Segundo o MP, plano ousado incluía aeronaves, blindados e metralhadoras ponto 50; principal articulador do resgate, Fuminho é tido como homem de confiança de Marcola e gastou dezenas de milhões de dólares na tentativa
A descoberta de um ousado plano de resgate de presos na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo, foi a gota d’água para a transferência de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder do PCC (Primeiro Comando da Capital) para um presídio federal. O MPE (Ministério Público estadual) suspeita que a ação envolveria inclusive um avião LJ35 – LearJet, com capacidade para 10 pessoas, para transportar Marcola e outros líderes do PCC recolhidos na P2 de Venceslau.
A aeronave foi apreendida no dia 13 de outubro do ano passado no aeroporto de Assunção, no Paraguai. O piloto, o iraniano Nader Ali Saboori Haghighi, foi preso, expulso do Paraguai e entregue às autoridades norte-americanas, graças à intervenção do governo dos Estados Unidos.
Já o co-piloto foi identificado como José Sosa, um venezuelano que teria deixado o Paraguai. Até dezembro do ano passado, o avião pertencia à empresa Valkyrie Aero Consulting LLC. O MPE apurou que o narcotraficante Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, é dono de um avião semelhante e era o coordenador do plano de resgate dos presos da P2 de Venceslau.
Fuminho é o braço direito de Marcola. Ambos fugiram juntos da Casa de Detenção, no Carandiru, em 12 de janeiro de 1999. Desde então, Fuminho é foragido da Justiça e as suspeitas são de que ele esteja escondido em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia. Ele também é acusado de ter planejado as mortes de Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e de Fabiano Alves de Souza, o Paca – dois homens da cúpula do PCC -, em fevereiro do ano passado, no Ceará.
Documento do MPE pedindo “transferência imediata, em caráter excepcional e temporária”, obtido pela Ponte, aponta que Fuminho e “os alvos da ação já teriam gasto dezenas de milhões de dólares nesse plano, investindo fortemente em logística, compra de veículos blindados, aeronaves, material bélico, armamento de guerra e treinamento de pessoal”.
O plano de resgate envolvia ainda um grande número de criminosos, o uso de helicópteros, veículos blindados, armamentos pesados, como metralhadora ponto 50, granadas e explosivos de alto poder de destruição. Fuminho e sua turma também planejavam destruir a subestação de energia elétrica de Presidente Venceslau, para deixar a cidade sem luz, internet e comunicação telefônica.
Documento do Ministério Público obtido pela Ponte mostra que entre os dias 27 de outubro e 6 de novembro do ano passado, todos os dias, drones foram avistados fazendo reconhecimento de área nas imediações da P2, como mostram imagens abaixo.
O bando convocado para o resgate seria formado por homens que praticaram diversos assaltos a carros-fortes e caixas eletrônicos com explosivos. E também por outros mercenários, inclusive africanos, treinados em fazendas de Fuminho na Bolívia. A ação visava ainda ataques ao 42º Batalhão Policial Militar de Presidente Venceslau e ao CPI- 8, (Comando de Policiamento dó Interior-8) de Presidente Prudente.
Simultaneamente, as pistas nos dois sentidos da rodovia Raposo Tavares, nas proximidades da P2 de Venceslau, seriam bloqueadas pelos criminosos. O aeroporto da cidade também seria utilizado e, de lá, a aeronave seguiria para outro aeroporto do Norte do Paraná e depois para a Bolívia ou Paraguai.
Após a descoberta do plano, a Secretaria Estadual da Segurança Pública reforçou o policiamento em Presidente Venceslau com 200 homens do Comando de Policiamento de Choque, unidade de elite da Polícia Militar. Dias depois, o Ministério Público pediu a transferência de Marcola e de outros presos para presídios federais.
A Ponte já havia antecipado os 15 primeiros nomes que constavam desse primeiro pedido de transferência realizado ainda em novembro e confirmado pelo documento revelado agora pelo MP. Posteriormente, outros sete foram incluídos, chegando a lista de 22 integrantes do PCC que foram transferidos nesta quarta-feira para presídios federais em outros estados.
Ainda, segundo documento que solicitou a transferência, a promotoria usa o termo “risco de desmoralização do Estado” ao expor detalhes do plano de resgate que incluía destruir todo o sistema de telefonia e internet da cidade, bem como atacar a segurança externa da P2, considerada, também pela investigação, vulnerável, como mostram as imagens abaixo.
[…] de São Paulo (TJ-SP). A decisão veio após uma investigação ter mostrado a existência de um plano de resgate da cúpula do PCC, detida na Penitenciária 2, em Presidente Venceslau, no interior do estado. Embora a solicitação corresse em segredo de […]