Família do estudante alega que o crime foi motivado por racismo. Outro rapaz negro morreu em 2018, com traumatismo craniano, após sair do mesmo estabelecimento
A Polícia Civil de São Paulo ainda não capturou o segurança da boate Kart Beer, em Sorocaba, interior de São Paulo, que atirou e matou o estudante Vitor Nascimento Carvalho Bernardino, de 21 anos. O crime ocorreu neste final de semana, quando o jovem estava com amigos nos local. A família denuncia que a morte foi motivada por racismo, já que o rapaz era único negro do grupo.
De acordo com testemunhas, houve uma briga generalizada dentro do local envolvendo a turma que Vitor estava e outros jovens na madrugada do último sábado (6/11). Seguranças da boate retiraram Vitor e seus amigos por último do local esperando que as outras pessoas que entraram em luta corporal se afastassem da boate.
Quando já estavam dirigindo até o carro para ir embora, os companheiros de Vitor afirmam que um dos seguranças junto com um homem desconhecido foram até eles e começaram a espancar o estudante. O segurança mostrou que estava armado e quando o jovem já estava dentro do carro, disparou dois tiros contra ele. “Quem estava no local contou que meu primo não participou da briga. Ele tentou separar a confusão”, diz Azizy Kizzi Herculano, prima de Vitor.
Existe uma divergência de informações sobre a identidade do autor dos disparos. Em um post feito em sua conta do Instagram, a boate Kart Beer afirma que o segurança se chama Glauber e que ele não estaria trabalhando no dia do crime, mas estava no local para aproveitar a noite.
“O assassino GLAUBER, naquele dia, não estava prestando serviços para nosso estabelecimento, o mesmo chegou dizendo que havia brigado com a esposa e estaria ali para curtir a noite. Tanto que toda a equipe de segurança trabalha trajada de roupas pretas e o mesmo vestia camiseta azul e calça jeans”, afirma a boate na nota que postou nas redes sociais.
Porém, em depoimento dado à polícia no dia do crime, Maurício Ângelo da Silva, descrito no boletim de ocorrência como chefe dos seguranças do estabelecimento, diz que conhece o suspeito apenas como “Clóvis Afonso” e que no momento da briga o viu correndo na companhia de um indivíduo desconhecido em direção ao grupo de amigos.
A família de Vitor não acredita na versão dada pela Kart Beer, que alega que o autor dos disparos não estava trabalhando naquele dia e reforça a tese que o parente foi vítima de um crime motivado por racismo. “Os amigos, que estavam com ele no momento, garantem que quem atirou estava com as mesmas roupas dos seguranças. Uma outra coisa é que o Vitor era o único rapaz negro do grupo, não estava envolvido na briga, e foi o único baleado”, desabafa Azizy.
Em 2018, um outro jovem negro morreu após sair de uma festa na Kart Beer. Caique dos Santos Souza tinha 25 anos e foi encontrado morto às margens da rodovia Raposo Tavares, com um traumatismo cranioencefálico, provavelmente ocasionado por uma agressão física, como afirmou o Hospital Regional de Sorocaba. O estabelecimento informou ao portal G1 que o Caíque esteve no local no dia em que morreu, mas que não houve nenhuma anormalidade dentro do recinto.
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou, através de nota, que o caso foi registrado como homicídio no plantão norte de Sorocaba, sendo encaminhado ao DEIC do município para continuidade nas investigações.
Biologia, pesca e amigos
O Vitor estava na boate no último final de semana para a despedida de Leonardo Henrique Ribeiro Vilela de Camargo, que em poucos dias iria se mudar para Curitiba. Os dois jovens se conheciam desde os 14 anos e, segundo Leonardo, estavam juntos todos os finais de semana. “Era meu melhor amigo. Está todo mundo desolado com isso que aconteceu”, conta.
Leonardo estava no momento em que Vitor foi baleado, mas, de acordo com ele, não pode dar detalhes sobre o momento do crime a pedido da polícia, para não atrapalhar as investigações. Ele e outros amigos que testemunharam o crime prestaram depoimento na segunda-feira (8/11), em Sorocaba. “Vitor era a alegria da turma. Conseguia fazer todo mundo sorrir”, lembra Leonardo.
“Era um menino muito bom, não mexia com ninguém e era muito engraçado. Filho único, estava trabalhando para pagar a faculdade de Biologia que ia terminar ano que vem. A coisa que ele mais gostava de fazer era pescar”, conta a prima Azizy Kizzi Herculano.