Rapper baiano tenta furar bloqueios impostos ao hip hop fora do eixo Rio-SP com uma música que é “protesto puro”
Clóvis de Oliveira Santos Júnior é o nome no documento, mas hoje em dia ele só atende por Dark. O apelido nasceu dos amigos de rima. “O pessoal dizia: você é dark, é estranho, é escuro e aí ficou”, lembra o MC de 22 anos. Apesar de jovem, fala como se fosse um senhor de idade: “eu vi muita coisa, mas isso não é orgulho, porque se eu pudesse eu não teria visto nada”. Já que viu, resolveu transformar as experiências negativas em arte. “Talvez, se não tivesse acontecido certas paradas, eu não tava aqui no rap, conscientizando”, diz.
No final do mês passado, MC Dark viajou pela primeira vez a São Paulo, quando foi entrevistado pela Ponte. Comentou do frio e da frieza das pessoas: “Aqui todo mundo vive na própria bolha, no celular, mas gostei, vou voltar muitas vezes”. A viagem foi a trabalho: gravou uma nova música em um estúdio da capital paulista, Julgue-me. “É protesto puro”, avisa.
Os desafios de fazer rap fora do eixo RJ-SP estão em três pontos, segundo Dark: a mídia que não dá espaço para o cenário baiano, o preconceito com o sotaque e a cultura local que é voltada para o axé. “Mas estamos conseguindo furar esses bloqueios”, comemora. “Salvador merece.”
Preso por tráfico de drogas, Dark passou um ano e dois meses na cadeia. Ao sair, decidiu dar outro rumo para a vida. Começou a escrever Madrugada Fria, seu primeiro sucesso, ainda no cárcere. Acabou a letra quando já estava em liberdade. “Cada linha significa muito para mim, muita da minha vivência, muita da vivência dos nossos irmãos”, lembra. No som de MC Dark, temas como racismo e violência policial estão sempre presentes. “Tem outras pessoas que são mais distantes da cultura e acham que é violento, mas não é violento, a nossa realidade que é violenta. Eu só faço pregar a realidade.”