Após 12 horas de julgamento, prevaleceu a tese de legítima defesa e Bruno Carnelos Zangirolami foi inocentado. Caso aconteceu em Londrina (PR) em 2017
Após 12 horas, o júri popular do caso Gabriel Sartori terminou com a absolvição do réu, Bruno Carnelos Zangirolami, policial militar responsável pelo disparo que matou o adolescente, em junho de 2017, no Conjunto Cafezal, zona Sul de Londrina (PR). Zangirolami respondia por homicídio com dolo eventual, quando o agente assume o risco de produzir o resultado. Os jurados reconheceram a materialidade e a autoria, porém decidiram, por maioria dos votos, que ele agiu em legítima defesa.
Prevaleceu a tese da defesa de Zangirolami, capitaneada pelo criminalista Eduardo Miléo. “Era o pedido da defesa desde o início. Nós tínhamos a convicção de que o policial militar havia agido bem e nós estamos, obviamente, satisfeitos com esse resultado, imaginando que não poderia ser outro”, disse ele à Lume na noite desta segunda-feira.
A notícia revoltou familiares e amigos que estavam em vigília por justiça na porta do fórum. Viaturas da Choque foram acionadas para manter a segurança no local, conforme registro de um dos participantes.
Cristiane Sartori, mãe de Gabriel, falou com a reportagem aos prantos e se declarou decepcionada com a justiça. “Estou arrasada e decepcionada. Não consigo entender essa justiça. Tantos anos de luta, era tão claro esse assassinato e o cara sair de bonzinho, de defesa? Nem sei muito o que falar…”.
Durante o julgamento o Ministério Público pediu a desclassificação do crime de homicídio com dolo eventual para homicídio culposo, quando não há intenção de matar. A defesa pedia a absolvição por legítima defesa ou, alternativamente, concordava com a tese de homicídio culposo.
O advogado José Carlos Mancini, que atuou na assistência de acusação, respondeu brevemente ao pedido de entrevista e disse não descartar recorrer da decisão. “Não esperávamos a absolvição e vamos avaliar a possibilidade de recurso”, resumiu.
Relembre o caso
Gabriel Sartori foi morto no dia 15 de junho de 2017, um feriado, quando estava com dois amigos – Alison Vilalta Paes e João Vitor Oliveira Macedo – próximo ao muro do Colégio Estadual Maria José Balzanelo Aguilera, onde Bruno Zangirolami era caseiro. Nos depoimentos, os dois amigos relataram que o policial, de folga, saiu da escola com seu cachorro, avistou o grupo fumando maconha, e teria dito a frase “Isso é para vocês não fumarem essa merda na frente da minha casa”, atirando na sequência. O disparo foi feito em direção ao chão, mas a bala ricocheteou e atingiu Gabriel, que estava na linha de tiro.
Na versão de Zangirolami ele teria dado voz de abordagem antes de efetuar o disparo, e só o fez por medo de ser agredido pelos adolescentes. Durante o julgamento a defesa exibiu várias vezes uma foto de Zangirolami tentando reanimar Gabriel com massagem cardíaca e respiração boca a boca, enfatizando a não intencionalidade do crime. Ele teria, segundo os defensores, dado um tiro preventivo para proteger sua moradia e sua família. Para os jurados, esta foi a versão real.