Mães reclamam de falta de informação sobre casos de Covid-19 em unidade no litoral paulista; Fundação Casa diz que identificou 18 casos entre servidores e adolescentes e que, de 45 jovens, 25 tomaram a primeira dose da vacina
Maria* conta aflita que está há um mês sem ver o filho de 17 anos que cumpre medida socioeducativa na unidade de Peruíbe da Fundação Casa, no litoral paulista. “A última vez que eu o vi foi na última semana de setembro. No dia 6 de outubro, ele disse que a visita ia ser suspensa porque tinha funcionário com Covid”, afirma.
As visitas retornaram presencialmente a cada 15 dias desde novembro do ano passado de forma gradativa, sendo que são permitidas videochamadas e ligação por telefone mediante agendamento. Em caso de confirmação da doença, a visita é suspensa. Segundo a mãe, as visitas que faria o filho foram suspensas duas vezes por conta de servidores contaminados. “Ligaram [na segunda-feira, 25) avisando que tinha nove meninos internados mesmo e outros quatro ou cinco que estavam na sala provisória para aguardar se vão ser internados ou liberados”, denuncia.
Ela também afirma que a chamada de vídeo foi suspensa nesta semana e a direção do centro teria alegado que para fazer a conexão precisava de outras pessoas no espaço. “Dava para ter um contato maior porque ele usa fone de ouvido e a gente consegue perguntar, mas por ligação fica um agente do lado, então a gente não consegue perguntar”, diz. “Meu advogado ligou para o meu filho e ele se queixou de falta de ar, que não estava se sentindo bem, então é um descaso porque a gente não sabe quando ele foi contaminado, que tratamento ele está fazendo e sem poder entrar para ver ele fica difícil”, lamenta.
Lidia* relata que veria o filho de 17 anos no próximo dia 31 de outubro, mas a direção ligou que não poderá visitá-lo. “Disseram que tinha a suspeita de um funcionário com Covid, e eu não sei se meu filho está doente”. Ela não consegue realizar videochamada por não dispor de créditos para usar no celular e ter acesso à internet. Ela conta que soube que o filho tomou a primeira dose da vacina.
De acordo com dados publicados no site da Fundação Casa, até 25 de outubro, 1045 adolescentes foram contaminados com a doença, 926 se curaram e outros 49 ainda aguardavam o resultado do teste PCR. Já de servidores, 2066 casos foram confirmados, 2058 se recuperaram do vírus e 34 faleceram por causa da doença. Não há publicação por centro socioeducativo nem índice de vacinação.
O que diz a Fundação Casa
Questionamos a administração a respeito dos casos de Covid-19 na unidade de Peruíbe, o acesso às videochamadas e a aplicação de vacinas. A assessoria informou que no sábado (23/10) durante a testagem foram identificados nove jovens e seis servidores que testaram positivo, sendo que os funcionários foram afastados e os jovens foram isolados na unidade.
Também disse que no dia 17 de outubro outros quatro jovens testaram positivo. “Todos eles – em atendimento provisório e sem imunização antes de darem entrada à unidade – estão assintomáticos e cumprem a quarentena em dormitórios separados dos demais”, informou.
Com relação à suspensão das visitas, disse que é prevista em normativa e que as videochamadas dependem da condição tecnológica da família. “Quando o familiar não consegue participar da videochamada, são oferecidas as opções de ligação telefônica ou o agendamento e realização da videochamada por meio da unidade do Conselho Tutelar da cidade de origem do adolescente”, disse.
A administração disse que há 45 jovens em atendimento na unidade Peruíbe, sendo 29 em internação já sentenciados e 16 em internação provisória (período de até 45 dias em que aguardam a sentença). Também disse que “pelo menos 25 jovens em internação tomaram a primeira dose da vacina contra a Covid-19 em 30 de agosto” e que os da internação provisória chegaram ao local recentemente ainda sem tomar a vacina.
“A gestão do CASA Peruíbe está em diálogo com o município para a aplicação da primeira dose aos não vacinados e da aplicação da segunda dose aos maiores de 18 anos, a partir de 1º de novembro, considerando a redução do prazo do intervalo da vacina da Pfizer para 21 dias (a aplicação da segunda dose para estes internos está prevista para o final de novembro)”, declarou.
*Os nomes foram omitidos a pedido das entrevistadas que temem represálias.