Símbolo nazista foi reproduzido próximo à casa do autor, que disse ter feito um desenho aleatório. Entidade judaica repudia ação e especialista diz não acreditar em desconhecimento do autor
Um homem de 51 anos desenhou uma suástica no meio da rua onde mora, em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, nesta quarta-feira (20/4), data de aniversário de Adolf Hitler [1889-1945], líder do Partido Nazista da Alemanha. Quando o crime foi denunciado à polícia, o autor do desenho disse que fez um símbolo aleatório e negou ser neonazista.
Em contato com a Ponte, o delegado Ricardo Turra disse que “é cedo afirmar alguma coisa ainda”. O caso foi registrado na Central de Polícia Judiciária Integrada de Ribeirão Preto. O homem foi ouvido, e como disse ter se arrependido e não saber o que representava o símbolo que fez, foi liberado.
Quando a polícia foi ao local, o investigado já havia feito um outro desenho por cima, para disfarçar o símbolo, e escreveu “369” ao lado dos quadrados adaptados da suástica.
Para a jornalista e pesquisadora Letícia Oliveira, que investiga grupos neonazistas há mais de uma década, é difícil acreditar que o homem fez o símbolo de forma aleatória, sem querer passar uma mensagem, como teria dito à Polícia Civil. “A suástica é um símbolo que tem um histórico muito conhecido, ninguém desconhece o que significa, então eu duvido que ele realmente não saiba o que representa”, diz.
A reportagem pediu ajuda de Letícia para identificar o que poderia significar a inscrição “369” feita pelo homem após a suástica ser denunciada. A pesquisadora levantou duas possibilidades: o nome de algum motoclube ou, ainda, uma referência à 369ª Infantaria da Wehrmacht (Forças Armadas da Alemanha Nazista), que era a divisão croata. Os números podem também representar as letras CFI. Mas não há nada concreto.
O delegado Turra disse que o homem “tinha alguma coisa” no histórico criminal, mas detalhes de ocorrências anteriores só poderão ser passadas a partir da próxima segunda-feira (25/4). Comedido, Turra afirma que só “vamos ter uma noção melhor [de possível ligação de grupo neonazista] no final da investigação”.
A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo disse que um inquérito policial foi instaurado para prosseguimento dos trabalhos da polícia judiciária e devida responsabilização. A legislação brasileira prevê, no artigo 20 da Lei 7.716, 1989, pena de dois a cinco anos de prisão para quem “fabricar, comercializar, distribuir ou veicular” suásticas com objetivo de divulgar o nazismo.
O caso chegou ao conhecimento da polícia por meio da advogada Tamara Segal, ex-presidente da Sirp (Sociedade Israelita de Ribeirão Preto). Após o ocorrido, a organização se posicionou com repúdio “firme e veemente”. A comunidade judaica da cidade paulista disse que vai providenciar medidas legais para combater “esses gestos criminosos e saudosistas”.
Por meio de nota assinada por Perola Abuleac e Miriam Herscovici, presidente e vice-presidente da Sirp, respectivamente, a entidade disse que “a triste e propositada inscrição de símbolo nazista” feita em um local público “denuncia a indiferença e a vilania de seus autores, bem como o malbaratamento da história recente do povo judeu, vítima de uma ideologia e política preconceituosa, atrozes, cujas realizações jamais deverão ser esquecidas”.
O posicionamento da Sociedade Israelita de Ribeirão Preto ainda ressalta que “a educação e a rememoração constante ainda permanecem como importantes instrumentos de combate à desinformação traduzidas nestes fatos”.