Vinícius Fidelis Santos de Brito foi baleado por PMs em São Vicente (SP). Boletim de ocorrência diz que perícia não foi feita por causa da “revolta dos moradores”
O local onde o jovem negro Vinícius Fidelis Santos de Brito, de 24 anos, foi morto por policiais militares diante da mãe que implorava por sua vida não passou por perícia. O caso aconteceu domingo (8/12), em São Vicente, litoral de São Paulo. No boletim de ocorrência, a ausência de exames periciais foi justificada pela “revolta dos moradores” que, segundo a PM, passaram a atirar pedras e garrafas contra a equipe após o crime. Os policiais admitiram terem usado munição química para dispersar quem protestava.
Segundo os PMs, diante da confusão causada pelos moradores, a perícia não foi feita porque não havia condições mínimas de segurança para a preservação do local do crime pelos agentes.
Vídeos gravados por testemunhas registraram a súplica da mãe de Vinícius para que o filho não fosse morto. “Vocês mataram meu filho? O que isso? Vocês vão matar meu filho”, gritava a mulher.
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A Ponte teve acesso ao boletim de ocorrência. Vinicius foi cercado em um imóvel pelo tenente Carlos Augusto Pereira Andrade e o soldado Gustavo Riceti Guimarães. Carlos disparou duas vezes com uma pistola glock e Gustavo uma, com o mesmo armamento. O jovem chegou a ser socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), mas morreu a caminho do Pronto-Socorro Central de São Vicente.
No vídeo, que gerou comoção nas redes sociais, a mãe pede para entrar em um imóvel onde o jovem estaria com os PMs: “Pelo amor de Deus, gente, deixa eu entrar! Eu sou a mãe dele!” O registro mostra um PM com uma arma de cano longo saindo da casa e é possível ouvir uma voz dizendo: “Sai, sai, entra, entra.” A mulher entra em uma casa e ouvem-se os disparos.
PMs falam em confronto
A morte de Vinicius foi registrada como morte decorrente de intervenção policial no 2º Departamento de Polícia de São Vicente, pela equipe do delegado Dimas Rodaski Leão. Os PMs envolvidos na ocorrência pertencem ao 39º BPM/I, batalhão em que os agentes não têm câmeras corporais acopladas às fardas.
Para a Polícia Civil, os policiais militares contaram estarem fazendo uma operação na comunidade de Sambaiatuba, quando viram cinco homens em uma viela. Conforme o relato, três deles estavam armados e atiraram ao verem os policiais.
Os policiais então teriam revidado. O tenente Carlos disparou duas vezes com uma pistola glock. Já o sargento Bruno da Silva Rodrigues disparou seis vezes e o cabo Armando Barbosa de Souza, quatro. Ambos usaram fuzis.
Ainda conforme o relato dos PMs, o grupo correu para a comunidade abandonando uma sacola com o que aparentava ser lança-perfume, maconha e crack. Um simulacro de arma de fogo, um rádio transmissor e um caderno também foram localizados pelos agentes.
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A perseguição continuou na comunidade. Os policiais afirmam que, ao entrarem em uma viela, foram recebidos a tiros por um homem, que seria Vinicius. O cabo Edson de Oliveira Silva atirou contra ele com um fuzil. O jovem então teria corrido para um imóvel.
O tenente Carlos e o soldado Gustavo também entraram no imóvel. Na versão policial, Vinicius disparou contra os agentes e então alvo de disparos. O boletim registra que uma “arma de fogo-similar”, um revólver calibre 38, e drogas — 104 pedras de crack, 59 porções de maconha e sete tubos de lança perfume — foram apreendidos e atribuídos a Vinicius.
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As armas de todos os policiais militares envolvidos foram apreendidas. Os PMs e Vinicius também foram submetidos a exame residuográfico.
O que diz a Secretaria da Segurança Pública
A Ponte solicitou à Secretaria da Segurança Pública (SSP-SP) entrevista com os policiais envolvidos na ocorrência, com o delegado que registrou o caso e também com um porta-voz da instituição.
Também foi questionada a ausência de perícia no local, o uso de munição química e o fato da intervenção da mãe não ter sido mencionada. Não houve retorno até a publicação do texto. Caso haja, a matéria será atualizada.