Jovem que denunciou tortura de PMs em MG é libertado

Vinicius Fernandes Souza contou ter sido submetido a tortura com spray de pimenta e saco plástico colocado na cabeça. Ponte denunciou o caso na quarta-feira (22/3)

O pedreiro Vinicius Fernandes Souza, 24 anos, ficou uma semana presa por tráfico de drogas | Foto: Arquivo pessoal

O pedreiro Vinícius Fernandes Souza, 24 anos, teve alvará de soltura expedido pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG) nesta quinta-feira (21/3). O jovem foi preso no dia 13 de março na frente da casa em que vive. Ele contou ter sido alvo de tortura pelos policiais militares responsáveis pela abordagem. Uma testemunha ouvida pela Ponte confirmou a versão.

A Ponte contou da prisão de Vinícius. O pedreiro teria levado socos e chutes e recebido spray de pimenta dentro do camburão. Uma sacola plástica também teria sido colocada na cabeça do pedreiro. 

Vinícius foi abordado pelos policiais militares Elias Nelson Rogger da Silva Rodrigues e Breno Viana de Matos Pereira, sob a alegação de que o pedreiro estaria traficando drogas. Em depoimento, os PMs disseram terem encontrado na cueca do jovem crack (26 pedras) e cocaína (19 papelotes). Já em um suposto esconderijo, teriam sido localizados mais entorpecentes: 117 pinos de cocaína, uma porção de maconha e uma balança de precisão em mau estado de conservação.

O juiz Ronaldo Vasques, da 1ª Vara de Tóxicos, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Comarca de Belo Horizonte, “a quantidade arrecadada não proporciona a majoração de sua culpabilidade e, sequer, indica, por ora, sua dedicação à criminalidade, tendo em vista o cenário em que foram abordados”. 

Na decisão, proferida nesta quinta-feira (21), Vasques disse ainda que a prisão preventiva de Vinícius não era justificada “ante a notória presença de questionamentos acerca da infração penal praticada por ele”.

A decisão ocorreu após pedido da defesa de Vinícius e foi acatada pela promotora Ivana Andrade Souza, da 13ª Promotoria de Justiça: Juízo de Tóxicos de Belo Horizonte. Na decisão, Souza afirmou que o jovem tem um filho de um ano.

A promotora cita ainda que não é possível dizer se as drogas apreendidas estavam ou não em posse de Vinícius. Outro ponto é o fato de as investigações sobre a possível tortura contra o jovem estarem em andamento.

“A verdade está sendo restabelecida, mas continuamos na luta para provar definitivamente a inocência do Vinicius”, disse à Ponte o irmão de Vinicius, o advogado Gleidson Fernandes. “Dormiremos de forma tranquila e em paz, recuperando o tempo que ficamos longe do Vinicius, reafirmando que tudo foi forjado”, completou.

Relembre o caso 

Os policiais relatam que viram Vinícius vendendo drogas. A versão é rebatida pela família e por testemunha ouvida pela Ponte. O pedreiro estaria em frente de casa esperando um lanche quando foi abordado. Além dele, outro jovem teria sido alvo, mas apenas Vinícius foi conduzido para a delegacia.

“Eles chegaram e abordaram eles. Com o Vinícius, eles não encontraram nada e já botaram para dentro da viatura. No outro menino, eles deram um soco no estômago. Ele voou no meio da rua. Eu perguntei para os policiais, ‘para onde estão levando ele’ e ele respondeu ‘nós vamos sumir com ele’”, disse a testemunha.

Sem advogados presentes, Vinícius teria confessado o crime na delegacia. Uma inspeção feita por policiais civis não encontrou lesões no corpo do jovem. Contudo, ele mudou a versão com a chegada da defesa.

O pedreiro negou que estivesse praticando qualquer crime e afirmou ter sido “forjado”. Segundo ele, durante a abordagem, os PMs diziam que aquela “seria a última vez que ele veria a rua e nunca mais veria a mãe e o seu filho e que a ordem seria para matar”. 

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A ordem teria partido de um terceiro policial, que mora na mesma região que Vinícius e, desde dezembro de 2023, teria passado a persegui-lo. O motivo seria o barulho da motocicleta conduzida pelo pedreiro. Insatisfeito com o volume, o policial atirou para cima em protesto em certa ocasião. De lá para cá, as ameaças aumentaram. 

Vinícius contou em depoimento que, um dia antes da prisão, o PM foi até a casa dele. Para a mãe do jovem, o policial teria dito que o mataria se o encontrasse. Se não o localizasse, seus amigos fariam isso.

Após ser preso e por insistência dos advogados, Vinícius foi levado até uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) onde foram constatadas lesões nos lábios e na boca.

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