João Batista Soares de Souza, de 29 anos, foi alvejado por policiais e morreu diante da mulher e de três filhos na manhã desta segunda-feira, na favela de Manguinhos, na Zona Norte do Rio de Janeiro
Na manhã desta segunda-feira, 04/04, João Batista Soares de Souza, de 29 anos, foi atingido, em sua casa, por um disparo que veio do lado de fora, na Rua São Daniel, na favela de Manguinhos, na Zona Norte do Rio de Janeiro, onde, segundo moradores, havia vários policiais que chegaram à comunidade a bordo do grande veículo blindado popularmente conhecido como “Caveirão”, utilizado pelo BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais) – dita “tropa de elite” da PM fluminense – em incursões em favelas.
O trabalhador, que tinha acabado de chegar em casa, foi atingido na cabeça quando se aproximou da janela da sala e caiu no chão, diante de sua mulher e de seus três filhos. Eram aproximadamente 11:40h e não havia nenhum tumulto ou tiroteio no local, segundo moradores.
“Ele chegou em casa, falou comigo, falou com nossos filhos, trocou a roupa que ele estava, e na hora em que foi pegar a cadeira que eu pedi a ele, perto da janela, foi atingido. Quando ele foi me dar a cadeira, eu me virei pra trás, pus a cadeira no chão e ouvi um estouro. Aí eu me virei pra frente de novo e vi ele caindo”, conta a esposa da vítima, Gleice Balbino dos Reis, de 31 anos à Ponte Jornalismo. Os três filhos do casal – uma menina de um ano e oito meses, um menino de seis anos e um de 11 – estavam na sala e viram o pai desfalecer no chão. A imagem abaixo mostra a janela da casa da família e manchas de sangue na parede.
Do lado de fora, na rua, havia um “caveirão” e um grupo de policiais. “Assim que ele levou o tiro, pedi ajuda, gritei e quem veio foram os moradores, porque eles mesmos [os policiais] nem saíram do caveirão para ajudar”, diz Gleice, que obteve ajuda de uma tia e de um vizinho, amigo de João, para levar o marido de carro ao Hospital Salgado Filho, no bairro Meier.
“Assim que nós chegamos lá, começamos a gritar, e nada de ninguém sair com uma maca nem uma cadeira. Depois que nós mesmos colocamos ele lá dentro foi que apareceu uma maca. Lá dentro, o médico falou ‘põe ele no chão mesmo’, e nós gritamos que não, que não ia pôr ele no chão. Tinha uma cama vazia, aí eu disse ‘põe ele aqui, que no chão ele não vai ficar não, ele não é bicho’”, desabafa a esposa, que soube no local que João estava realmente morto.
Embora João tenha sido morto antes do meio-dia, e Gleice tenha feito o Boletim de Ocorrência durante o tempo que passou no hospital, a perícia somente chegou ao local por volta das 17:50h, segundo moradores.
Outro lado
Após enviar e-mails para as assessorias de comunicação da Polícia Civil e da Polícia Militar do Rio de Janeiro, indagando-as sobre as circunstâncias em que João foi morto e o motivo da incursão policial na favela de Manguinhos, a reportagem, que não obteve retorno da primeira, foi encaminhada pela segunda à assessoria das UPP’s (Unidades de Polícia Pacificadora), que apresentou à Ponte Jornalismo a seguinte versão, por e-mail: “Segundo o comando da UPP Manguinhos, por volta das 10h desta segunda-feira (4/4), policiais da UPP, com o apoio de agentes do 22ª BPM (Maré), realizavam um patrulhamento na localidade conhecida como ‘Coreia’ quando foram recebidos a tiros por criminosos armados. Houve confronto e um policial do batalhão foi ferido por estilhaços. Pouco tempo depois, um homem foi deixado morto na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Manguinhos. O caso é investigado pela Polícia Civil”.