Peritos contratados por parentes de pessoas mortas pela polícia contestam laudos oficiais. Família recorre até a Brasília para reabrir investigações
Incansáveis. Assim podem ser definidas as famílias de jovens mortos em supostos confrontos com a polícia que não aceitam as versões oficiais. Elas investem tempo e dinheiro para tentar provar que seus entes queridos eram inocentes. E apontam falhas nas investigações feitas pela Polícia Civil e pelo Ministério Público.
Se preciso, essas pessoas contratam peritos particulares e pagam advogados para recorrer até o Superior Tribunal de Justiça (STJ) no intuito de reabrir as investigações. Nesta série de reportagens a Rede Lume conta a história de três dessas famílias.
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A servidora pública Marilene Ferraz da Silva Santos é uma delas. Seu filho Davi Gregório Ferraz dos Santos foi morto pela Polícia Militar de Londrina em junho de 2022, quando tinha apenas 15 anos. Os policiais dispararam mais de 20 tiros alegando que, durante uma abordagem, o menino empunhou um revólver. Nada menos que 15 projéteis acertaram em cheio o corpo do adolescente.
O caso foi arquivado pela Justiça em primeira instância a pedido do Ministério Público do Paraná (MPPR), mas a família não se conformou. Recorreu primeiro ao Tribunal de Justiça (TJ) e depois a Brasília. No processo, a defesa de Davi diz tratar-se de “aberração jurídica” a PM alegar que agiu em legítima defesa, “ainda mais quando os atiradores são profissionais e a vítima é adolescente que não efetuou nenhum disparo”.
As famílias dos jovens Anderbal Campos Bernardo Júnior e William Jones Faramilio da Silva Junior também não se conformam. Elas contrataram um perito particular ao saber que o MPPR recomendou o arquivamento do inquérito que investiga o caso. Os rapazes tinham 21 e 18 anos, respectivamente, em maio de 2022, quando foram mortos por policiais.
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Em seu laudo, o perito contratado contesta a versão dos PMs de que atiraram a uma distância de cerca de três metros. Ele aponta disparo a queima roupa. Além disso, critica o exame cadavérico feito pelo Instituto Médico Legal (IML) no corpo de Anderbal: “Embora nem todos os disparos tenham sido transfixantes, o legista não descreveu, como é de regra, quais órgãos internos foram atingidos ou de onde foram coletados os projéteis para remessa à Balística Forense.”
O perito oficial que esteve no local das mortes não teve acesso às armas que estavam que estavam com os jovens, segundo a PM. Elas só foram entregues à Polícia Civil mais de três horas após a ocorrência.
A reportagem também ouviu o mestre de obras Claudmir Ferreira do Nascimento. Seu filho Willian Lucas Souza Nascimento foi morto pela Polícia Militar na cidade de Ponta Grossa em abril de 2021. O inquérito policial que apura o caso tramita a passos lentos. Nascimento também recorreu a perito particular para mostrar que a arma e o carregador entregues pela PM como tendo sido usados por Willian são incompatíveis um com o outro.
O que dizem as autoridades
A reportagem procurou a Secretaria do Estado da Segurança Pública e o Ministério Público Estadual para ouvi-los a respeito das reclamações dos familiares citados nesta reportagem, mas nenhum dos órgãos se manifestou.