama, só de cueca e tomando cerveja na residência.
Geleião também fundou, na Penitenciária de Osvaldo Cruz, por onde passou, o TCC (Terceiro Comando da Capital) com César Augusto Roriz Silva, o Cesinha, outro fundador do PCC, assassinado em agosto de 2006 na Penitenciária 1 de Avaré, no interior paulista.