Vídeo revela que Fernando Henrique da Silva, 23 anos, foi baleado pela primeira vez por PMs 14 segundos após ser jogado, algemado, de uma altura de aproximadamente 8 metros. Os outros 3 tiros foram dados em um intervalo de 56 segundos
O passo a passo da execução de Fernando Henrique da Silva:
07 seg. – Fernando está no telhado, com as mãos para o alto, sob a mira das armas de dois policiais militares, que estão em cima de um muro
17 seg. – Carros da PM descem a rua da casa onde Fernando está; à esquerda na imagem
51 seg. – Um policial militar da Rocam (Ronda Ostensiva Com Apoio de Motocicletas) começa a chegar perto do telhado onde Fernando está
1 min.11seg. – Fernando é rendido pelo PM da Rocam
1 min. 13 seg. – O policial militar da Rocam e os dois que estão em cima do muro obrigam Fernando a se deitar no telhado, de bruços
1min. 35 seg. – Fernando é algemado pelo PM da Rocam
1min. 43 seg. – O policial militar da Rocam levanta Fernando
1 min. 50 seg. – O policial militar da Rocam joga Fernando do telhado, que tem cerca de oito metros de altura
2 min. 04 seg. – O primeiro tiro contra Fernando é disparado
2 min. 16 seg. – O segundo tiro. O PM da Rocam começa a deixar o telhado. Ele volta pelo mesmo lugar por onde subiu. Depois, ao ser preso, o militar disse que jogou Fernando do telhado por não ter um lugar para descê-lo
2 min. 37 seg. – O terceiro tiro
2 min. 56 seg. – O quarto tiro
Assista ao vídeo com imagens inéditas da captura de Fernando da Silva:
Paulo Henrique Porto de Oliveira, 18 anos, e Fernando Henrique da Silva (o rapaz detido no telhado), 23, foram mortos a tiros por PMs dos 23º e 16º batalhões, na tarde de 7 de setembro.
Imagens gravadas com um telefone celular e obtidas pelas Ponte Jornalismo mostram que o rapaz, assim como o amigo Paulo, foi rendido pela Polícia Militar antes de ser morto com quatro tiros (abdômen, lombar, virilha e mão esquerda, o que indica tentativa de defesa).
Fernando da Silva foi detido por um PM da Rocam (Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas) em um telhado e, depois de ser totalmente dominado e algemado, foi jogado de uma altura de oito metros. Após a queda de Fernando, é possível ouvir o barulho de quatro tiros (aos 2min.4seg. da gravação; 2:16; 2:37 e 2:56).
Na versão desmontada pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), da Polícia Civil, os PMs Flavio Lapiana de Lima e Fabio Gambale da Silva, ambos com 33 anos de idade e da 4ª Companhia do 16º Batalhão da PM, tentaram explicar assim a morte de Fernando da Silva:
“Na rua Maria Burgueta Marcondes Pestana, nº xx, os militares foram informados pela moradora que um indivíduo [Fernando Silva] havia entrado na residência. Os militares [Lapiana e Gambale] entraram na casa e, neste momento, o indivíduo, vindo da casa vizinha, pulou no quintal da casa onde os policiais militares estavam. O indivíduo disparou em direção ao policial Lapiana. Os policiais foram obrigados a disparar contra o indivíduo.”
Os PMs Lapiana e Gambale também disseram à Polícia Civil que Fernando da Silva usou uma pistola 9mm para atirar contra ambos,
mas os investigadores sabem que a arma foi plantada junto ao corpo do rapaz da mesma maneira como outros PMs foram filmados fazendo com Paulo Oliveira, morto perto da lixeira onde havia se escondido.
Além de Lapiana e Gambale, também foram presos pela farsa na morte de Fernando da Silva os PMs Angelo Felipe Mancini, Paulo Eduardo de Almeida Hespanhol, Samuel Paes e João Maria Bento Xavier.
À polícia, a moradora da casa onde Fernando Silva foi morto disse que não viu a ação dos PMs e que apenas ouviu os tiros em sua propriedade.
Na sexta-feira (11/09), cinco PMs foram presos após a revelação de imagens de câmeras de segurança que mostraram que Paulo Oliveira, 23 anos, amigo de Fernando da Silva, morto quando também estava rendido. O rapaz se rendeu após ter se escondido em uma lixeira comunitária.
