Jovens contam que seguranças fizeram falsas acusações, deram socos e mexeram no celular de um deles, vendo fotos e mensagens
A CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) afastou seis agentes de segurança que trabalhavam no Terminal Palmeiras-Barra Funda, na zona oeste de São Paulo.
A companhia abriu um processo interno para investigar a denúncia de dois irmãos gêmeos que foram levados para uma “salinha” dentro da estação e ameaçados pelos agentes, um dos gêmeos foi agredido com socos no baço. Ouça o áudio.
Antes de serem levados para a “salinha”, onde foram separados, os irmãos, de 22 anos, foram arrastados com truculência pelo saguão da estação, na noite do dia 6 de junho, terça-feira. Os agentes foram afastados na quinta-feira, dia 8.
Um dos irmãos conta que, dentro da “salinha”, os agentes jogaram as coisas que estavam dentro da sua mochila no chão. De acordo com o jovem, os seguranças pegaram o celular dele, pediram a senha e vasculharam as fotos e mensagens. “Um deles, que eu não sei o nome, mas posso identificar, pediu duas vezes para eu colocar a mão na cabeça. Eu colocava a mão na cabeça e tomava um soco no baço“, disse.
O jovem contou que os seguranças o acusaram, injustamente, de ser usuário de drogas. “Disseram que uma garrafa de água era lança-perfume e fizeram eu beber”.
A sessão de tortura dentro das dependências da CPTM durou aproximadamente vinte minutos. “O chefe da segurança deles falou bem claramente assim, bem específico, que se eu contasse para alguém o que tinha acontecido ali, eu ia tomar um pau”.
Os jovens disseram ainda que foram gravados pelos seguranças, um pouco antes de serem liberados da “salinha”. Segundo os dois, o intuito era produzir uma prova de que não houve agressão. As imagens gravadas em vídeo pelos seguranças, de acordo com o rapaz, foram feitas na hora em que ele recolhia os seus pertences do chão.
Como começou
Um dos irmãos, que é estudante universitário, explicou que estava dentro da estação na terça-feira, quando viu os seguranças dando uma gravata e arrastando um jovem.
“Fiquei chocado com a cena e cheguei perto. Daí eu vi que era o meu irmão”, disse. Segundo o universitário, a confusão começou porque o irmão queria ir ao banheiro e foi impedido por um funcionário.
O rapaz tentou apaziguar a situação e acalmar o irmão, mas os seguranças insistiram em levar os dois para uma “salinha” na parte interna do terminal. Os irmãos se recusaram a ir com os seguranças. “Eram uns seis ou sete com cacetes e gás de pimenta, a gente não queria ir com eles porque poderíamos apanhar muito. As pessoas em volta perceberam o abusos e começaram a gritar para que nós dois fôssemos liberados”, disse o rapaz universitário.
A confusão aumentou e os dois irmãos foram levados à força para a “salinha”. Dezenas de passageiros acompanhavam a ocorrência e começaram a gravar vídeos e a chamar os seguranças de racistas.
Cerca de 30 pessoas permaneceram no local até a liberação dos dois irmãos. Os dois foram acompanhados pelos seguranças e tiveram que deixar a estação.
“O meu irmão me contou que a confusão começou do nada. Ele queria ir ao banheiro e não podia mais entrar. Daí ele ficou bravo e foi até o corredor da baldeação e lá ele conversou com a funcionária do atendimento ao passageiro, que deixou ele sair para ir até o banheiro da área externa. Quando ele voltou, essa mesma funcionária liberou a entrada dele novamente no Metrô e ele foi para o saguão da CPTM, passando de novo pelo corredor da baldeação, como todo mundo faz. Nessa, os seguranças viram ele voltando e agarraram ele, exigindo que ele pagasse uma nova passagem. Daí começaram a dizer que ele estava alterado e deram a gravata nele. Foi quando eu apareci”, resumiu o universitário.
Outro lado
A CPTM esclareceu que, para evitar atos de vandalismo, o uso do banheiro da estação é controlado a partir das 22h (os trens circulam até 23h50). A companhia também divulgou uma nota sobre o caso.
‘A CPTM não admite qualquer ato de violência durante o exercício da função dos agentes de Segurança próprios e terceirizados. A Companhia abriu investigação interna para esclarecer a ocorrência na Estação Palmeiras-Barra Funda, na noite de terça-feira, 6, e afastou os agentes envolvidos até a conclusão da apuração.
Caso seja comprovado abuso de poder e excessos cometidos durante a ação, serão tomadas as medidas administrativas cabíveis.
As equipes de segurança própria e terceirizada passarão por curso reciclagem para aprimorar o atendimento ao público’.