Homem morre durante ação da PM na Luz, em São Paulo

    Grupo de pessoas carregou Lucas até corpo de bombeiros. Ali, PMs pediram que deixassem o jovem no chão e ficaram em pé, diante dele, sem ajudá-lo

    Policiais militares diante de homem vítima de parada cardíaca em frente ao quartel dos bombeiros na Luz | Foto: Arquivo Pessoal

    Um morador de rua identificado como Lucas morreu, vítima de uma parada cardíaca, durante uma operação da Polícia Militar na Luz, região central de São Paulo, na tarde deste sábado (14/7). Segundo o depoimento de moradores e imagens obtidos pela Ponte, teria havido omissão de socorro.

    Moradores do bairro contam que os policiais militares da Caep (Companhia de Ações Especiais de Polícia) entraram em conflito com moradores de rua da região e atiraram balas de borracha, bombas e gás lacrimogêneo. A PM nega.

    Por volta das 17h40, um homem chamado Lucas começou a passar mal – segundo testemunhas, por causa da fumaça do gás atirado pelos policiais. Moradores da região juntaram-se para carregar Lucas nos ombros até uma unidade do Corpo de Bombeiros na Alameda Barão de Piracicaba. Ali, um grupo de PMs do Caep ordenou que as pessoas deixassem Lucas no chão.

    O homem, então, ficou deitado no asfalto da rua, passando mal diante dos policiais militares. Um vídeo feito por testemunhas indica que Lucas ficou pelo menos 30 segundos caído no chão sem que qualquer dos PMs fizesse um gesto para socorrê-lo.

    “Se tivessem socorrido o rapaz mais rápido, ele teria sobrevivido”, acredita a liderança comunitária Janaína Xavier, 38 anos, que é membro do conselho gestor da  chamada quadra 36 — quarteirão entre a Avenida Rio Branco, a Alameda Grete, a Rua Helvétia e a Alameda Barão de Piracicaba, alvo de uma ação de desapropriação pela Prefeitura.

    A situação vivida por Lucas em seus últimos momentos, conforme a narração de Janaína, foi de descaso. “Os homens da Polícia Militar tinham dito ‘coloca ele no chão, que ninguém vai passar aqui’. O chefe dos policiais ficou olhando para ele. Nós começamos a gritar: ‘Não vai socorrer o moço, o moço vai morrer aí mesmo? Isso é omissão de socorro!’. Um dos policiais colocou a mão no pescoço dele e falou: : ‘Chefe, já era’. Aí a gente viu que o moço já estava roxo, espumando na boca. O pessoal gritou: ‘E aí, bombeiro, não vai socorrer?’. Acabou que o bombeiro saiu, colocou a mão no rapaz e só aí voltou com a maca, enrolou no papel alumínio, colocou na ambulância do Resgate e foi embora.”

    Segundo o Corpo de Bombeiros, Lucas sofreu uma parada cardíaca e foi encaminhado até a Santa Casa de Misericórdia.

    O que diz o Estado

    Em nota, a assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública do governo Márcio França (PSB) negou o uso de bombas de gás lacrimogêneo neste sábado e afirmou que Lucas foi socorrido dois minutos após os PMs checarem seus sinais vitais:

    Neste sábado (14), uma equipe do Corpo de Bombeiros foi acionada às 17h40 e prestou atendimento dois minutos depois a um homem, de 35 anos, que teria sofrido um mal súbito na Alameda Barão de Piracicaba, na região da Santa Cecília. O homem foi encaminhado ao PS da Santa Casa de Misericórdia. O policiamento na área é realizado pelo 13º BPM/M e o patrulhamento neste sábado foi intensificado com apoio da Companhia de Ações Especiais (Caep). No entanto, não houve qualquer atividade ou operação da polícia com necessidade de uso de munições químicas. Em relação ao atendimento dos policiais militares mencionados pela reportagem, cabe esclarecer que os Bombeiros foram acionados após os policiais constatarem os sinais vitais da vítima e chegaram em dois minutos já que estavam em frente ao Posto Campos Elíseos.

    Também procurada, a secretaria de comunicação do prefeito Bruno Covas (PSDB) disse que desconhecia qualquer operação realizada neste final de semana. “Tudo o que ocorreu foram as ações de zeladoria da prefeitura, coordenadas pela Subprefeitura da Sé, como fazemos rotineiramente, três vezes ao dia. Se houve uma ação da PM, a Prefeitura não participou”, declarou a assessoria.

    (*) Reportagem atualizada às 20h40 para inserir o posicionamento do governo estadual.

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