Pela versão que apresentaram à Polícia Civil, os PMs Tyson Oliveira Bastante, 26 anos, e Silvano Clayton dos Reis, 31, ambos da 3 Companhia do 23 Batalhão da PM, assumiram ter atirado contra Paulo Henrique. Outros três PMs que deram cobertura aos dois _Mariani de Moraes Figueiredo, Silvio André Conceição e Jackson Silva Lima_ também estão presos.
Paulo Oliveira e Fernando da Silva, segundo os PMs envolvidos em suas mortes, eram perseguidos porque eram suspeitos de tentar roubar uma moto. Ao ser interrogado pela polícia, o dono da moto disse que os dois jovens não estavam com armas de fogo. Os jovens estavam com uma faca.
Os PMs envolvidos na perseguição, captura e morte de Paulo Oliveira e Fernando Silva também disseram à Polícia Civil que os dois chegaram a atirar contra carros da Polícia Militar durante a fuga, mas um homem que teve seu carro atingido por uma leve batida durante a perseguição disse não ter visto se os jovens atiraram na direção dos PMs. O motorista disse apenas ter visto a moto com os dois rapazes, na contramão da rodovia Raposo Tavares, e um carro da PM atrás deles.
Depois de atirar contra Paulo Oliveira, um PM vai até um carro da polícia, pega uma pistola no banco traseiro, aciona o rádio para comunicar a central da corporação sobre um tiroteio e volta até o corpo do jovem, onde coloca a arma retirada de dentro do veículo.
Pela versão que apresentaram à Polícia Civil, os PMs Tyson Oliveira Bastiane, 26 anos, e Silvano Clayton dos Reis, 31, ambos da 3 Companhia do 23 Batalhão da PM, assumiram ter atirado contra Paulo Henrique.
Ao todo, 11 PMs estão presos pelas mortes de Fernando da Silva e Paulo Henrique.
A APMDFESP (Associação dos Policiais Militares Portadores de Deficiência do Estado de São Paulo) anunciou que irá defender os PMs soldado Silvio André da Conceição e o cabo João Maria Bento Xavier.
“Estamos pedindo revogação da prisão temporária. Caso não consigamos, vamos pedir Habeas Corpus. Eles têm residência física, vínculo formal de emprego e um histórico de profissionalismo altíssimo. Estamos em um Estado de direito e a associação tem o dever de defender seus associados em qualquer situação”, afirmou o advogado Fernando Capano, responsável pelo departamento jurídico da APMDFESP.
Comandante-geral se manifesta
Após as execuções de Fernando da Silva e Paulo Henrique, nesta quinta-feira (17/09), o comandante-geral da PM, coronel Ricardo Gambaroni, fez um alerta à tropa de policiais militares de SP (cerca de 90 mil integrantes): “Ocorrências forjadas estão levando nossos policiais para a cadeia”.
O coronel Gambaroni também afirmou que, “para a Polícia Militar, os danos à imagem podem ser irrecuperáveis [por conta das ocorrências com tiroteio forjados e que resultam em mortes]. E para os policiais militares envolvidos os prejuízos financeiros, emocionais e familiares são incalculáveis”.
[…] Um exagero? Não, essa imagem representa muito bem o Brasil, o que não faltam são exemplos de jovens negros executados por policiais. Segundo Carlos Latuff, a reação do deputado só demonstra que a charge está […]
[…] exagero? Não. A imagem representa muito bem o Brasil. O que não faltam são exemplos de jovens negros executados por policiais. Segundo Carlos Latuff, a reação do deputado só demonstra que a charge está […]
[…] No boletim de ocorrência registrado na mesma tarde das duas execuções, sem as informações reveladas pelos vídeos, e com apenas as informações das testemunhas apresentadas pelos próprios policiais militares, Fernando Henrique não teve nem o nome citado. Ele apareceu como um “desconhecido”, com cerca de 70 quilos, 1,80m de altura e uma tatuagem de flores na perna direita. Informações que pouco revelavam sobre o menino alegre e afetuoso, que era um orgulho para a mãe. Orgulho por terem, juntos, enfrentado e sobrevivido a enormes desafios. A versão dos dos policiais foi questionada por uma investigação da Polícia Civil, pelos laudos da perícias e pela pressão da imprensa sobre o caso, que foi revelado pela Ponte Jornalismo. […]