Marcola pede transferência para cadeia de inimigos do PCC

    Marco Camacho afirma querer ser levado a presídio dominado por rivais do PCC para provar que não é membro da facção

    O preso Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, nega ser líder do PCC (Primeiro Comando da Capital) e pede à justiça transferência para uma “cadeia de oposição” como forma de provar que não é integrante da maior facção criminosa do País.

    O pedido foi feito no último dia 24 ao juiz Gabriel Medeiros, da comarca de Presidente Venceslau, durante interrogatório judicial.

    Marcola foi ouvido como réu em audiência da Operação Ethos, que investiga o envolvimento de ao menos 40 advogados com a criação de uma célula jurídica do PCC chamada de “sintonia dos gravatas”.

    Na linguagem dos presos, ser transferido para uma “cadeia de oposição” significa ser removido para uma prisão ocupada por detentos rivais.

    Se um integrante do PCC é transferido para um presídio dominado por detentos de uma facção inimiga, ou vice-versa, esse preso pode correr sérios riscos, inclusive de ser executado pelos rivais.

    A SAP (Secretaria Estadual da Administração Penitenciária) não costuma deixar detentos rivais na mesma unidade prisional e procura fazer a separação deles justamente para evitar mortes.

    Marcola pediu remoção para uma cadeia que não tenha nenhum integrante do PCC para provar que não é líder da organização criminosa.

    Para os defensores de Marcola, ele quis dizer que gostaria de ser removido para uma cadeia neutra, sem a presença de nenhum grupo criminoso, para se livrar do estigma de líder do PCC.

    O detento deixa claro, no entanto, que não quer ser transferido para um presídio federal.

    Ele alega ao juiz que, se for removido para uma unidade federal, como ocorreu com outros presos do PCC de São Paulo, vai continuar sendo apontado como líder de facção criminosa.

    “É por isso que eu citei uma cadeia de oposição, porque eu acharia muito esquisito um promotor ou delegado me acusar de ser líder do PCC estando numa cadeia dessa”, argumenta.

    Segundo o Ministério Público Estadual, 20% dos presos recolhidos nos quatro presídios federais do País (Catanduvas-PR; Mossoró-RN; Campo Grande-MS e Porto Velho-RO) são do PCC.

    Nessa lista figuram os nomes de Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, Roberto Soriano, o Tiriça, Abel Pacheco de Andrade, o Vida Loka, e Eric Oliveira Farias, o Eric Gordão, todos acusados de pertencer à cúpula do PCC.

    O interrogatório de Marcola foi realizado durante uma videoconferência. Ele prestou depoimento no CRP (Centro de Readaptação Penitenciária) de Presidente Bernardes, onde cumpre castigo de um ano em RDD (Regime Disciplinar Diferenciado). No RDD, o preso não tem direito à visita íntima, fica duas horas diárias no banho de sol e 22 horas trancado em cela individual, sem acesso a rádio, TV, jornais e revistas.

    O juiz Gabriel Medeiros presidiu a audiência do Fórum Criminal de Presidente Venceslau, cidade vizinha a Presidente Bernardes.

    A videoconferência foi gravada. O depoimento de Marcola durou 19 minutos e 42 segundos e foi obtido com exclusividade pela Ponte.

    Marcola é apontado ainda pelo Ministério Público Estadual como o presidente do Conselho Deliberativo do PCC. Ele também negou essa acusação.

    Para o Ministério Público Estadual, o Conselho Deliberativo do PCC é responsável pela criação da célula “sintonia dos gravatas”, formada para atender aos interesses jurídicos da facção.

    Marcola ressaltou que nunca pertenceu ao PCC. O preso disse que começou a ser chamado de chefe do grupo a partir de outubro de 2002, quando sua ex-mulher, a advogada Ana Maria Olivatto, foi assassinada a mando da liderança da organização.

    Marcola acrescentou que, por causa do assassinato de Ana Olivatto, ele declarou guerra aos então líderes do PCC e, como venceu a luta contra os inimigos, passou a ser visto como líder pela massa carcerária.

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