Guerra no crime: Governo começa a isolar em SP presos de facções do Rio de Janeiro

    Ao menos 87 detentos foram transferidos sexta-feira (21/10) para a Penitenciária 1 de Presidente Venceslau, no oeste do Estado de SP. Eles do CV (Comando Vermelho) e do TC (Terceiro Comando)

    Caramante
    A Penitenciária 1 de Presidente Venceslau, no oeste do Estado de SP, começou a receber presos ligados aos grupos criminosos do Rio de Janeiro – Foto: Google Street View

    O clima é tenso nos presídios de São Paulo. Principalmente na Penitenciária 1 de Presidente Venceslau, a P1, no oeste do Estado, para onde a gestão de Geraldo Alckmim (PSDB) começou a transferir, na última sexta-feira (21/10), presos de facções do Rio de Janeiro.

    Ao menos 87 detentos foram removidos para a unidade. Muitos são do CV (Comando Vermelho) e do TC (Terceiro Comando). O último grupo é dissidente do primeiro. Ambos são inimigos.

    A SAP (Secretaria Estadual da Administração Penitenciária) não confirma nem desmente as remoções. Em nota enviada à Ponte Jornalismo, a pasta estadual garante que o “sistema penitenciário paulista opera dentro dos padrões de normalidade e segurança”.

    Funcionários do sistema prisional afirmam que a SAP agiu rápido e corretamente ao isolar na P1 de Venceslau os presos de facções do Rio de Janeiro. Mas confirmam que o clima é realmente tenso em várias prisões paulistas.

    Os presos removidos para a P1 de Venceslau são procedentes de diversos presídios de São Paulo. Estão em celas individuais. Mas não se entendem. Mesmo separados no Pavilhão 1, eles vêm trocando hostilidades e ameaças.

    Os outros presos que estavam nesse mesmo pavilhão foram levados para a Penitenciária de Tupi Paulista, também no interior de São Paulo e considerada um barril de pólvora. Pode explodir a qualquer momento.

    Agora passaram a cumprir pena lá detentos de diversas facções, como TCC (Terceiro Comando da Capital), ADA (Amigos dos Amigos), Cerol Fininho, SS (Seita Satânica), CRBC (Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade), Guerreiros do Inferno, entre outras. Todas são inimigas do PCC (Primeiro Comando da Capital).

    No pavilhão 2 da P1 de Presidente Venceslau estão os presos neutros, que não pertencem a nenhum grupo criminoso. O pavilhão 3 está em reforma e o pavilhão 4 abriga os integrantes do PCC.

    A tensão na P1 de Venceslau aumentou na madrugada de sexta-feira. Um detento, procedente de um presídio federal, desembarcou na unidade na calada da noite, escoltado por agentes federais. Chegou à região em um helicóptero.

    O preso ficou escondido na inclusão. Há informações de que ele veio fazer uma delação. Não se sabe ainda se é premiada. O presidiário já foi ouvido e mandado de volta para o presídio federal. Dizem que ele veio delatar autoridades e ex parceiros de crime.

    A SAP também nega a apreensão de uma carta  de quatro páginas, escrita à caneta com erros de português, nas unidades subordinadas à pasta.

    Agentes penitenciários, no entanto, insistem em dizer que cópias da correspondência foram encontradas em presídios de Guarulhos, na Grande São Paulo, Pinheiros, zona oeste da capital e também em Mongaguá, na Baixada Santista, dominados pelo PCC. A carta indica que a organização declarou mesmo guerra aos seus inimigos.

    A correspondência, intitulada “Salve Geral”, não revela os nomes dos rivais, mas deixa claro que o PCC vai agir com violência contra as facções que têm matado seus integrantes nas prisões e nas ruas e tomado seus pontos de drogas.

    Um trecho da carta traz a seguinte mensagem: “Não nos compactuamos de alguma patifaria que tem crescido nos estados onde uma facção ou outras sem ética tem tomado lojas, morros ou favelas de pessoas que são do crime”.

    Lojas na linguagem do PCC significam pontos de droga que pertencem à organização criminosa. Morros e favelas são territórios onde a facção controla o tráfico de entorpecentes.

    Na mesma página, algumas linhas adiante, aparece a seguinte advertência: “Contra esses vai toda a nossa fúria. Deixamos claro que respeitaremos aqueles que merecem o respeito do crime”.

    Logo na primeira página da carta, o PCC menciona que facções de oposição ao grupo estão matando inocentes nos estados em protesto e por inveja ao crescimento e a expansão da organização criminosa no país.

    E cita como exemplos o caso de uma criança de dois anos morta a tiros na Bahia; de uma senhora tetraplégica executada no Mato Grosso porque era mãe de um criminoso; de assassinatos de irmãos de integrantes do PCC no Maranhão.

    Em nenhum momento a correspondência menciona o nome do CV. Porém, os relatos da carta coincidem com a informação dada à Ponte Jornalismo na última terça-feira por uma fonte do MPE (Ministério Público Estadual).

    Segundo essa fonte, desde o ano passado o PCC está em conflito com o CV porque o grupo de Rio de Janeiro fez alianças com facções inimigas do grupo paulista em estados do Norte e Nordeste e também no Mato Grosso e em Santa Catarina. Em presídios da região Norte já morreram ao menos 22 detentos nos últimos dias.

    A fonte disse ainda que o PCC mandou rastrear os integrantes do CV presos nas penitenciárias de São Paulo. Segundo o MPE, eles são cerca de 200 a 300, mas ainda convivem pacificamente com os integrantes do grupo paulista. Uma parte já está na P1 de Venceslau.

    Caramante
    Facções criminosas PCC (Primeiro Comando da Capital), de São Paulo, e CV (Comando Vermelho), do Rio, estão em processo de separação – Foto: André Porto

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