Vereador carioca perseguiu Lia Mersi e postou vídeo dizendo que ela estaria com a “rola de fora”. Influenciadora conta que tentou registrar caso na delegacia de Bangu, zona oeste da cidade do Rio, mas não foi atendida pelos policiais
A influenciadora digital Lia Mersi acusa o vereador carioca Gabriel Monteiro (sem partido) de transfobia após o parlamentar ter seguido ela e um grupo de amigas durante uma manifestação no bairro de Copacabana, zona sul da cidade do Rio de Janeiro, e publicar um vídeo em suas redes sociais. O caso ocorreu há cerca de seis meses, segundo Mersi, mas ela só teve conhecimento da publicação das imagens na última semana.
A primeira providência de Lia ao saber que tinha sido exposta nas páginas de conteúdo de Monteiro foi procurar a 34ª DP, em Bangu, zona oeste da cidade do Rio de Janeiro, para prestar queixa contra o parlamentar. Porém, segundo ela, os policiais fizeram pouco caso do episódio ocorrido com ela e, depois de um dia inteiro de espera, a influencer desistiu de fazer a denúncia.
“Eles não se recusaram a me atender. Simplesmente fizeram pouco caso do que eu estava querendo relatar. Foram passando outras pessoas na minha frente até que eu resolvi ir embora. Ninguém teve o interesse sequer de ver o vídeo”, relata Lia Mersi.
Criada na Vila Militar, a influenciadora diz que o parlamentar há muito tempo já a persegue nas redes sociais fazendo comentários provocativos em suas publicações. De acordo com Mersi, ela nunca deu importância a essas intervenções feitas por Gabriel Monteiro até o dia em que ele a abordou junto com suas amigas em Copacabana.
“O Gabriel já jogava hate há um tempo em mim pela internet. Quando me viu pessoalmente, não fez por menos e começou a seguir eu e minhas amigas por diversas ruas, nos gravando e fazendo várias chacotas para ganhar likes dos amigos dele. Ele entrava por conta no meu perfil, tirava print e espalhava em grupo do WhatsApp da Vila Militar. Soube disso porque o meu padrasto vinha me cobrar quando tomava conhecimento”, comenta.
Em seu perfil no TikTok, Lia Mersi repostou o vídeo feito pelo vereador onde ele aparece segurando uma câmera e fazendo imagens em primeira pessoa. Há outro trecho em que uma terceira pessoa filma a cena. Provocando o grupo, Gabriel diz que está sendo vítima de homofobia e quando as amigas estão caminhando para deixar o local, ele diz para Lia que ela está com “a rola de fora”.
“O intuito do Gabriel é te provocar até você revidar. Quando você faz isso, ele liga a câmera. Eu já sabia disso e ignorei, mas minhas amigas ficaram nervosas com a situação. Ele ficou seguindo a gente por diversas ruas. No vídeo ele fala que estou com ‘rola de fora’. Obviamente isso nunca vai acontecer, porque a maior preocupação de uma travesti é esconder as suas partes íntimas”, relembra.
Lia Mersi afirma que está com medo e não tem saído de casa desde que ficou sabendo da existência dos posts com o vídeo onde ela é atacada pelo parlamentar. “Eu achava que ele estava fazendo mais um vídeo para soltar mais uma vez lá nos grupos da Vila Militar e já tinha um escudo para isso, pois não era a primeira vez. Estou insegura até pelas coisas que eu posto, porque eu não me escondo. Eu sou quem eu sou. Faço um conteúdo voltado para o público LGBTQIA+. Mas ele fazendo post utilizando a minha imagem e fazendo chacota, ele me expõe de uma forma catastrófica para o público dele”, diz Mersi.
Vereador eleito pelo PSD com a maior votação da cidade do Rio de Janeiro em 2020, o ex-policial militar Gabriel Monteiro passou a ser apontado como autor de uma série de supostos crimes recentemente, incluindo acusações de abuso sexual, de infrigir direitos de crianças e de forjar um ataque a tiros contra sua equipe, entre outras. Nesta quarta-feira (6/4), foi autorizada a instalação de um processo de cassação contra o vereador no Conselho de Ética da Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
Outro lado
A Ponte procurou a Polícia Civil do Rio de Janeiro para entender porque os policiais da 34ª DP se recusaram a atender Lia e a assessoria do vereador para entender a motivação por trás do ataque transfóbico, mas não teve respostas até a publicação desta reportagem.