Estudantes do Visconde de Porto Seguro, em Valinhos (SP), compartilharam imagens nazistas e fizeram comentários xenofóbicos e racistas; mãe de aluno registrou boletim de ocorrência
Pouco tempo depois que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi declarado vencedor das eleições presidenciais de 2022, um jovem de 15 anos, filho de um congolês com uma brasileira, foi colocado em um grupo de WhatsApp com outros adolescentes que estudam na mesma escola que ele. As mensagens que viu ali eram racistas, nazistas e xenofóbicas.
Ao tentar alertar aos mais de 30 participantes do grupo “Fundação Anti Petismo” que a propagação daquele tipo de mensagem era crime, o jovem negro passou a ser alvo de ataques. Nas mensagens recebidas estão imagens do ditador alemão Adolf Hitler e frases como “pela reescravização dos nordestinos” e “quero sua mãe aquela negrinha”.
A mãe do rapaz, a advogada Thais Cremasco, diz que não é a primeira vez que o filho é alvo de racismo dentro do Colégio Visconde de Porto Seguro, em Valinhos, no interior de São Paulo. Segundo a revista Forbes, a instituição de ensino é umas das 31 mais caras do país, com mensalidades, em 2021, que chegavam a R$ 4.689.
“Eu trabalho com causas sociais, somos uma família de esquerda e meu filho sempre se posicionou contra fake news. Moramos muito tempo fora do país e retornamos há dois anos. Já falaram da cor e do cabelo dele na escola, mas damos espaço para escola educar e punir da melhor forma seus alunos. Só que dessa vez foi assustador”, conta.
A advogada registrou um boletim de ocorrência contra a escola e os alunos envolvidos na Delegacia de Valinhos por crime de racismo. Segundo ela, mesmo que os crimes não tenham sido cometidos dentro do ambiente escolar, o colégio tem que tomar alguma atitude diante do que foi publicado no grupo de mensagens.
“As pessoas precisam entender que esse tipo de crime é muito grave. Não importa sua classe social, o racismo atravessa até mesmo quem tem dinheiro. Se meu filho fosse pego com uma arma dentro de um shopping, por exemplo, certamente estariam pedindo a expulsão dele da escola”, explica Thaís.
Ao levar o caso a um grupo com pais de alunos do Colégio Visconde de Porto Segura, a advogada diz que muitos tentaram minimizar a situação dizendo que aquilo era uma brincadeira entre adolescentes. Porém, alguns se solidarizaram ao ataque sofrido por seu filho e lhe deram apoio.
“É um colégio de pessoas de elite, de uma mensalidade alta, e meu filho é jovem negro inserido neste meio. Um dos rapazes que o atacou é branco e tem 17 anos. Muitos desses pais que estão relativizando o caso são mesmo que pedem redução da maioridade penal para jovens negros da perifeira, da mesma idade dos seus filhos, quando cometem alguma infração”, denuncia a mãe.
De acordo com Thais, o colégio comunicou que um dos adolescentes que escreveu mensagens ofensivas no grupo do AhatsApp está suspenso das aulas, mas por indisciplina dentro da escola e não pelos ataques feitos contra o seu filho. Para ela, falta uma atitude mais contundente da escola contra os alunos que estão propagando racismo xenofobia.
“Eles disseram que iam conversar com setor jurídico deles ainda. Os outros alunos não são obrigados a conviver com quem defende e dissemina esse tipo de coisa por aí. Meu filho é muito forte e não é primeira vez que ele passa por isso, mas a minha filha mais nova está muito abalada.”
Outro lado
A assessoria de imprensa do Colégio Visconde de Porto Seguro enviou uma nota repudiando o racismo dos alunos mas não detalhou nenhuma punição que os alunos podem receber:
“O Colégio Porto Seguro repudia qualquer ação e ou comentários racistas contra quaisquer pessoas. Os atos de injúria racial não são justificados em nenhum contexto.
Considerando que a construção de uma sociedade livre, justa e igualitária pressupõe o respeito à diversidade e as liberdades. O Colégio não admite nenhum tipo de hostilização, perseguição, preconceito e discriminação.
Vale lembrar que em todos os campus do Colégio são realizadas palestras, orientações educacionais e projetos sobre a diversidade de opinião, de raça e gênero para alunos e comunidade escolar.“