Militantes e jornalistas foram impedidos de assistir à sessão no Salão Nobre da Câmara Municipal de SP. Houve tumulto e dispersão com gás de pimenta
Cerca de 20 pessoas manifestaram-se contra a homenagem que o vereador da cidade de São Paulo Ricardo Nunes (PMDB) prestou ao professor Felipe Nery e ao padre José Eduardo de Oliveira e Silva, na noite de quinta-feira (23/06), na Câmara Municipal, no centro de São Paulo. Nas redes sociais, o vereador disse que a homenagem foi pelo “excelente trabalho que desenvolveram junto ao Plano Nacional e Municipal da Educação, valorizando a família contra a ideologia de gênero”.
Para o pesquisador Lucas Bulgarelli, 25, este tipo de homenagem representa um retrocesso e busca legalizar a violência de gênero que acontece com frequência. “A gente vê adolescente ser estuprada por 33 homens e ainda têm políticos comemorando retrocessos no que diz respeito à educação de gênero”. Bulgarelli ressalta que os debates existem nas escolas e vão continuar existindo, a diferença é que a iniciativa parte dos alunos e não do programa educacional.
Já a professora Luiza Coppieters, integrante do Conselho Municipal LGBT, acredita que o evento foi uma afronta à população de São Paulo e que é mais uma tentativa de transformar religiosos em vítimas, para justificar os ataques aos LGBTs. “Querem fazer da Câmara um templo da religião deles. Nós vamos continuar lutando por uma educação laica, um Estado laico, por isso viemos aqui, tentamos disseminar o amor entre as pessoas, para que elas entendam que o ódio só leva à violência contra nós”, disse.
Os manifestantes que queriam participar da sessão que acontecia no Salão Nobre da Câmara, foram isolados com faixas de seguranças postas pela PM e impedidos de participarem da sessão. Assim como a imprensa também não pode entrar no espaço que ocorria a homenagem.
Alguns militantes que chegaram antes do grupo e conseguiram entrar na sessão foram retirados pela Polícia Militar que fazia a segurança do local. A funcionária pública Sâmia Bomfim, 26, do movimento feminista Juntas, foi uma das retiradas à força da Salão Nobre, carregada pelos braços por dois policiais militares.
“Na hora que começaram a rezar eu fiquei super assustada. Então manifestei a minha indignação. Neste momento, policiais femininas vieram conversar comigo, para eu sair mas eu disse que não havia necessidade. Pouco depois, vieram os homens do mandato do Ricardo Nunes e da Polícia para me colocarem para fora”, relatou Sâmia.
“Aqui é evento de um vereador, e não cabe manifestações. Se fosse um evento de debate, poderia ser feito esse tipo de manifestação”, explicou o Major da PM Henriques Júnior.
A retirada das militantes da sala gerou tumulto nos corredores do 8º andar da Câmara Municipal. Após empurrões e gritos vindos de manifestantes, policiais militares, guardas civis metropolitanos e de assessores do vereador Ricardo Nunes, spray de gás de pimenta foi disparado no local, o que dispersou a manifestação.
Logo após o ocorrido, o Major Henriques afirmou à reportagem que o uso do spray de pimenta não partiu da PM e que ainda se reuniria com os demais policiais militares para saber quem usou o gás. Procurado pela reportagem nesta sexta-feira, o PM Henriques disse que foi feita averiguação com os policiais militares que estavam no local, e foi constatado que nenhum PM portava o spray. Ele reconhece que foi disparado gás de pimenta, no entanto ressalta que os policiais que trabalham na Câmara não usam esse material.
A assessoria de imprensa do mandato do vereador Ricardo Nunes (PMDB), representada por Adriana Ferreira, foi procurada pela Ponte Jornalismo desde a noite de quinta-feira, enquanto ainda ocorria o evento, mas não atendeu à solicitação da reportagem.