Homem é detido por protestar contra Bolsonaro na Arena Corinthians

    Policiais alegam que abordagem foi feita para ‘evitar princípio de tumulto’; para Conselho Estadual de Direitos Humanos, PMs cometeram abuso de autoridade

    Rogério Lemes mostra o punho e os dedos machucados durante a abordagem policial | Foto: reprodução Facebook

    Um homem foi detido durante o jogo Corinthians x Palmeiras, clássico paulista disputado pelo Campeonato Brasileiro de Futebol Masculino, na Arena Corinthians, zona leste, neste domingo (4/8), por se manifestar contra o presidente Jair Bolsonaro (PSL). Policiais Militares de São Paulo confirmaram que esse foi o motivo para levá-lo à uma delegada da Polícia Civil paulista.

    Segundo consta em B.O. (Boletim de Ocorrência), os policiais Pablo Alexandre Pires de Souza e Jaciel Ferreira da Silva abordaram Rogério Lemes quando ele xingava o presidente. Os PMs alegam que tomaram a iniciativa para “evitar um princípio de tumulto” e “utilizando de meios necessários” para levá-lo à sala em que fica a Drade (Delegacia de Polícia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva) dentro do estádio.

    “Eu estava dentro do estádio gritando ‘Bolsonaro, vai tomar no cu’. Quando eu senti, o policial já estava me dando um mata-leão. Quando caí, me algemaram, me levaram pra uma sala e ficaram me humilhando. Estou todo dolorido”, denuncia Rogério em um post que fez no Facebook para denunciar o caso. “Hoje entrei na Arena Corinthians expondo minha opinião contra o atual governo e olha o que aconteceu: Fui preso! Humilhado! Algemado!”, desabafou.

    Um homem que assistiu o jogo acompanhou o momento em que Rogério era levado pelos PMs. “Não entendi nada, só vi na hora que ele estava falando com os opressores [PMs], daí do nada ele começou a agredir. Não vi o motivo, mas como sempre eles manchando a nossa casa”, diz o torcedor corintiano, se referindo à Arena.

    Após a abordagem, os policiais levaram Rogério para o espaço do estádio onde funciona o plantão da Drade, um braço do DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa), da Polícia Civil paulista. A delegada Monia Olga Pescarmona assinou o documento, sem registrar oficialmente a versão de Rogério sobre o fato.

    “Os PMs que abordaram o torcedor na Arena Corinthians e o encaminharam para a delegacia precisam responder por abuso de autoridade, previsto na Lei 4898 de 1965. A liberdade de opinião e expressão é garantida pela Constituição Federal”, critica Ariel de Castro Alves, advogado e conselheiro do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana).

    O Coletivo Democracia Corintiana o que chamaram de “DOI-CODI” de Itaquera, ao se referirem as ações de monitoramento e abordagens feitas pela PM no estádio. “O Coletivo já registrou vários casos de agressões e prisões políticas em Itaquera, inclusive de estrangeiros durante a Copa América. Em tempo recente, outras duas mulheres torcedoras passaram pelas mesmas humilhações, uma delas deficiente física”, diz nota publicada pelo grupo no Facebook. O texto relembra agressão sofrida por Maria Luiza Maia, portadora de lupus, que assistiria um jogo em jogo no dia 21 de setembro de 2018 disputado entre Corinthians e Sport, de Pernambuco, seu clube do coração, mas foi agredida por uma PM na revista na entrada da arena corintiana.

    A Ponte questionou a SSP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo, gerida neste governo de João Doria (PSDB) pelo general João Camilo Pires de Campos, e a PM, comandada pelo coronel Marcelo Vieira Salles, sobre a ocorrência na Arena Corinthians. A pasta explicou que os PMs abordaram o homem para “preservar a integridade física do torcedor”, pois “causou animosidade com outros torcedores, com potencial de gerar tumulto e violência generalizada” ao se posicionar contra Bolsonaro.

    “A SSP esclarece que todas as polícias de São Paulo são instrumentos do Estado Democrático de Direito e não pautam suas ações por orientações políticas. Entre as atribuições da Polícia Militar estão: proteger as pessoas, fazer cumprir as leis, combater o crime e preservar a ordem pública”, sustenta a secretaria, dizendo que o homem foi conduzido para o Jecrim (Juizado Especial Criminal, na Arena Corinthians, “onde foi registrado boletim de ocorrência não criminal e depois [o torcedor] liberado para voltar a assistir à partida de futebol”, finaliza a nota enviada à Ponte.

    *Atualizado às 16h39 para incluir o posicionamento da SSP e às 18h25 para acrescentar nota do Coletivo Democracia Corintiana.

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