Jovem negro com deficiência é morto no Rio e família acusa PMs

Irmã de Ruan Limão do Nascimento, 27, afirma que ele foi atingido pelas costas quando estava em uma fila para cortar cabelo numa barbearia na comunidade Barreira do Vasco; “nenhuma mãe merece enterrar o filho no dia das mães”, lamentou

Ruan Limão do Nascimento, 27, tinha deficiência intelectual e saiu de casa para cortar o cabelo, segundo a família | Foto: reprodução/Twitter

“Nenhuma mãe merece enterrar o filho no dia das mães”, lamentou, revoltada, pelas redes sociais a irmã de Ruan Limão do Nascimento, 27, morto durante uma ação policial na noite de sexta-feira (6/5) na comunidade Barreira do Vasco, na região de São Cristóvão, zona norte da cidade do Rio de Janeiro, na antevéspera do Dia das Mães.

Segundo as publicações da irmã, a vítima tinha saído de casa para cortar o cabelo em uma barbearia e foi atingido nas costas enquanto esperava na fila. Ele tinha deficiência intelectual. “Eu não tô tendo estrutura, não tô aguentando ver policia na minha frente. Meu Deus, por que o senhor virou as costas desse jeito pro nosso menino? Ele nunca fez mal a ninguém”, escreveu Isabela Limão do Nascimento, 21.

Ela disse ao jornal Extra que não estava acontecendo operação policial na comunidade. “Meu irmão estava parado em frente a um salão para cortar o cabelo. Do nada, chegou um policial à paisana e deu um tiro nas costas dele. Botou ele no porta-malas de um carro vermelho com mais três policiais e abandonou ele aqui no Souza Aguiar [hospital municipal]”, declarou.

Os moradores fizeram um protesto com queima de latas de lixo, conforme publicações no Twitter.

A página da comunidade Barreira do Vasco também publicou uma nota de luto e repúdio. “Hoje nossa comunidade chora, perdemos um cria com uma covardia que o Estado vem cometendo com todos nós moradores, tiraram a vida de um deficiente, um garoto brincalhão que só pensava em dançar e brincar”.

Uma página da 4ª Família da Força Jovem do Vasco, time pelo qual Ruan torcia, também fez uma postagem de luto.

https://www.facebook.com/fjv4familiaoficial/posts/3118228158428379

O que diz a PM

A Ponte questionou a assessoria da Polícia Militar sobre o motivo da ação, se os policiais estavam descaracterizados e por que atiraram. A pasta não respondeu quantos PMs estavam envolvidos nem se estavam à paisana. Encaminhou a seguinte nota:

A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informa que policiais militares do 4ºBPM (São Cristóvão) relataram terem ido verificar local de comercialização ilegal de cobre na localidade do Café, próximo da comunidade Barreira do Vasco, em São Cristóvão, na noite de sexta-feira (06/05), onde ocorreu confronto durante a checagem.

Após cessar a situação, houve apreensão de uma granada, um rádio comunicador e 240 papelotes de crack.

Um homem ferido foi encontrado e socorrido ao Hospital Municipal Souza Aguiar.

A ocorrência foi encaminhada para a 17ª DP e depois para a Delegacia de Homicídios da Capital.

A 1ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM) foi acionada pelo Comando da Corporação para o caso e ouviu os policiais militares envolvidos na ocorrência. Um procedimento apuratório interno está instaurado.

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Também perguntamos à assessoria da Secretaria Municipal de Saúde, responsável pelo hospital, se Ruan foi socorrido com vida pelos policiais. A pasta não respondeu, apenas disse que “o paciente, infelizmente, não resistiu e foi a óbito a noite dessa sexta-feira (6)”.

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