Carol Ito recebeu comentários em tom de ameaça e com ofensas ao compartilhar trecho da recém-lançada HQ “Siriricas Tristes”
A quadrinista e jornalista Carol Ito foi alvo de um ataque na internet há duas semanas. Postagens feitas por ela foram alvo de comentários em tom de ameaça e com ofensas ao trabalho da artista.
A postagem alvo dos ataques exibia um trecho do HQ Siriricas Tristes (Veneta, 2023), lançado oficialmente na CCXP, evento de cultura geek que ocorreu na semana passada em São Paulo. A obra foi escrita por Carol durante a pandemia e fala de angústias femininas.
O trecho exibido na conta da autora no Instagram era do conto “Manifesto Piranha-Brasil”. A história fala de masturbação feminina e pornografia.
“Eu espero que esse país afunde e esse tipo de pessoa seja a primeira a morrer”, escreveu um homem ao compartilhar a imagem do quadrinho “Manifesto Piranha-Brasil”, parte do livro Siriricas Tristes.
Ela também recebeu as ameaças nos comentários de fotos. “Por isso eu admiro o reino animal. Quando nasce um assim, eles matam no ninho”, escreveu outro homem.
Em entrevista à Ponte, Carol contou que nunca tinha passado por situação parecida. “É a primeira vez que eu recebo um ataque de homens. Quando eu sofro hate (receber ódio, em livre tradução) na internet, é mais difundido entre homens e mulheres. Às vezes por questões de transfobia ou quando falo de assuntos mais espinhosos como capitalismo. Mas vir só homens e com essa questão de violência foi a primeira vez. Primeira vez que recebo ameaças de morte também. Nunca tinha acontecido em 10 anos de carreira”, disse.
Ela conta que recebeu um volume grande de comentários, todos feitos por homens. “Me chamou atenção o fato de serem todos homens e com um discurso muito parecido. Eles não estavam criticando só a minha arte, mas estavam neste tom de violência, de dizer que eu sou burra, que eu não sei escrever, que eu merecia morrer” , relata Carol.
Assustada, ela contou que optou por apagá-las.“Crítica eu costumo deixar, eu não apago porque faz parte. Agora, xingamento e a ameaça aí realmente é uma coisa que assusta. Você não conhece, não sabe o quanto essas pessoas podem levar a fundo o que elas prometem.”
Além de Siricas Tristes, Carol é autora de Inteiro pesa mais que metade – Depressão, ansiedade e positividade tóxica (nVersos, 2023) e participou da coletânia Boy Dodói – Histórias reais e ilustradas sobre masculinidade tóxica (Bebel Books, 2023).
As advogadas especialistas em direito digital, propriedade intelectual e direitos autorais, Yhannath Silva e Mariana Leite, avaliam que casos como o de Carol podem ser levados a Vara Civil, para além de um processo criminal.
Elas explicam que um processo civil neste tipo de caso pode levar a remoção do conteúdo, exclusão de perfil em rede social e indenização. Com o fim do processo, o juiz pode enviar ofício ao Ministério Público para que seja avaliada a existência ou não de crime.
Mariana argumenta ainda que é importante desmistificar a ideia de que as ações on-line não geram consequências. “Com certeza é uma falácia dizer que internet é terra de ninguém. Todas as leis civis, penais, de consumidor e etc, podem ser aplicadas aos casos originados na internet e nas redes sociais. O que leva as pessoas a acreditarem que internet é terra sem lei é a ignorância somente. Se você entrar no sistema processual do Tribunal de Justiça de São Paulo verá milhares de processos que tiveram início com fatos da internet”, diz Mariana.