Juiz Ezaú Messias dos Santos chamou as provas apresentadas pelos policiais de ‘frágeis e contraditórias’; um dos PMs envolvidos no caso participou de ação da Rota em Guarulhos, nesta semana, que terminou com 4 mortos
O juiz Ezaú Messias dos Santos, da Vara Criminal de Itatiba, no interior de São Paulo, colocou em xeque uma operação da Rota (Rondas Ostensivas de Aguiar), a tropa mais letal da Polícia Militar paulista, contra o tráfico de drogas, realizada naquele município em 12 de março deste ano.
De oito rapazes presos sob a acusação de comercializar entorpecentes, sete foram absolvidos pelo magistrado. Um confessou o crime e acabou condenado a dois anos e seis meses. Os sete inocentados ficaram pelo menos quatro meses presos.
Um dos policiais da Rota responsáveis pela prisão de parte dos acusados em Itatiba é o subtenente Dorival Ramos dos Santos, 52 anos, envolvido na morte de quatro rapazes na última quarta-feira (17/7), na via Dutra, em Guarulhos, na Grande São Paulo.
Na tarde de 12 de março de 2019, o subtenente Ramos e sua equipe de Rota prenderam Bruno Gabriel de Paula Godoy, 18 anos, Bruno Ribeiro Ortiz, 19, Alexandre da Silva Lima, 30, e Elvis Marques Fernandes, 25 anos.
Os quatro acusados pela equipe de Ramos foram levados pelos PMs para a Delegacia de Polícia de Itatiba e presos em flagrante. Eles tiveram a prisão preventiva decretada no dia seguinte, durante audiência de custódia. Todos negaram as acusações de estarem envolvidos com o tráfico.
Na delegacia, Bruno Gabriel foi acusado pela equipe do subtenente Ramos de portar três sacolas com drogas, um simulacro de arma de fogo, além de R$ 20,00. Segundo a versão dos milicianos da Rota, Bruno Ribeiro foi flagrado com porções de cocaína e crack, além de R$ 67 em espécie.
Os PMs disseram ainda na delegacia que Alexandre estava com porções de maconha, cocaína e crack, e R$ 74,70.
Os policiais declararam também que na casa de Elvis havia uma mochila com maconha, crack e cocaína, e um caderno com contabilidade do tráfico de drogas, além de R$ 240 e dois rádios comunicadores.
Em juízo, os quatro acusados negaram tanto o porte das drogas quanto o envolvimento com o tráfico de entorpecentes.
Eles foram absolvidos ontem pelo juiz Ezaú Messias dos Santos. O magistrado fez a seguinte observação na sentença: “As provas produzidas sob o manto do contraditório são frágeis, lacunosas e eivadas de contradições, não sendo, pois, aptas para um desfecho condenatório”.
Em outro trecho da sentença, o juiz diz: “Salta aos olhos que os réus foram presos em operação vultosa, mas ninguém estranho aos quadros policiais confirmou serem eles os donos ou responsáveis pela significativa quantidade de drogas apresentada, o que convenhamos, mostra-se deveras frágil e não se coaduna com o devido processo penal que exige certeza da imputação para a condenação”.
A operação da Rota em Itatiba contou com aos menos 100 policiais militares em 20 viaturas.
Outros rapazes foram presos no mesmo dia por equipes diferentes da Rota. Luís Henrique Elóis, 20 anos, preso pela equipe do sargento Robson Dias de Queiroz, 45, foi acusado de portar 503 porções de maconha.
O sargento Adriano Robles Carneiro, 36 anos, e sua equipe prenderam Jefferson de Santana Cândido. Segundo os PMs, ele portava 25 porções de maconha e 99 de cocaína.
No distrito policial, Jefferson negou portar drogas e ao prestar declarações em juízo, disse que o “flagrante foi forjado por ele ter antecedentes criminais”.
O tenente Paulo da Rocha Cavalheiro, 35 anos, prendeu Igor Nathan Tartari Dias, 19, e disse na delegacia que flagrou o jovem com dois tijolos de crack, pesando 2,062 kg, e 500 porções de maconha, pesando 1,1 kg.
Preso pelo sargento Rodrigo Lopes Moreira, 41 anos, o conferente Walisson Luiz Bernardes de Figueiredo, 26, foi o único detido no dia da operação da Rota, a ser condenado pelo juiz Ezaú Messias Santos.
Walisson foi flagrado com 127 porções de cocaína e confessou o crime. O magistrado o condenou a dois anos e seis meses em regime fechado, mas substituiu a pena por multa e prestação de serviço à comunidade.