Debates, grupos de trabalho e atividades culturais serão promovidos pelo grupo em lembrança aos 10 anos dos “Crimes de Maio”, ocorridos em maio de 2006 em São Paulo
Por Arthur Stabile
“Mães, é nós por nós!”. Com este grito iniciou-se o I Encontro Internacional de Mães e Familiares de Vítimas do Estado Democrático, evento organizado pelo Movimento Independente Mães de Maio, que teve início na quarta-feira (11/5) e vai até sexta-feira (13/5). Debates, grupos de trabalho e atividades culturais serão promovidos pelo grupo em lembrança aos 10 anos dos “Crimes de Maio”, ocorridos em maio de 2006 em São Paulo, quando, em reação a ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital) que mataram 43 agentes públicos, a ação de policiais e grupos de extermínio matou 493 pessoas.
Fundadora das Mães de Maio, Débora Maria da Silva liderou a mesa que abriu o encontro no Hotel San Raphael, no Largo do Arouche, centro da capital paulista. Sempre incisiva, ela ressaltou a importância da união de grupos de todo o Brasil na luta pela Justiça contra a morte de jovens da periferia. Estiveram presentes na mesa Mônica Cunha, da Rede Contra a Violência, Ana Paula Oliveira, do Fórum de Juventudes do Rio de Janeiro, Rute Fiuza, representante da Bahia da Rede Nacional das Mães de Maio, e Leila, da tribo Guarani Kayowá
“Esse encontro não tem glamour, não é de engravatadinhos, é de gente da favela para dar o papo reto. É para dar o recado a quem estava no poder e não quis nos ouvir. Não aceitamos mais de 60 mil jovens mortos por ano e os políticos sempre conformados com isso. São 10 anos, contados, 3.650 dias sem que nós possamos comer, beber ou dormir de tanto cansaço pela luta”, discursou Débora, agradecendo a presença dos participantes.
O primeiro dia reuniu os grupos de todo o país. Um ônibus levou participantes do Rio de Janeiro, os Guarani Kayowá vieram do Mato Grosso do Sul e Rute Fiuza representou o Nordeste. Em outubro de 2014, Davi Fiuza, único filho de Rute, então com 16 anos, desapareceu após ser levado por um grupo de 23 policiais. “Essa semana mesmo, tive de enfrentar sozinha pessoas em um carro descaracterizado que queriam levar a única testemunha do caso do meu filho. Eles vivem me ameaçando, mas não abaixo o rosto. Encaro e eles, sim, olham para o chão”, contou sobre a rotina diária em Salvador sem localizar Davi.
Representante do Rio de Janeiro, Mônica Cunha destacou que todas as quatro mulheres presentes na mesa que perderam filhos são negras. “Mostramos a nossa cara, não para aparecer, mas para mostrar a nossa dor. Não deveria existir a possibilidade de acontecer mais, já passou a hora dessa violência acabar”, disse, seguida de Ana Paula Oliveira, da favela de Manguinhos, na capital fluminense. “Nossos filhos mortos têm rosto e nós somos as vozes deles. Tiro força da luta para viver, é dessa corrente que tiro forças para a vida”, disse, emocionada.
As demais mães cariocas que foram ao encontro se apresentaram ao público, citando o nome de seus filhos. Cada nome era seguido do gripo “presente” vindo da platéia.
Programação
Grupos de trabalho sobre pautas de luta ocorrem na manhã desta quinta-feira (12/5), dia em que será feito o pré-lançamento simbólico do Memorial das Mães de Maio no Centro Cultural Jabaquara. Durante a noite, o grupo se locomoverá para a quadra da Gaviões da Fiel, para onde está agendado uma programação cultural com a presença do rapper Eduardo.
A sexta-feira (13/5) será o último dia de atividades, começando por uma plenária na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, na Sé, quando serão debatidos as propostas das Mães de Maio. Haverá também a entrega da “Carta das Mães de Luta”, cujo fim é o nascimento de uma sociedade mais igualitária, justa, livre e pacífica. A noite será de viagem para o Rio de Janeiro, local dos eventos de sábado (14/5) e domingo (15/5)
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