Jovem que afirma ter sido preso injustamente aguarda julgamento em liberdade

    Wlaedson Domingos afirma que policiais o confundiram com ladrão depois que assaltantes em fuga invadiram sua casa, na zona sul de SP; segundo MP, vítima de roubo o reconheceu

    Wlaedson abraça a mãe no dia de sua libertação | Foto: Arquivo pessoal

    Após cinco meses preso, Wlaedson Domingos, 19 anos, pôde voltar para casa e abraçar sua família. Acusado de roubo, ele recebeu liberdade provisória, em 26 de abril e o direito de aguardar em liberdade o resultado de seu julgamento — a próxima audiência do caso está marcada para 6 de setembro, no Fórum Criminal da Barra Funda. O jovem e sua família afirmam que Wlaedson é inocente e foi preso injustamente.

    Wlaedson foi preso em 27 de novembro, na casa de um amigo, D.S., 16 anos, no Jardim Amália, região periférica na zona sul da cidade de São Paulo. Ele afirma um homem, que teria praticado um roubo de carga, com outros dois ladrões, e estava fugindo da polícia, invadiu o casebre onde estava. Wlaedson e o amigo teriam pedido que o homem fossem embora dali, mas no minuto seguinte a policiais militares chegaram e prenderam todos que estavam no local.

    Levados ao 47º DP (Capão Redondo), tanto Wlaedson como o outro homem, Luis Fernando dos Santos, foram reconhecidos pela vítima do roubo. Amiga de Wlaedson, Ariane Cabral, acredita que a vítima se confundiu porque o menino vestiria uma camiseta da mesma cor usada por um dos ladrões, que não foi pego. Um outro suspeito de participar do assalto, Vinicius de Oliveira da Silva, foi reconhecido por fotografia.

    O motorista contou à polícia que, quando descarregava mercadorias, foi abordado por Luís, que anunciou o assalto fingindo estar armado, enquanto Vinicius fechava o HB20 da vítima com uma motocicleta e Wlaedson entrava no carro. Ele fugiu e os ladrões saíram de lá levando o carro e a carga. Graças ao rastreamento oculto que havia na carga, a PM localizou os assaltantes e passaram a persegui-los, até prendê-los na casa de D.S.

    Segundo a família, ao ser detido, Luís teria dito à polícia que Wlaedson não tinha ligação com o roubo. A defesa também chama a atenção para o fato de que, quando Wlaedson foi preso, uma hora e meia depois do crime, nenhum produto do roubo foi achado com ele.

    Wlaedson acredita que sua prisão foi motivada por sua cor de pele e pelo local onde mora. “Preconceito todas [pessoas com minhas características] sofrem, eu só fui mais uma vítima”, diz. Para o jovem, o tempo em que passou encarcerado não faz parte de sua vida, porque lá “não era vida”. Na cadeia, “somos tratados como lixo”.

    Quando voltou para casa, em abril, a primeira coisa que fez foi tomar um banho quente e deixar a água levar embora tudo o que não queria com ele. Em seguida, foi comemorar numa festa por sua liberdade, organizada por parentes e amigos.  A noite de alegria, porém, terminou em repressão policial.

    Por volta das 2h da manhã do dia 27, policiais do 37º Batalhão da Polícia Militar fecharam as vias de acesso da avenida Dom Rodrigo Sanches, onde ocorria a festa. Depois, segundo Fernando Ferrari, membro da Rede de Proteção e Resistência ao Genocídio  “o que houve foi uma agressão coletiva”.  Segundo ele, um jovem teve um ferimento na cabeça e foi levado ao Hospital do M’Boi Mirim, também na zona sul, onde recebeu atendimento médico e levou pontos. Procurada a respeito, a a assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública não se manifestou.

    Ariane Cabral acredita que a atuação de movimentos sociais, como a Frente Povo Sem Medo, que denunciou a “prisão injusta” de Wlaedson, pesaram na decisão do juiz Marcos Vieira de Morais de conceder a liberdade provisória. Ela espera que possa também influenciar na sentença. Já Wlaedson afirma que não tem mais fé na justiça. “Não sei [se serei absolvido]”, disse.

    Já que Tamo junto até aqui…

    Que tal entrar de vez para o time da Ponte? Você sabe que o nosso trabalho incomoda muita gente. Não por acaso, somos vítimas constantes de ataques, que já até colocaram o nosso site fora do ar. Justamente por isso nunca fez tanto sentido pedir ajuda para quem tá junto, pra quem defende a Ponte e a luta por justiça: você.

    Com o Tamo Junto, você ajuda a manter a Ponte de pé com uma contribuição mensal ou anual. Também passa a participar ativamente do dia a dia do jornal, com acesso aos bastidores da nossa redação e matérias como a que você acabou de ler. Acesse: ponte.colabore.com/tamojunto.

    Todo jornalismo tem um lado. Ajude quem está do seu.

    Ajude

    mais lidas