Ygor Santos, o Yguinho, conta que voltava do Baile da Marcone, na zona norte da cidade de São Paulo, quando foi espancado por PMs. Foi levado à delegacia, mas nenhum registro da violência foi feito
As primeiras horas do domingo (31/1) foram desesperadoras para o influenciador digital Ygor Santos, o Yguinho, 19 anos. O jovem também é dono de uma loja de acessórios. Na noite passada, ele tinha ido ao Baile da Marcone, baile de funk da rua Serafim Poli, na Vila Maria, na zona norte da cidade de São Paulo. Quando estava indo embora, por volta das 4h, foi abordado pela Polícia Militar e espancado pelos policiais.
À Ponte, Yguinho afirmou que a abordagem e as agressões não tiveram motivação. “Estava descendo a avenida para pegar o Uber. Nisso os policiais estavam escondidos, ninguém viu nada. Nisso estava eu e dois amigos, estávamos conversando, os três. Eu tava de costas e os meninos de frente para a avenida. Aí os policiais apareceram ‘é a polícia'”.
Assim que foi abordado, alega Yguinho, um dos PMs o enforcou com um “mata-leão“, procedimento que proibido pela Polícia Militar no estado de São Paulo desde agosto de 2020, e o arrastou. “Foram me arrastando para rua debaixo. Me deixaram no chão com as mãos para trás”.
“Pegaram meu RG, meu celular. Eu tava com a cara chão e tomei chutes, mas não consegui ver quem me bateu, porque não tinha uma viatura só, tinham várias. Da Força Tática. Eles puxaram o meu RG, falei que era digital influencer, que tinha a minha loja, que era trabalhador”, detalha.
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Com medo, os amigos de Yguinho correram dos policiais, mas, como o amigo demorou para sair, um deles começou a ligar para o celular do jovem. “Um dos PMs atendeu, disse para ele ir lá para trocar ideia. Se meu amigo descesse, eles iam bater nele também”, denuncia.
“Aí eles puxou tudo e viu que tava tudo certinho. A minha camisa ficou destruída, meu boné todo sujo. Fiquei com muita dor no braço direito. Nisso tava passando uns meninos na rua e os policiais bateram neles de cassetete. Esses meninos que tavam passando eles dispensaram. Tinham uns 10 policiais”, lembra o influenciador.
Com algemas apertadas, Yguinho foi levado até o 73º DP (Jaçanã), também na zona norte, cerca de 10km de distância do local da abordagem. Mas, chegando lá, nenhum registro policial foi feito.
“Me deixaram no estacionamento mó tempão dentro da viatura. Aí eu perguntei se não iam me levar para registrar o caso. Ai depois de um tempo, eles abriram a viatura, tiraram a algema, devolveram meu RG e mandaram eu ir embora. Eu não saí e ele [um PM] perguntou o que eu estava esperando e respondi que era meu celular, aí ele devolveu”.
Quando foi embora, Yguinho começou a chorar e gravou uma sequência de stories, postados em seu Instagram, que tem mais de 220 mil seguidores. “Aí eu saí e desabei, comecei a chorar. Foi uma humilhação, eu saindo do DP e o pessoal indo trabalhar me vendo todo sujo, rasgado, dolorido. Não sei porque passei por isso. Por que não fizeram uma abordagem normal? Já chegaram no mata-leão, me batendo”.
Yguinho define como desesperadoras as duas horas que passou sob posse dos policiais militares. “Eu senti muito medo, eu não sabia o que pensar, fiquei pensando o que eu tinha feito para merecer isso. Fiquei olhando a janela, algemado, pensando onde eu ia parar. Muita gente já passou por isso…. eu fiquei pensando que ia morrer, que ia ser preso, que ia ser forjado”.
Darlan Mendes, assessor de Yguinho, considera a ação arbitrária. “É algo constante, que já faz parte da história da polícia do nosso país. Pegar uma pessoa que não cometeu crime algum, torturar, colocar dentro de uma viatura, percorrer mais de 20 minutos, e soltar a pessoa em uma delegacia Por que não realizou o boletim de ocorrência? Se o Ygor tá vivo é porque alguém viu, alguém filmou”.
Darlan enviou um ofício para Elizeu Soares Lopes, ouvidor das polícias. Procurado pela Ponte, o ouvidor confirmou o recebimento do ofício e afirmou que está aguardando mais informações do solicitante para encaminhar o pedido e tomar as devidas providências.
No ofício, o empresário chamou a ação de “sequestro” e pediu que a Ouvidoria encaminhasse o caso para a Corregedoria da Polícia Militar.
Outro lado
A reportagem procurou a Secretaria da Segurança Pública e a Polícia Militar, por meio de suas assessorias, e até o momento não recebeu retorno.