Conselho Regional de Medicina afirma que ação é um ‘absurdo ético e clínico’
A gestão João Doria (PSDB) pediu ontem (24/5) à Justiça a autorização para proceder a internação compulsória, ou seja, à força, de dependentes químicos que vivem na região conhecida como cracolândia, na Luz, no centro da cidade de São Paulo.
Havia a expectativa de que a decisão pudesse sair ainda ontem. O Tribunal de Justiça, no entanto, informou que, após ter recebido o pedido da prefeitura, encaminhou-o para análise do Ministério Público. Somente após o parecer da Promotoria é que o Judiciário vai tomar uma decisão.
A reportagem encaminhou à Prefeitura uma série de questionamentos em relação ao pedido judicial para internação, como a forma como ela seria feita e que equipamentos públicos receberiam os usuários de drogas. Até o fechamento da edição, a gestão Doria não havia se pronunciado.
A Defensoria Pública, que ontem conseguiu uma liminar em parceria com o MP contra a continuidade da demolição de imóveis no perímetro da cracolândia, mostrou apreensão com a intenção do município de internar pessoas à força.
“A Defensoria vê isso com muita preocupação e estuda as medidas a serem tomadas, afinal é questão de saúde e é assim que precisa ser compreendida”, afirmou o defensor público Rafael Faber.
Principal órgão médico do Estado, o Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo) também não vê com bons olhos a ação pretendida por Doria. O presidente do órgão, Mauro Aranha, afirmou ser um “absurdo do ponto de vista ético e clínico [a intenção de internação]”.
Aranha disse ainda que, para que uma internação seja realizada, a pessoa tem de estar sem condições de deliberar sobre si mesma, alertando que a princípio nem todas as pessoas que estão na cracolândia são psicóticos.
Demolição e interdição
A Prefeitura informou ontem que vai respeitar a decisão da Justiça que a proibiu de retirar moradores de imóveis antes de cadastro.
*Matéria originalmente publicada no Destak