Homens atacam com marretas e pedras ocupação de mulheres em São Bernardo do Campo (SP)

Ocupação Cleone Santos, inaugurada há uma semana, se propõe a acolher vítimas de violência de gênero

Policial segura marreta usada por agressores no ataque a Ocupação em São Bernardo do Campo (SP) | Foto: Lucas Barbosa/JAV

Militantes e pessoas acolhidas pela Ocupação Cleone Santos, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, foram atacadas por homens armados com marreta e pedras na tarde de terça-feira (21/11). Apesar de vídeos mostrarem a violência contra as militantes, o caso foi registrado no 3º DP do município como agressão mútua. 

O ataque ocorreu em duas investidas feitas por um grupo de 20 homens, conforme relataram as vítimas à Ponte. Ainda de acordo com o relato, em um primeiro momento um deles chegou a subir na laje da casa ocupada na tentativa de acessar o espaço. A agressão só teria parado após a chegada de policiais militares.

A coordenadora da Ocupação Cleone Santos, Victória Magalhães, conta que tentou dialogar com os homens sem sucesso. Um deles, segundo ela, a agrediu fisicamente com empurrões. “Eles estavam gritando muito, mandando sair, ir embora. Falavam que nós eramos vagabunda, invasor, e que ali era a casa dele, que era para a gente ir embora, senão ele ia tirar a gente à força”, conta.

Contudo, poucos minutos após a viatura da PM deixar o local, o grupo voltou e começou novamente a tentar entrar à força, segundo as militantes. Vídeos feitos por elas mostram homens marretando o imóvel e jogando pedras contra a porta. Segundo Victória, um deles “parecia estar com uma arma de fogo”. 

No momento do ataque, cerca de 20 pessoas, entre crianças e idosos, estavam no imóvel ocupado. A segunda etapa da agressão durou 20 minutos, até que a Polícia Militar fosse novamente ao local. 

“Eles vieram para cima da gente com as marretas mesmo, os pedaços de pau, tentaram muito agredir. Eu estou machucada, uma companheira quebrou o dedo, bastante gente ferida”, comenta. 

Vítimas e agressores foram levados para o 3º DP, na Vila Marchi. Um boletim de ocorrência de lesão corporal foi registrado pela equipe do delegado Ângelo José de Moraes. O relato, contudo, colocou os também as militantes como autoras de agressão.

O boletim identifica Eduardo Massahiro dos Santos como filho do dono da casa e um dos homens presentes no local. À Polícia Civil, ele se limitou a dizer que ele estava “demolindo parte do imóvel” quando foi encontrado pelos policiais. 

Victória conta que o homem foi liberado pela porta da frente da delegacia e que a marreta usada na agressão, que havia sido recolhida pela PM, foi devolvida pela Civil.

Em resposta ao ataque, uma vigília foi feita durante a noite e nesta quarta-feira (22) uma manifestação ocorreu em frente à ocupação. 

Ocupação Cleone Santos 

A Ocupação Cleone Santos é organizada pelo Movimento de Mulheres Olga Benário. Há uma semana o imóvel, que é particular, foi ocupado e limpo pelas integrantes para acolher mulheres vítimas de violência no município. 

Em paralelo, uma carta pública foi lançada pelo movimento com reivindicações à prefeitura. Entre os pedidos estão a criação de uma Secretaria Popular de Políticas Públicas para Mulheres, um programa de habitação para mulheres vítimas de violência e também de uma casa de passagem para elas. 

Beatriz Behling, militante do Olga Benário, fala que a gestão de Orlando Morando (PSDB) vem desmontando estruturas de suporte às vítimas de violência. Ela cita como exemplo a saída do município do Consórcio do Grande ABC, participação que implicava, entre outras demandas, na criação de políticas voltadas para as mulheres. 

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“É justamente para isso que a casa existe, para que a gente consiga fazer com que as mulheres consigam se livrar dessas situações de violência, tenha um amparo, tenha um acompanhamento”, comenta. 

O que diz o governo

A Ponte procurou a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo e a prefeitura de São Bernardo do Campo.

Em nota, a prefeitura informou que a Guarda Civil Municipal não foi acionada para ocorrência. A gestão de Orlando Morando disse que tem atuado no enfrentamento da violência contra mulher. O texto cita projetos de acolhimento e unidades de saúde e segurança especializadas.

Veja na íntegra a nota da prefeitura de São Bernardo do Campo

A Prefeitura de São Bernardo informa que a Guarda Civil Municipal (GCM) não foi acionada para esta ocorrência. O caso foi atendido pela Polícia Militar, que encaminhou as partes ao 3º DP.

A Administração esclarece que possui ampla rede de enfrentamento à violência contra a mulher ofertada no município. Desde 2021, vigora em São Bernardo a Lei Guardiã Maria da Penha para proteção de mulheres vítimas de violência, por meio da atuação preventiva e comunitária da GCM. O projeto nasceu de uma parceria com o Ministério Público de São Paulo. Toda mulher que passa por situação de violência é encaminhada aos órgãos específicos de atendimento (prestação de socorro médico, condução ao distrito policial, preferencialmente à Delegacia da Mulher, entre outros).

Além disso, a mulher é orientada sobre a rede de atendimento do município como, por exemplo, o Centro de Referência da Mulher (CRAM), que atua no enfrentamento da violência de gênero e na ruptura da situação de violência doméstica, por meio de atendimento psicossocial, orientações e encaminhamentos de forma gratuita e sigilosa.

São Bernardo conta ainda com vara especializada em Violência Doméstica e Familiar, além do Hospital da Mulher, a Casa da Mulher – que oferece mecanismo para acolher, de forma provisória e excepcional, mulheres que estejam vivenciando situações de violência doméstica e familiar baseada no gênero, em risco pessoal e social de morte – e a Delegacia de Defesa da Mulher, que oferece infraestrutura completa para atendimento e acolhimento de mulheres vítimas de violência.

Em outubro passado, a Prefeitura lançou a campanha São Bernardo Unida contra a Violência Doméstica, que visa alertar a população que a agressão é crime e aprofundar a capacitação de agentes que atendem as vítimas.

O que diz o filho do proprietário

A reportagem entrou em contato por e-mail com Eduardo Massahiro, filho do dono do imóvel que teria participado das agressões. solicitando uma entrevista. Massahiro aceitou, mas não respondeu as perguntas enviadas.

*Matéria atualizada às 15h do dia 22 de novembro de 2023 para incluir a nota da prefeitura de São Bernardo do Campo

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