Voluntários que distribuíam alimentos em Cidade de Deus, no Rio, foram pegos em “fogo cruzado”; polícias Civil e Militar dizem que jovem assassinado tinha uma arma
“Espero que meu filho seja o último”, foi o pedido feito pelo profissional autônomo Neilton Pinto, 40 anos, na noite desta quarta-feira (20/5), em entrevista à Ponte Jornalismo, ao lamentar a morte de seu filho João Pedro Mattos Pinto, 14 anos, baleado por uma ação policial enquanto brincava na casa de um primo, dois dias antes, em São Gonçalo (RJ). Seu Neilton não tinha como saber, mas no momento em que fez o pedido João Pedro já não era o último. Na mesma quarta-feira, na capital fluminense, no bairro de Cidade de Deus, uma outra operação policial matava mais um jovem negro: João Vitor da Rocha, 18 anos.
Era fim da tarde quando João Vitor saiu de casa. Não sabia que instantes depois uma operação policial do governo Wilson Witzel (PSC) teria início quando já estava na rua. Policiais civis e militares do estado agiram em área conhecida como Pantanal.
No mesmo momento da ação e em que o jovem saiu de casa, voluntários da Frente Cidade de Deus, um coletivo criado para ajudar às vítimas da crise econômica provocada pela pandemia, entregavam cestas básicas a moradores afetados pela pandemia do coronavírus. Foram surpreendidos por tiros.
Leia também: O que é necropolítica. E como se aplica à segurança pública no Brasil
O conselheiro tutelar Jota Marques era uma das 50 pessoas que estavam no local para entregar 200 cestas. Em vídeo publicado em seu perfil no Twitter, ele explica que participava da ação quando teve início a operação e todos ficaram “no fogo cruzado”.
“Não ficamos mais expostos porque os moradores daquela região colocaram todos nós para dentro de suas casa para nos protegermos”, relembra. Ninguém do grupo se feriu.
Ele e os demais integrantes da Frente foram abordados pelos policiais, que apontaram suas armas aos integrantes do projeto, conforme relata. “São esses alguns dos mecanismos históricos genocidas, que não nos dão a menor alternativa”, afirmou.
Logo após, souberam que João Vitor havia sido ferido. “Uma pessoa foi baleada, levada pelo caveirão. Queremos saber se ela teve todos os seus direitos de atendimento garantidos”, relatou, em publicação do Twitter, no momento da ação. Mais tarde, o conselheiro soube da morte do rapaz.
Jota postou um desabafo: “Ele faleceu. Estamos cansados. A gente não tem direito de entregar comida, a gente não tem direito a cuidar dos nossos. A gente não tem direito a nada”.
Em vídeo registrado após a morte, um dos voluntários se desespera. “Eles são genocidas, entram matando na favela”, diz, enquanto outro integrante da Frente tenta acalmá-lo: “Eles são genocidas e nós somos somos alvo do Estado, sempre foi assim. Nós somos pretos, mano. Então se acalma! Eu não vou te perder, mano”.
Em nota, a Frente Cidade de Deus pediu paz, destacando que, na favela, é o lema “nós por nós”. “A Pandemia não é a única preocupação que todos nós temos diariamente. O Coronavírus Social dói na alma”, diz trecho do documento.
Leia também: O massacre que interrompeu a quarentena no Complexo do Alemão
Questionadas pela Ponte, as polícias Civil e Militar enviaram posicionamentos idênticos. Nas notas, apontam que os policiais entraram no Pantanal para apurar uma denúncia de tráfico de drogas. Alegam que João era um dos suspeitos que abriu fogo contra a tropa e, por isso, foi baleado.
“Durante a ação, traficantes armados dispararam contra os policiais. Houve confronto e João Vitor Gomes da Rocha foi ferido e socorrido ao Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, mas não resistiu. Com ele os policias apreenderam uma pistola”, alegou a Civil no documento enviado à reportagem.
O posicionamento da Polícia Militar traz a mesma mensagem, com alguns termos alterados. “Durante a entrada das equipes, os criminosos atiraram e houve confronto. Um homem foi atingido e socorrido ao Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca. Uma pistola foi apreendida com o indivíduo”, sustenta a corporação.
O outro João assassinado
João Vitor se soma a João Pedro, como temia seu Neilton. O corpo do seu filho ficou desaparecido por 17 horas até ser encontrado. “Foi a polícia que matou o meu filho. O policial, tenho certeza absoluta, não está dormindo. Está raciocinando a besteira que ele fez: tirar a vida de um jovem com futuro brilhante, com muita vontade de viver, de ser advogado, vencer, ser alguém na vida”, afirma.
Antes de João Vitor e João Pedro, outras 13 pessoas morreram em ação da polícia no Complexo do Alemão, zona norte da capital fluminense. Integrantes do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) entraram na favela após denúncia anônima apontar que ali havia um “criminoso, apontado como liderança do tráfico de drogas local”.
[…] carreatas da direita, levando bandeiras e cantos antifascistas, homenagens a George Floyd e também João Vitor e Rodrigo Ciqueira, assassinados pelas polícias cariocas, além da vereadora e militante Marielle […]
[…] högervagnarna och bär antifascistiska flaggor och sånger och hedrar George Floyd och även João Vitor och Rodrigo Ciqueira som mördades av polisen i Rio de Janeiro, som samt rådet och […]
[…] the right-wing caravans, carrying anti-fascist flags and songs, honoring George Floyd and also João Vitor and Rodrigo Ciqueira who had been murdered by police in Rio de Janeiro, as well as councilor and […]
[…] y entonando canciones antifascistas, en homenaje a George Floyd y también a João Vitor y Rodrigo Ciqueira , que habían sido asesinados por la policía en Río de Janeiro, así como a la concejal y […]
[…] carreatas da direita, levando bandeiras e cantos antifascistas, homenagens a George Floyd e também João Vitor e Rodrigo Ciqueira, assassinados pelas polícias cariocas, além da vereadora e militante Marielle […]