Namorada do rapaz afirma que no momento do assalto, ele estava na casa de um amigo; um dos autores do crime disse que não o conhecia
O dia 27 de novembro seria um dia como outro qualquer para Wlaedson Domingos, 19 anos, morador do bairro Jardim Amália, região periférica da zona sul de São Paulo. “Ele acordou, tomou café com a família e ajudou a mãe dele nas tarefas de casa e falou que viria na minha casa”, disse a namorada de Domingos, Ariane Cabral.
Contudo, aquela segunda-feira, terminaria com a prisão em flagrante dele, acusado de ter participado de um roubo de carga na região. Desde então, está preso e aguarda julgamento.
Como era de costume, antes de ir visitar Ariane, Domingos teria passado na casa de um amigo, D.S., 16. “Não fazia nem 10 minutos e eles ouviram alguns tiros”, informou Ariane. Os disparos eram de uma suposta troca de tiros entre policiais militares e bandidos que roubavam a carga de um caminhão próximo à casa onde estavam os amigos.
Assim que ouviu os tiros, D.S. foi até o portão da casa para pegar o irmão mais novo, que brincava por lá. Foi quando um dos três suspeitos de participarem do assalto entraram na casa de D.S.. “Desesperados, eles [Domingos e o amigo adolescente] pediram para que o homem deixasse o lugar”, continua Ariane.
Nesse momento, a polícia invadiu a casa e prendeu todo mundo que estava no local, de acordo com testemunhas. Quando os vizinhos viram que Wlaedson e D.S. estavam sendo presos, tentaram comunicar o erro, mas os policiais foram “agressivos com a população. Nem a mãe do meu namorado [Wlaedson], conseguiu chegar perto”, lamentou Ariane.
Os dois foram encaminhados para o 47º Distrito Policial do Capão Redondo. Na delegacia, segundo Ariane, o autor do roubo informou aos policiais que não conhecia Wlaedson e disse que o único envolvido no crime era ele. Porém, uma das vítimas reconheceu o namorado de Ariane, porque ele estava vestido com uma camisa rosa, da mesma cor que um dos criminosos usavam no momento do assalto.
“Foi aí que um verdadeiro inferno começou em minha vida”, desabafou Ariane. D.S., por ser menor de idade foi liberado. Wlaedson foi encaminhado ao Centro Provisório de Guarulhos 2, após passar por uma audiência de custódia no Fórum da Barra Funda, no dia 28 de novembro. A família de Domingos afirma que, até esse dia, o jovem nunca tinha tido problemas com a Polícia.
A Ponte enviou um e-mail à CDN Comunicação, assessoria privada da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, questionando se, no próprio momento da lavratura do boletim de ocorrência, o delegado não poderia ter desfeito o suposto mal entendido – versão da família de Wlaedson -, mas, até o fechamento da reportagem, não havia resposta.
Liberdade negada
Nesta terça-feira (06), o pedido de liberdade provisória feito pela defesa de Wlaedson, foi negado pelo juiz Marcos Vieira de Morais, da 26ª Vara Criminal da Barra Funda.
Na decisão, mesmo o réu não tendo nenhum tipo de passagem policial e com a confissão de um dos autores do roubo, Morais, para indeferir o pedido de liberdade, afirma que o crime “trata-se de delito que demonstra a frieza e descaso dos autores para com a vida humana”.
O jovem está há 2 meses e 12 dias preso sem ter data marcada para o próximo julgamento. Sobre o tempo de espera, a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) informou que o “tempo de espera depende do acervo de cada vara, [por isso] não é possível prever” uma data para o julgamento.
O TJ-SP disse que por causa do recesso de fim de ano do Judiciário, alguns julgamentos foram afetados. No sistema prisional brasileiro, 40% da população carcerária ainda aguarda que seus casos sejam julgados, segundo o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen) divulgado no dia 8 de dezembro de 2017, em Brasília, pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen), do Ministério da Justiça.