Zilda Maria de Paula, mãe de Fernando Luis de Paula, um dos 23 mortos em 2015, comemora condenação de três réus. Outro acusado passará pelo tribunal
A condenação dada aos policiais militares Fabrício Eleutério e Thiago Henklain e ao guarda civil municipal Sérgio Manhanhã, ontem (22/09), pela maior chacina de São Paulo, ocorrida em agosto de 2015, transmitiu sensação de Justiça aos familiares das 23 vítimas fatais.
Fabricio foi condenado a uma pena de 255 anos, 7 meses e 10 dias de prisão; Thiago, a 247 anos, 7 meses e 10 dias; e Sergio, a 100 anos e 10 meses. Sentenças que dão aos famíliares a certeza de que outro PM, Victor Cristilder dos Santos, também será condenado — ele recorreu da denúncia e será julgado separadamente, ainda sem data definida.
“Dá pra sentir que Justiça foi feita. Eles pegaram pena máxima, 200 anos. Ninguém fica preso esse tempo. Se falassem em prisão perpetua, beleza. Acho que, no meu pensar, eles ficarem presos 30 anos regime fechado está certo. Ainda tem mais um a ser julgado e certeza que não vai escapar”, diz Zilda Maria de Paula, mãe de Fernando Luis de Paula, uma das vítimas dos ataques. “Foi ele que matou meu filho, eu vi ele na reportagem e tenho essa impressão. Eles são criminosos, exterminadores. Usam as fardas da polícia para matar”.
Zilda participou do julgamento dos três condenados como testemunha. Sem a presença deles, relatou o que sabia e respondeu às perguntas da defesa e acusação. Foi uma semana inteira indo diariamente ao local até o anúncio da condenação, então vista como improvável pelos parentes das vitimas.
“O ambiente era carregado. Tudo indicava que eles seriam inocentados. Foi um jogo de nervos, o pessoal saia e ficávamos querendo saber, já sem esperança. Nossa preocupação era que a defesa não tinha muito argumento, estavam fracas as provas”, relata. “Eram 17h30, saiu uma das nossas, perto do portão, ouviu uma gritaria e pensamos ser briga. Ela veio, me abraçou e disse: ‘Vocês ganharam’. Estava todo mundo sem esperança, como em um dia de clássico de futebol em que estivéssemos perdendo o jogo. Aí, comemoramos. Sem agredir ninguém, beijamos as foto dos nossos filhos”, prossegue.
Ainda cabe recurso para a defesa dos policiais. Sem conhecer o trâmite legal e as possíveis alterações, Zilda se mostra preocupada com a chance de as penas caírem. Porém, dá a condenação como uma vitória por si só.
“Só de eles chegarem ao banco dos réus… Se pagarem 10, 20 anos, meu filho não vai voltar, nem os outros meninos, é dificil. Estou nesse meio há dois anos, é muito dificil pôr um PM em um banco de réus”, afirma, antes de falar dos próximos passos. ”
“Vou continuar na luta, não vou parar. Com menor intensidade, irei apoiar a luta de todas as mães. Não é porque ganhou que vou sair fora, contem comigo. Darei o mesmo apoio que me deram, vou para o Rio de Janeiro na semana que vem e, segundo a defensoria, vamos correr atrás da indenização. Essa é a próxima luta. Espero que não precise mexer mais com esses caras”, finaliza.