Ministério Público de SP apurou que o conflito entre organizações criminosas começou em 2015, quando presos do CV em Roraima, Rondônia e no Acre se aliaram à facção FDN (Família do Norte) e a outros grupos rivais ao PCC
A liderança da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) começou a fazer hoje um mapeamento nos presídios paulistas para saber quantos integrantes do CV (Comando Vermelho) estão presos no estado de São Paulo.
O “salve” (recado) transmitindo a ordem para a realização do mapeamento foi captado por setores de inteligência das forças de segurança de São Paulo. A informação foi confirmada à Ponte por uma fonte do MPE (Ministério Público Estadual) que investiga a facção criminosa paulista, a maior do País.
Segundo o MPE, há cerca de 200 a 300 integrantes do CV espalhados em penitenciárias paulistas dominadas pelo PCC. Todos os integrantes da facção criminosa fluminense, a segunda maior do Brasil, podem ser transferidos para unidades prisionais neutras, onde não há grupos rivais, se houver necessidade. O governo está em alerta.
A decisão do PCC em mapear os integrantes do CV presos no estado foi tomada após as rebeliões registradas na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Boa Vista (RR), e na Penitenciária Ênio dos Santos Ribeiro, em Porto Velho (RO).
Os motins deixaram saldo de 18 mortos. Segundo o governo de Roraima, no presídio de Boa Vista os 10 detentos assassinados eram do CV, entre eles Valdenei de Alencar, conhecido como “Vida Loka” e apontado como chefe do grupo no estado.
Sete dos 10 corpos encontrados estavam carbonizados e dois, decapitados. No presídio de Porto Velho, oito presos foram mortos por asfixia e 22 ficaram feridos. Dois deles estavam em estado grave.
O MPE garante que aqui no estado a convivência entre integrantes do PCC e do CV ainda é pacífica. No Rio de Janeiro há confirmação de que os presos do PCC naquele estado já pediram seguro _transferência para celas isoladas.
O MPE paulista apurou que o conflito entre as duas maiores organizações criminosas do país teve início no ano passado, quando presos do CV em Roraima, Rondônia e no Acre se aliaram à facção FDN (Família do Norte) e a outros grupos rivais ao PCC.
Em presídios do Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Alagoas, no Nordeste, os presos do PCC foram orientados pela liderança de São Paulo a pedir transferência para unidades prisionais onde a facção paulista tem maioria, tem vantagem numérica.
Ainda segundo o MPE paulista, a chance de ocorrer uma briga sangrenta entre integrantes do PCC e CV é grande em penitenciárias do Mato Grosso. Já no vizinho estado do Mato Grosso do Sul, a convivência por enquanto é amigável.
No ano passado, detentos do PCC recolhidos em presídios das regiões Norte e Nordeste enviaram cartas à cúpula da organização, presa na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no oeste paulista, relatando que corriam riscos na cadeia por causa da coligação do CV com outros grupos rivais e que uma guerra seria inevitável. Por isso foram orientados a ir para unidades onde são maioria.
Os membros do CV no Norte e Nordeste também mandaram relatórios aos chefes da facção fluminense, informando que a paz com o PCC estaria perto do fim naquelas regiões e que poderiam agir com violência, porque os paulistas não concordavam com suas alianças.
Desde sua criação, em 31 de agosto de agosto de 1993, no anexo da Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté (interior de SP), o PCC buscou uma coligação com o CV. O grupo paulista até adotou em seu estatuto o lema do grupo do Rio: Paz, Justiça e Liberdade.
Além de membros do CV, presídios paulistas também abrigam detentos de outra facção criminosa do Rio de Janeiro. Nas penitenciárias de Presidente Prudente e Tupi Paulista estão presos integrantes da ADA (Amigos dos Amigos).
Já a Penitenciária 1 de Presidente Venceslau é destinada aos presos que cumprem castigo. Lá estão detentos da SS (Seita Satânica), Cerol Fino, ADA e CRBC (Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade), todos inimigos do PCC.
Esses presos ficam em celas individuais no pavilhão 1. Os pavilhões 2 e 3 estão em reforma. Já os presos do PCC ficam no pavilhão 4. Se houver uma rebelião no presídio, uma carnificina será inevitável.
*Josmar Jozino é repórter policial há 32 anos. Produz reportagens sobre o crime organizado há 20 anos e é um dos maiores conhecedores do assunto no Brasil. É autor de três livros sobre o tema: “Cobras e Lagartos – A vida íntima e perversa nas prisões brasileiras. Quem manda e quem obedece no partido do crime” (2005), que narra o nascimento do PCC; “Casadas com o Crime” (2008), uma trajetória das mulheres que passaram boa parte de suas vidas presas, seja como visitantes de maridos, filhos ou filhas, seja na condição de encarceradas; “Xeque Mate – O Tribunal do crime e os letais boinas pretas. Guerra sem fim” (2012), uma reportagem investigativa sobre os enfrentamentos entre a Rota, da PM de SP, e membros do PCC.
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[…] em 19 de outubro de 2016 por arsantoz 18/10/16por Por Josmar Jozino, especial para a Ponte Jornalismo* Guerra no crime: PCC começou hoje a […]