Militar do Exército é encontrado morto com indícios de suicídio em quartel de SP

    Antônio Domingos Bezerra Neto foi encontrado com marca de tiro de seu próprio fuzil na cabeça; relatos apontam pressão intensa e bullying recorrente

    Antônio Domingos Bezerra Neto, 21 anos, era cabo, casado e tinha um filho | Foto: Arquivo pessoal

    Um militar do Exército é encontrado morto dentro do alojamento do quartel com a marca de um tiro único de fuzil em sua cabeça. Ele estava sozinho, sem vestígios de outra pessoa no local. No mesmo dia, seu trabalho envolvia o uso do armamento para vigia. O caso aconteceu em Santana, bairro na zona norte de São Paulo, no dia 24 de julho de 2018. Segundo relatos, há suspeita de que Antônio Domingos Bezerra Neto, 21 anos, possa ter cometido suicídio.

    Neto era cabo no CPOR (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva). Segundo informações obtidas pela Ponte, era casado e tinha um filho. Naquele dia, Domingos trabalhou na guarda do quartel. Esta função é exercida com o uso de arma na guarita durante a noite e é o de maior pressão dos superiores.

    Fontes do Exército apontaram que o superior dos praças (militares de baixa patente) retirou o descanso deles naquele dia. O cabo Domingos estava sozinho no alojamento dos militares de serviço na guarda quando um único disparo foi ouvido. Segundo as informações, a arma era um fuzil Fal 762 e é difícil que dispare sozinha.

    Uma pessoa ligada ao CPOR, que pediu anonimato, explicou que o caso “tem todos indícios de suicídio”. “Para municiar e obter disparo de fuzil é preciso obedecer cinco passos. Ou seja, não é algo exatamente simples, automático. Ele estava sozinho com o armamento dele”, explica.

    De acordo com pessoas ouvidas pela reportagem, os praças são pressionados “ao extremo”, sendo comum casos de “humilhação que viram bullying”. Os relatos apontam que Antônio Domingos Bezerra Neto não demonstrava nenhum tipo de abatimento psicológico ou problemas em lidar com a pressão do trabalho no Exército.

    O CPOR (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva) abriga militares de baixa patente que, em sua maioria, também cursam faculdade junto do serviço militar. Os serviços são divididos de acordo com a especialidade de cada militar, como cozinha, mecânica ou operacional. Este último envolve vigia de guarda.

    Em nota divulgada à imprensa, o CMS (Comando Militar do Sudeste), núcleo do Exército responsável pelo quartel em Santana, o caso ocorreu por volta de 13h do dia 24 de julho. Antônio foi encontrado sozinho no chão com um tiro na cabeça, sendo socorrido pela equipe médica do quartel e, apoiada pelos Bombeiros e pelo helicóptero Águia da PM (Polícia Militar de SP), levado ao Hospital do Mandaqui, onde morreu.

    “O Comandante do CPOR-SP instaurou um Inquérito Policial Militar (IPM) para apuração do fato e suas circunstâncias”, limitou-se a explicar o CMS que, questionado pela reportagem, não deu explicações detalhadas sobre o caso.

    Ponte fez as seguintes perguntas ao CMS:

    As investigações do CMS cogitam suicídio como possível causa?
    Algum tipo de medida específica foi tomada após a morte?
    É possível acontecer um disparo acidental de fuzil dentro do alojamento?
    Os militares recebem acompanhamento psicológico no quartel?
    Recebemos informações de que são recorrentes os casos de humilhações praticadas pelos superiores com os praças. É comum a prática de bulliyng em quartéis do Exército?
    Temos a informação de que, no dia da morte do cabo Domingos, o oficial responsável retirou o descanso dos soldados. O CMS confirma a informação?
    Quais medidas foram tomadas pelo CMS junto à família do militar após a sua morte?
    Casos de mortes durante o trabalho remetem a pensão à esposa ou dependente do praça? Caso sim, qual valor específico para este caso?

    Já que Tamo junto até aqui…

    Que tal entrar de vez para o time da Ponte? Você sabe que o nosso trabalho incomoda muita gente. Não por acaso, somos vítimas constantes de ataques, que já até colocaram o nosso site fora do ar. Justamente por isso nunca fez tanto sentido pedir ajuda para quem tá junto, pra quem defende a Ponte e a luta por justiça: você.

    Com o Tamo Junto, você ajuda a manter a Ponte de pé com uma contribuição mensal ou anual. Também passa a participar ativamente do dia a dia do jornal, com acesso aos bastidores da nossa redação e matérias como a que você acabou de ler. Acesse: ponte.colabore.com/tamojunto.

    Todo jornalismo tem um lado. Ajude quem está do seu.

    Ajude

    mais lidas