Jadson Ailton, o Negão: da Fundação Casa ao time profissional de futebol do Grêmio

    Como o futebol fez Jadson Ailton, o Negão, deixar o mundo do crime para realizar o sonho de virar jogador. ‘Consegui vê-lo na TV. Chorei de alegria!’, diz a mãe

    Aos 18 anos, Jadson é jogador do time sub-19 do Grêmio mas, pelo bom futebol, tem ganhado chances de treinar com o elenco profissional | Foto: Lucas Uebel/Grêmio

    “Fiz a minha mãe chorar muitas vezes por tristeza. Agora, ela vai chorar de felicidade.” A frase de Jadson Ailton resume a mudança drástica na vida do garoto, de 18 anos. Ex-interno da Fundação Casa, agora ele vive o sonho de virar jogador de futebol.

    Por duas vezes, Negão, como é chamado, foi internado na unidade de Botucatu da antiga Febem. Ambas por tráfico de drogas, aos 14 e aos 16 anos. Passou cerca de dois anos confinado no local.

    Em um campeonato interno de futebol entre as unidades, o talento do atacante sobressaiu. Marcou incríveis 56 gols em oito jogos, média de sete por partida. Ali estava o chute inicial da mudança de vida.

    Antes de ser internado pela segunda vez, Jadson participou de peneiras, mas sem sucesso. Uma delas, para o time sub-20 do Noroeste, acabou dando certo. Não exatamente para vestir o branco e vermelho da camisa usada pelo time homônimo à cidade, mas em um futuro próximo.

    “Quando entrei no União Barbarense, vi que ele (Jadson) tinha uma breve passagem pelo Vasco. Como já o conhecia, chamei para disputar a Copa São Paulo”, explica Róger Silva, ex-diretor de futebol do clube de Santa Bárbara do Oeste, que também passou pelo Norusca.

    Jadson (primeiro à esquerda) treina junto dos atletas profissionais do Grêmio, casos dos consagrados Cortêz (lateral), Barrios (atacante da seleção do Paraguai) e Luan (atacante campeão olímpico com a seleção brasileira na Rio-2016) | Foto: Lucas Uebel/Grêmio

    A participação na Copinha deste ano chamou a atenção até do exterior. De Portugal, Rio Ave e Braga se interessaram. Porém, ele só começaria a jogar no início da temporada europeia, em agosto. Assim, surgiu o sub-19 do Grêmio.

    Em março, Jadson desembarcou em Porto Alegre para a equipe de juniores. Com bom desempenho, ganhou espaço nas atividades comandadas pelo técnico Renato Gaúcho na equipe profissional.

    Em três meses, a primeira chance: ficou entre os relacionados para o jogo do Grêmio contra o Sport, na Ilha do Retiro, pela Série A do Brasileirão. Parece pouco, mas, para a mãe de Negão, Edimara Oliveira, foi uma confirmação.

    “Não tenho palavras. Falaram para eu desistir dele, que não iria para a frente. Eu dizia: ‘Não! Acredito nele’. Se me fez chorar antes, me assustei quando soube que iria para esse jogo. Consegui vê-lo na TV, aquecendo. Chorei muito de alegria”, diz, emocionada.

    Com a chance, o ex-interno da Fundação Casa mantém de pé outro lar: além da mãe, sustenta o filho, José Otávio, que completará 1 ano e dois meses no dia 5. Um verdadeiro golaço de placa feito pelo atacante de São Manuel, cidade no interior de São Paulo.

    No dia 24 de maio, Jadson teve a primeira chance como profissional: ficou no banco de reservas na derrota do Grêmio para o Sport, por 4 a 3, no Recife, pela Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro | Reprodução

    “Hoje, vejo: aquela vida não leva ninguém a nada”

    Por que você foi internado na Fundação Casa?

    Jadson Ailton – Foram duas vezes, com 14 e 16 anos, por tráfico de drogas. Fiquei internado um ano em cada vez.

    O que te fez mudar de vida?

    Nunca parei de sonhar em jogar futebol. Lá dentro, parei e refleti sobre o que queria. Saí e resolvi treinar com firmeza, sempre com dificuldade. Voltei a traficar por não ter condições. Não baixei a cabeça e, sempre com o apoio da minha mãe, Edmara, decidi mudar de vez. Hoje, vejo: aquela vida não leva ninguém a nada.

    A sua história pode influenciar outros jovens?

    Sim! Muitos garotos da minha cidade me olham de outra forma agora. Até tiram foto! Mexeu com a cabeça de muito moleque. O meu sonho é criar uma escolinha de futebol, dar uma oportunidade para que não aconteça com eles o que aconteceu comigo.

    Quais as suas características e o seu sonho como jogador?

    Sou um centroavante brigador. Se não der na técnica, vou na raça, atropelando o zagueiro. Minha meta é ir bem no sub-19 do Grêmio e ser um dos melhores atacantes na categoria no ano. E, quem sabe, um dia chegar na seleção brasileira.

    Negão (sem colete) marca Cortêz em um dos treinamentos realizados com os profissionais do Grêmio | Lucas Uebel/Grêmio

    Já que Tamo junto até aqui…

    Que tal entrar de vez para o time da Ponte? Você sabe que o nosso trabalho incomoda muita gente. Não por acaso, somos vítimas constantes de ataques, que já até colocaram o nosso site fora do ar. Justamente por isso nunca fez tanto sentido pedir ajuda para quem tá junto, pra quem defende a Ponte e a luta por justiça: você.

    Com o Tamo Junto, você ajuda a manter a Ponte de pé com uma contribuição mensal ou anual. Também passa a participar ativamente do dia a dia do jornal, com acesso aos bastidores da nossa redação e matérias como a que você acabou de ler. Acesse: ponte.colabore.com/tamojunto.

    Todo jornalismo tem um lado. Ajude quem está do seu.

    Ajude

    mais lidas