Guarda civil ataca ocupação em SP que tentava impedir corte de água

Moradoras de ocupação foram arrastadas por guardas; liderança diz que Cohab desrespeita acordo firmado sobre água e eletricidade

Guardas metropolitanos na frente da ocupação na Av. São João, no centro de São Paulo | Foto: Gil Luiz Mendes / Ponte Jornalismo

A Guarda Civil Metropolitana de São Paulo (GCM) atacou moradores de uma ocupação da Frente de Luta Por Moradia (FLM) no centro da cidade de São Paulo na tarde desta quinta-feira (3/11), na Avenida São João. Funcionários da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) tentaram entrar na ocupação nesta manhã, acompanhados de agentes da GCM, para cortar a água do edifício.

O prédio está sendo habitado por cerca de 100 famílias desde o último sábado (29/10) e de acordo com Suzane Verissimo, coordenadora da ocupação, foi feito um acordo entre o FLM e a Companhia de Habitação do município (Cohab) em que ficou acertado que só mulheres e crianças poderiam ficar no local e em troca o poder público garantiria a água e a eletricidade.

“Alexandre Peixe, o presidente da Cohab, não cumpriu o acordo e hoje a Sabesp veio aqui cortar a água. A gente cumpriu a nossa parte. Tentamos impedir que a água fosse cortada. A GCM agiu com truculência. Eu mesma fui arrastada por eles”, conta Veríssimo.

Dois trechos da avenida São João, nas imediações do Largo do Paissandú foram fechadas por manifestantes, que atearam fogo em caçambas de lixo. Agentes da Inspetoria de Operações Especiais (Iope) da GCM, policiais do Batalhão de Operações Especiais (Baep) da Polícia Militar e do 3º DP (Campos Elíseos) da Polícia Civil estiveram no local acompanhando a ação. Uma viatura do Corpo de Bombeiro chegou ao local em menos de 20 minutos e apagou as chamas.

Moradores denunciaram que os guardas municipais estavam impedindo a entrada e saída de pessoas do edifício enquanto os funcionários da Sabesp faziam a obra para interromper o fornecimento de água. “Tem criança de sete meses lá dentro e eles não estão deixando as mães entrar. Estamos sendo tratados que nem bandido”, reclamou Viviane Paulino, moradora do prédio.

O vereador e deputado estadual eleito Eduardo Suplicy (PT) esteve no local para intermediar a situação entre os moradores e a GCM. O parlamentar ligou para o prefeito em exercício de São Paulo MIlton Leite (União Brasil) para tentar uma solução para o impasse. Segundo Suplicy, a recomendação do atual mandatário é que o prédio fosse desocupado para evitar uma tragédia como houve em 2019, onde um edifício ocupado na mesma região desabou após um incêndio.

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“Estamos tentando resolver esse impasse. Tentei falar com a Cohab, mas não consegui contato com ninguém. Esperamos resolver da melhor forma possível”, disse o vereador.

O que diz a Sabesp

Procurada, a assessoria de imprensa da Sabesp informou apenas que “suprimiu o abastecimento a pedido da Prefeitura Municipal de São Paulo, proprietária do imóvel”.

O que diz a Cohab

Já a Cohab encaminhou a seguinte nota:

A Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo (Cohab-SP) informa que não houve qualquer acordo dessa natureza firmado com representantes da ocupação. Vale ressaltar que todas as medidas tomadas são legais e buscam evitar possíveis acidentes, por se tratar de um empreendimento que possui alguns problemas de infraestrutura.

O edifício Art Palácio foi utilizado como Centro de Acolhida Especial para Famílias, em convênio firmado junto a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, para o atendimento de cerca de 260 pessoas no período de dezembro de 2020 a maio de 2022.

Após a identificação de problemas na infraestrutura do edifício, houve o término do convênio. O imóvel retornou para a Cohab-SP, que iniciou a elaboração do termo de referência para realizar reformas de adequação no prédio.

Atualmente o local não apresenta condições adequadas de habitabilidade, colocando em risco as famílias que ocupam irregularmente o local.

A ocupação ilegal do Art Palácio atrasa o processo de reforma e prejudica a destinação do edifício, que prevê 70 moradias, nos programas habitacionais da cidade.

O que diz a GCM

A Secretaria Municipal de Segurança Urbana, responsável pela guarda, foi procurada, mas até a publicação não houve resposta.

Reportagem atualizada às 10h46, de 4/11/2022, para incluir resposta da Cohab.

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