Líder de presos da Penitenciária de Lucélia teria pedido para a mãe de um detento entrar com drogas e fazer sexo com ele. Corregedoria da Administração Penitenciária recebeu denúncias, mas não se manifestou até agora
Há 12 anos, Maria Aparecida Cassiano, 55 anos, peregrina em diferentes penitenciárias do interior do estado de São Paulo, por conta das diversas transferências que seu filho, Glédson Jurandir Cassiano da Silva, 30 anos, teve de fazer durante o cumprimento da pena. Apesar disso, afirma que nunca viveu nada parecido com o que enfrentou nos últimos meses.
Cida, como prefere ser chamada, conta que está sendo assediada por um preso da Penitenciária de Lucélia, onde seu filho está atualmente, e que a SAP (Secretária de Administração Penitenciária), do governo Tarcísio Freitas (Republicanos), estaria sendo conivente com a situação. Além de ter ignorado as denúncias de Cida, a direção do presídio ainda teria punido o filho dela por conta das suas reclamações.
Os assédios teriam partido de um preso chamado Adriano, que teria o cargo de “piloto” — um preso que atua informalmente como zelador de um determinado pavilhão de uma prisão. “Um dia eu fui visitar meu filho e ele disse que esse Adriano queria que levasse drogas pra ele na outra visita. Falei que não faria isso de jeito nenhum. Na visita seguinte, o próprio Adriano veio falar comigo e, além de dizer que eu teria que levar droga para dentro da cadeia, teria que fazer sexo com ele”, denuncia Cida.
A mãe afirma que procurou a direção da Penitenciária de Lucélia para denunciar o comportamento do “piloto”, mas, em vez de ter sua queixa ouvida, acabou sendo hostilizada pelos funcionários. Segundo Cida, Adriano tem grande influência não só entre os outros presos, mas também entre os funcionários da penitenciária, e por isso ela foi desacreditada. “Contei tudo o que ele tinha me proposto. Riram da minha cara e me chamaram de mentirosa. Eles acreditam na palavra desse ‘piloto’”, relata Maria Aparecida.
O filho, segundo ela, teria se revoltado com a situação e se negado a voltar para a cela. Por causa disso, teria sido posto no “castigo”, isolado dos demais. Cida diz que pediu que Glédson fosse transferido de unidade ou de pavilhão, mas novamente não foi atendida.
“Eu pedi para que ele deixasse o Raio 4, que é o que o Adriano toma conta, e fosse para o Raio 1. Em vez disso, jogaram meu filho no castigo. Ele já passou por outras penitenciárias e poderia ir para Iaras ou Bauru, por exemplo”, conta.
A advogada Aleir Oliveira, que acompanha o caso, informa que foi aberto um protocolo na Corregedoria da Secretaria de Administração Penitenciária, que até o momento não se manifestou sobre as denúncias. Ela destaca a forma ríspida com que as reclamações de Maria Aparecida foram recebidas pela direção do presídio.
“Tentamos formalmente fazer o pedido para que o filho da dona Cida fosse trocado de raio. O diretor foi muito grosso, disse que era tudo mentira e que não faria nada”, diz a advogada.
Cida diz que continuará visitando o filho, mas tem receio que as represálias a ele continuem e que ela siga assediada pelo “piloto” do Raio 4. “Eles não fizeram nada, então é possível que tudo continue da mesma forma. Eu não quero mais passar por isso”, pede.
Outro lado
A Ponte entrou em contato com a Secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo e questionou sobre as denúncias de Maria Aparecida Cassiano e se algo seria feito em relação à direção da Penitenciária de Lucélia.
Em nota a SAP diz que “A Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) esclarece que a mãe do preso em questão faz visitas alternadas ao filho e a outro sentenciado na mesma unidade e nunca relatou as queixas apresentadas. Diante da denúncia, a direção do presídio instaurou Procedimento de Apuração Disciplinar para que a visitante possa detalhar os fatos”.
(*) Atualizada em 05/4, às 18h, para acrescentar o posicionamento da Secretaria de Administração Penitenciária