Menino é espancado no Butantã por causa de vaga de estacionamento

    Agressor é motorista do serviço de vallet de supermercado na região, mas ainda não foi localizado; garoto segue internado e estado de saúde é estável

    A família de A.D., de 16 anos, está em vigília desde segunda-feira (04/12), quando o adolescente foi brutalmente espancado em frente à banca de jornal da família, onde trabalha, no Butantã, zona oeste de São Paulo. A auxiliar de limpeza e irmã de A., Katherine Palopoli, 27, conta que um manobrista que trabalha no vallet do supermercado Violeta, próximo à banca, discutiram, porque o irmão não teria deixado estacionarem em frente à banca. “No fim do expediente, o manobrista foi pra casa e retornou com o irmão e mais quatro homens. Dois ficaram na esquina com um taco de beisebol, caso eles tentassem correr, dois bateram em um amigo do A. que estava na banca, e o manobrista e o irmão dele vieram pra cima do meu irmão”, relata a auxiliar de limpeza.

    Katherine disse que conversou por telefone com o dono do supermercado, que teria prometido apoio à família, já que a banca de jornal está fechada desde o ocorrido. “Ele me disse que vai atrás das imagens de segurança e tentará pegar a foto do manobrista. Pedi pra ele falar com o dono da empresa de vallet CVP, na qual disse que vai conversar e exigir que eles ajudem a arcar com as despesas. Me disseram que o agressor não está mais na região”, declarou. Além da irmã, outras testemunhas afirmam que o agressor é funcionário do serviço de estacionamento terceirizado do supermercado, mas ninguém sabe o sobrenome dele, apenas que chama Guilherme.

    A mãe da vítima, Brígida Palopoli, 58, diz que seu filho é um menino normal, trabalhador e simpático. “Eu não sei como estou conseguindo resistir com tudo isso, faz três dias que eu não como, não durmo, fico totalmente destruída em ver o meu filho desse jeito, sem saber o que pode acontecer”, declarou.

    Segundo Brígida, os médicos disseram que o estado do garoto é estável. “Ele está entubado na UTI, iriam tentar tirar o tubo para ver como ele iria reagir. Mesmo com as lesões na cabeça, disseram que não teve coágulo e que ele não precisaria fazer uma cirurgia, porém também não disseram que ele está fora de risco”, explicou.

    Moradores pedem justiça

    O garoto A. é bastante conhecido na rua por trabalhar na banca com o pai. Por isso, o sentimento de buscar justiça tomou conta de moradores da Vila Gomes, no Butantã, que organizaram um protesto na noite desta quarta-feira (6/12), reunindo cerca de 50 pessoas. Além de repudiar a violência que o adolescente sofreu, os manifestantes cobraram um pronunciamento do supermercado.

    A manifestação foi organizada pelo Facebook, por um grupo que reúne 2.700 mulheres do bairro e região. “O supermercado já estava tentando abafar o caso. Muitas pessoas se comoveram com a história e além de justiça, queremos um posicionamento deles porque eles são responsáveis sim pelo o que aconteceu”, disse Priscila Kotzent, 30, administradora do grupo.

    Mercado fica em frente à banca de jornais na qual o jovem trabalha, no Butantã, zona oeste de São Paulo | Foto: reprodução/Facebook

    Priscila conta que o dono do supermercado entrou em contato com ela, mas tudo que disse era mentira. “Por meio do meu telefone, o Carlos disse que estava prestando assistência para a família do A., mas descobrimos que isso não é verdade. Só procuraram saber se ele estava bem, mas financeiramente isso não ocorreu. A banca está fechada desde segunda-feira e ela é o ganha-pão dessa família”, disse. A. estava tomando conta da banca, porque o pai dele havia passado por uma cirurgia cardíaca dias antes.

    Outro Lado

    Por telefone, Eduardo Carvalho, diretor de operações do mercado Violeta, procurou minimizar a responsabilidade do mercado no caso. “Estão querendo jogar a culpa na gente, porque a gente é maior, dá mídia. Esse cara da Vallet, me desculpa, o cara não quer assumir. A gente está rescindindo o contrato deles. Eu falei pra ele ligar na família e ele disse que ia esperar o boletim de ocorrência sair”, disse.

    Carvalho contou que a empresa contratada para prestar serviço no estacionamento, a CVP, nunca teve nenhum incidente assim antes. Pelo contrário, eram elogiados pelos clientes. Sobre a versão dos fatos, confirmou o que a irmã da vítima e outras testemunhas contaram.

    O diretor de operações ainda ressalta que é amigo da família e, inclusive, tem muito carinho pelo garoto. “A gente tem amizade de tantos anos, eu vi esse moleque nascer. Isso daí foi uma coisa que só tempo vai poder explicar. Eu falei que iria com a família fazer o boletim de ocorrência, esse cara tem que responder criminalmente, mas parece que A. está bem e já vai sair”, afirmou.

    Sobre a possível negligência de seguranças do supermercado que presenciaram a cena e nada fizeram, Carvalho defendeu os funcionários. “Um deles me disse que viu o finalzinho da briga, mas não teria como separar os dois porque não sabia se era assalto ou algo do tipo”, disse.

    Carvalho disse que está surpreso, mas que tudo que aconteceu tem que ser investigado, porque ninguém apanha de graça. “Estão falando que a briga começou porque o garoto colocou um cone na frente da banca de jornal, que era pra estacionar o carro. Eu já te adianto: papo furado. Tem dois estacionamentos lá e dificilmente esse estacionamento está lotado”.

    A reportagem tentou contato com a empresa CVP através de dois telefones. Na primeira tentativa, o homem que atendeu disse que o número não pertencia a empresa. Na segunda vez, a ligação foi atendida, mas assim que perceberam que era da imprensa, desligaram o telefone.

    A moradora do bairro Priscilla Kotzent tinha conseguido contato com um dos representantes da empresa CVP anteriormente. A ela, ele teria dito que o rapaz que agrediu A. D. foi desligado da empresa por justa causa e que vão arcar com custos médicos da vítima. Contudo, o representante teria alegado que o mercado omitiu socorro, já que tinham dois seguranças para intervir na briga.

    Atualizado em 8/12, às 22h – Alteramos a foto da reportagem porque a imagem anterior mostrava uma pessoa sem ligação com o crime narrado no texto.

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