‘É prova da higienização’, diz Carlos, que gravou agressão a moradores em situação de rua; vídeo viralizou e ele recebeu ligações de desconhecidos
O telefone de Carlos Roberto, 47 anos, porteiro desempregado em situação de rua, não parava de tocar depois que o vídeo da ação violenta dos agentes do metrô de São Paulo caiu na internet. Foi ele quem gravou os seguranças agredindo com cassetetes e expulsando moradores em situação de rua que se abrigavam da chuva na galeria da estação da Sé, linha 3-Vermelha, na segunda-feira da semana passada, 2 de setembro. As ligações acusavam número desconhecido e, ao atender, nenhuma voz era ouvida.
Carlos afirma que sente medo, que está ainda mais assustado de viver pelas ruas da capital paulista e decidiu, por precaução, alterar sua rotina. “Não estou mais andando de metrô com medo. Estou evitando o metrô. Agora estou andando só de ônibus. Dizem que é paranoia minha. Melhor não arriscar”, diz. Carlos Roberto contou que vive nas ruas de São Paulo há oito meses, desde que ficou desempregado e decidiu deixar Vila Velha, no Espírito Santo. No entanto, entre os dois estados já são 14 anos vivendo em situação de rua.
Carlos Roberto contou à reportagem da Ponte que milita no Movimento da População de Rua e, por esse motivo, está sempre alerta ao que pode ocorrer, oferecendo auxílio para pessoas em maior vulnerabilidade. O homem afirma que já havia recebido várias denúncias de agressão por parte de agentes do metrô a moradores em situação de rua em dias de chuva, quando boa parte das pessoas que vivem na região da Praça da Sé busca abrigo na plataforma da estação, o que faz acirrar os ânimos no local.
O porteiro, que conta ter feito cursos de vigia e padeiro, e que, atualmente vive em albergues, conta em detalhes que esperou pelo momento exato para iniciar a filmagem. “Começou a chover e fui acessar à galeria. Quando cheguei já tinha alguns moradores e seguranças lá. [Os moradores] Não estavam atrapalhando a passagem, estavam encostados na parede. Quando vi os seguranças com o cassetete na mão e que poderiam iniciar um ataque comecei a filmar. Era a chance de registrar o flagrante do que acontece com frequência”. Pelas imagens captadas pelo homem, após serem expulsos e já na parte externa da estação, os moradores em situação de rua atiram pedras na direção dos agentes.
Para ele, o registro mostra como são tratados diariamente os moradores em situação de rua pelo poder público. “A repercussão foi boa, a denúncia foi fundamentada com o vídeo. Agora nós temos prova concreta que o metrô age com higienização”, orgulha-se.
Assim que soube do ocorrido, o vereador Eduardo Suplicy (PT) levou Carlos Roberto até a tribuna da Câmara Municipal e apresentou aos outros parlamentares. À Ponte, Suplicy afirmou que às “agressões são injustificadas”. “Isto não é uma forma civilizada de respeito para com o ser humano, e, portanto, isso é uma atitude da segurança do metrô totalmente inaceitável e condenável. O metrô é de responsabilidade do governo João Doria (PSDB) que precisa tomar as medidas adequadas para orientar os seguranças, que não se pode tratar os moradores em situação de rua, pessoas muito humildes e praticamente sem patrimônio e até sem direito à moradia, dessa maneira como aconteceu”, criticou.
Carlos Roberto afirmou que a situação de trabalho para os moradores em situação de rua está cada vez mais difícil, inclusive para pessoas como ele, que possuem cursos profissionalizantes. “Os trabalhos que aparecem são exploradores. Oferecem R$ 50 para trabalhar 12 horas ou até mesmo 24 horas”, relata.
Ele afirma que não conseguiu localizar os moradores agredidos para saber se houve feridos graves ou se querem prestar queixa contra os agentes, mas que espera que os identificados sejam afastados e que haja algum tipo de reparação para as vítimas. “Eles não estão preparados para lidar com o público. Somos tratados como animais pelo poder público. Ainda bem que a PM chegou, pois os guardas perderam o controle. A chegada da PM foi essencial”, concluiu.
Em nota, o Metrô informou que “com as chuvas na manhã de segunda-feira (2/9), como sempre acontece, uma grande quantidade de pessoas que vivem em situação de rua entrou na estação para se abrigar. Desde o início os agentes de segurança acompanharam a movimentação, até para impedir uso de bebida alcoólica, cigarro e drogas e manter um mínimo de ordem para facilitar o fluxo de passageiros pelo local. Às 10h50 os agentes solicitaram apoio, já que estavam com dificuldade para organizar o grupo. Um dos agentes, ao se aproximar, foi agredido pelo líder do grupo. Todos os funcionários envolvidos nessa ocorrência foram afastados até o término do inquérito policial”.
Procurada, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) afirmou que “o caso é investigado por meio de inquérito policial instaurado pela Delegacia do Metropolitano (Delpom), que está ouvindo os envolvidos para esclarecer os fatos”.
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[…] Paulo Eduardo Dias, publicado em Ponte Jornalismo […]