Menino negro de 13 anos é agredido em shopping de SP

Adolescente comprava balas e teria sido injuriado e agredido por lojista ao pedir a cliente que completasse valor com R$ 2; veja vídeo da agressão, diante dos seguranças do Continental Shopping, na Lapa

Imagens registraram momento em que a lojista bate no adolescente com uma caixa. Agressão teria deixado corte próximo ao pescoço da vítima | Foto: Arquivo pessoal

A porteira Joyce da Silva Barbosa, de 33 anos, ficou arrasada ao chegar em casa após um dia de trabalho e ouvir do filho de 13 anos que ele havia sido vítima de agressão e racismo. “Ele está em casa se sentindo acuado”, lamenta.

Joyce conta que, na última quarta-feira (4/9), o adolescente foi agredido e chamado de “pretinho” de forma pejorativa por uma funcionária da loja Pirueta Premium, enquanto comprava balas no Continental Shopping, no bairro da Lapa, zona oeste de São Paulo.

Um vídeo de celular feito por um colega da vítima registrou parte da cena: o adolescente, vestindo camiseta e boné vermelhos, conversa com uma mulher que segura o que parece ser uma caixa de papelão, ladeados por dois seguranças do shopping. Não é possível entender o que a mulher diz e, em seguida, ela agride o menino com a caixa. O jovem que grava alerta então os seguranças: “Não coloca a mão no menor, tá gravado.”

Em seguida, os seguranças dizem algo e o rapaz que grava responde: “Nós tá certo, nós tava comprando.” E questiona: “Por que tá seguindo nós?”. É possível ouvir um dos seguranças responder que não os estavam seguindo, enquanto seguem atrás deles. A gravação termina de forma abrupta.

Segundo a mãe, o menino revende balas e, naquele dia, tinha ido à loja comprar os doces com um amigo. Quando foi passar no caixa, ficaram faltando R$ 2 para o pagamento. “Eles pediram para uma cliente, a cliente deu, e a funcionária não gostou”, relata. “Aí a funcionária veio xingando, com ofensas, chamou ele de ‘pretinho’.”

Em resposta, o menino teria dito: “Tia, fica quieta, eu vou pagar.” Mesmo após o pagamento, a mulher teria segurado o pescoço dele e o agredido na saída da loja, na imagem que aparece no vídeo.

Leia também: Registros de racismo têm explosão de 77,9% em 2023 em meio a queda de injúria racial

Os seguranças que seguiram o filho e seu amigo até a saída do shopping ameaçaram chamar a polícia. “Os seguranças foram acompanhando eles, como se eles tivessem feito algo, e eles ficaram com medo. Mas eles pagaram a bala”, diz, inconformada.

No dia seguinte, a porteira foi à delegacia fazer boletim de ocorrência, registrado como injúria e lesão corporal. Foi solicitado exame de corpo de delito, pois a agressão teria machucado o pescoço do menino. Joyce afirma ainda que foi à loja solicitar dados da funcionária para inserir no registro, mas o gerente teria negado — e afirmado não ter conhecimento do que havia acontecido.

Assine a Newsletter da Ponte! É de graça

Ao ligar na loja o funcionário que a atendeu disse ter provas de que o adolescente agrediu verbalmente a mulher. “Eu disse que isso não justifica uma funcionária colocar a mão numa criança”, lembra. Segundo conta, o estabelecimento ainda não deu a ela nenhuma satisfação sobre o ocorrido.

À Ponte, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) confirmou que o caso está sendo investigado pela 3ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) – Oeste e que o vídeo citado vai ser analisado. “A autoridade policial expediu ofícios aos responsáveis pela empresa e realiza a oitiva das partes para esclarecer os fatos. Além disso, foi requisitado exame pericial para a vítima”, afirma, em nota, a SSP.

O que dizem a loja e o shopping

A reportagem procurou a assessoria de imprensa do Continental Shopping, que enviou a seguinte resposta: “O shopping esclarece que está apurando os fatos com total atenção e reforça que repudia qualquer tipo de discriminação, seguindo firme em seu compromisso com a diversidade e o respeito.

A Ponte também telefonou diretamente para a unidade da Pirueta Premium. O gerente afirmou que passaria a demanda ao setor responsável, mas até o momento não houve retorno por parte da loja. Esta reportagem será atualizada caso haja resposta.

Já que Tamo junto até aqui…

Que tal entrar de vez para o time da Ponte? Você sabe que o nosso trabalho incomoda muita gente. Não por acaso, somos vítimas constantes de ataques, que já até colocaram o nosso site fora do ar. Justamente por isso nunca fez tanto sentido pedir ajuda para quem tá junto, pra quem defende a Ponte e a luta por justiça: você.

Com o Tamo Junto, você ajuda a manter a Ponte de pé com uma contribuição mensal ou anual. Também passa a participar ativamente do dia a dia do jornal, com acesso aos bastidores da nossa redação e matérias como a que você acabou de ler. Acesse: ponte.colabore.com/tamojunto.

Todo jornalismo tem um lado. Ajude quem está do seu.

Ajude
Inscrever-se
Notifique me de
0 Comentários
Mais antigo
Mais recente Mais votado
Inline Feedbacks
Ver todos os comentários

mais lidas

0
Deixe seu comentáriox